Profeta, ou o que quer que sejas!
Ave ou demônio que negrejas!
Profeta sempre, escuta: Ou venhas tu do inferno
Onde reside o mal eterno,
Ou simplesmente náufrago escapado
Venhas do temporal que te há lançado
Nesta casa onde o Horror, o Horror profundo
Tem os seus lares triunfais,
Dize-me: “Existe acaso um bálsamo no mundo?”
E o Corvo disse: “Nunca mais.
(Trecho do poema “O Corvo”, traduzido por Machado de Assis)
POE – Cronologia da vida e das obras
Considerado o principal precursor da literatura de horror moderna, o romancista e poeta americano Edgar Allan Poe nasceu em Boston, no dia 19 de Janeiro de 1809, filho dos modestos atores itinerantes David Poe e Elizabeth Arnold. Com apenas 2 anos de idade, vive uma tragédia familiar: o falecimento da mãe com tuberculose e o abandono do pai, que desaparece sem deixar vestígios. O pequeno Poe é então acolhido pela família de John Allan, um tio rico e comerciante de Richmond, Virgínia (mesmo nunca sendo formalmente adotado, Edgar usará quando adulto o sobrenome Allan). Em 1815, a família Allan muda-se para a Inglaterra, onde Poe inicia seus estudos. Cinco anos depois, de volta a América, Edgar Allan Poe conhece o jovem Robert Stanard. Poe escreveu seus primeiros poemas aos 13 anos, provavelmente inspirado pelos sentimentos em relação à mãe de seu amigo Robert, Jane Stanard. Poe e a Sra. Stanard vivem uma relação ardente e controversa, que culmina numa nova tragédia: no ano de 1824, Jane enlouquece e se suicida, abalando de modo intenso o adolescente Poe. Inconformado, ele passa a rondar à noite o túmulo de Jane, solitário e em silêncio. No futuro, o garoto dedicaria a Jane a poesia To Helen (Para Helena).
Os próximos anos são de grande dificuldade para Allan Poe. Seu primeiro amor estava morto, a Sra. Allan definhava com graves problemas de saúde e seu tio, além de se encontrar em apuros financeiros, frequentemente se envolvia com outras mulheres. Numa discussão familiar, Poe toma partido da Sra. Allan, rompendo relações com o “pai adotivo”. Na vida acadêmica, a situação não era muito diferente: apesar do ótimo desempenho nos estudos, dívidas por envolvimento com jogos e os excessos da vida boêmia obrigam Poe a abandonar a faculdade.
Algum tempo depois, Poe vive uma nova decepção amorosa. No ano de 1826, apaixona-se por uma vizinha chamada Elmira Royster. Seu sentimento é correspondido, mas a jovem é obrigada pelos pais a casar-se com outro. No próximo ano, numa atitude impulsiva, alista-se no exército. Mas é rapidamente expulso por indisciplina.
Foi no verão do próximo ano, em 1827, que Edgar Allan Poe publica o seu primeiro livro de poesias, chamado Tamerlane and other poems, by a Bostonian (Tamerlão e Outros Poemas). A obra passou despercebida, pela baixa tiragem e má distribuição. Frances Allan, sua tia e mãe de criação, vem a falecer nesta mesma época. Em 1830, Allan Poe tenta novamente a carreira militar, ingressando na Academia West Point. Mas sem a ajuda financeira do tio, com quem não falava há um bom tempo, não consegue se formar. Publica então, outra coletânea de poesias intitulada Poems.
Sem dinheiro e sem família, Poe busca abrigo na modesta casa de uma tia, em Baltimore. Lá é muito bem recebido, conhecendo sua avó paterna e sua prima Virgínia Clemm, uma garotinha de apenas sete anos de idade.
O ano de 1833 marca o início de uma intensa atividade jornalística. Neste mesmo ano, Poe vence um prêmio de literatura instituído pelo jornal Philadelphia Saturday Visitor, no valor de 50 dólares, com o seu conto Manuscript Found in a Bottle (Manuscrito Encontrado dentro de uma Garrafa). Apesar do momento profissionalmente produtivo, Poe ainda vive na miséria e frequentemente abusa do álcool. No ano seguinte, John Allan morre, ignorando Poe em seu testamento.
O diretor do jornal Philadelphia Saturday Visitor, vendo a situação de pobreza em que Poe vive, consegue-lhe um lugar de vice-diretor do Southern Literary Messenger. Entretanto Poe permanece pouquíssimo tempo no cargo, devido às bebedeiras e a sua constrangedora morbidez já característica.
Em 22 de setembro de 1835, Edgar Allan Poe casa-se secretamente com sua prima, Virginia Clemm, então com 13 anos de idade. Mais confiante, Poe é contratado por jornais de Nova York e da Filadélfia, conseguindo rapidamente respeito e admiração entre os colegas de profissão. Aproveitando a oportunidade, publica vários contos, poesias e resenhas literárias, entre os quais o conto Berenice e Morella.
O final dos anos 30 e o início da nova década foram de grande atividade literária: Poe escreve os contos The Fall of the House of Usher (A Queda da Casa de Usher), Willians Wilson (Willians Wilson), The Murders in the Rue Morgue (Os Crimes da Rua Morgue), neste último criando o personagem-detetive Dupin, predecessor de Sherlock Holmes (Poe acabava de inventar também o gênero Policial). Lança ainda sua primeira coleção de contos: Tales of Grotesque and Arabesque (Contos do Grotesco e Arabesco). Assumiu neste mesmo ano, o posto de chefe de redação da revista Graham’s Magazine.
Edgar Allan Poe completa, em 1844, o seu famoso poema The Crow (O Corvo), no qual vinha trabalhando desde 1842. Após algum tempo de prosperidade, em torno de 1845, Virgínia adoece com tuberculose e Poe volta a beber.
Mesmo num estado de depressão, Poe publica seus textos mais significativos, como The Pit and The Pendulum (O Poço e o Pêndulo), The Oval Portrait (O Retrato Oval), The Tell-tale Heart (O Coração Revelador), The Black Cat (O Gato Preto) e The Gold Bug (O Escaravelho de Ouro). Numa repetição aos problemas familiares de seus pais de criação, Poe se envolve com outra mulher, a poetisa Frances Osgood. Em 1848, Virginia morre e Poe mergulha num estado de total desespero, passando a maior parte do tempo embriagado.
Edgar Allan Poe foi encontrado, em outubro de 1849, num profundo estado de embriaguez. Levado a um hospital, vem a falecer três dias depois. Em 12 de março de 1856, foi publicado Histórias Extraordinárias, uma seleção de contos traduzidos por Charles Baudelaire, que escreve também uma introdução sobre sua vida e sua obra. No Brasil, o livro recebeu diversas traduções e adaptações, entre elas uma versão da “extraordinária” escritora ucraniano-brasileira Clarice Lispector. O mais famoso poema de Poe, O Corvo, foi traduzido para o português pelos dois maiores autores lusófonos: o brasileiro Machado de Assis e o poeta português Fernando Pessoa.
Poe no Cinema, por Roger Corman
É impossível falar de Edgar Allan Poe no cinema sem mencionar o também lendário Roger Corman. A parceria póstuma entre Poe e Corman tem início em 1960, com A Queda da Casa de Usher. Com roteiro de Richard Matheson (o famoso autor de I am a Legend, adaptado no cinema como Mortos Que Matam e A Última Esperança Sobre a Terra) e brilhante atuação Vincent Price, o longa abre com chaves de ouro a série de transposições para o cinema dos textos de Poe com direção de Corman.
O cineasta americano Roger Corman ficou famoso por dirigir filmes com pouco dinheiro e em pouco tempo. Para se ter uma ideia, ele dirigiu cinco obras no ano de 1960: além de A Queda da Casa de Usher, dirigiu também um obscuro filme de guerra chamado Ski Trop Atack, o Sci-fi horror A Mulher Vespa (The Wasp Woman), o clássico A Pequena Loja dos Horrores (The Little Shop of Horrors) e A Última Mulher sobre a Terra (Last Woman on Earth).
No ano seguinte foi a vez do conto O Poço e o Pêndulo. Novamente a reunião do trio Corman/Matheson/Price resulta num grande filme. A trama do conto, que narra as torturas sofridas por um homem acusado de bruxaria pela Inquisição, foi ampliada pelo roteirista Richard Matheson sem comprometer as características do texto original, mantendo a essência de Edgar Allan Poe: o obscuro, o medo e outros aspectos interiores da mente humana.
Em 1962, Roger Corman dirigiu O Enterro Prematuro, adaptação do conto Premature Burial. O roteiro ficou a cargo de Charles Beaumont (que no futuro seria responsável por diversos episódios do Além da Imaginação e pelo texto adaptado de As 7 Faces do Dr. Lao). A ausência de Price é compensada, em partes, pelo bom desempenho do ator Ray Milland, que curiosamente dirigiria o delicioso clássico Sci-fi Pânico no Ano Zero! (Panic in Year zero!), neste mesmo ano. O Enterro Prematuro foi eficiente e manteve a mesma qualidade técnica das outras adaptações de Corman. A trama narra o drama de um homem que sofre de catalepsia e tem medo de ser enterrado vivo como o seu pai. O pesadelo torna-se realidade e ele planeja uma terrível vingança contra aqueles que o enterraram prematuramente.
Ainda no ano de 1962, Corman dirige Muralhas do Pavor (Tales of Terror). Em forma de episódios foram adaptados outros três contos de Poe: Morella, O Gato Preto e O Estranho Caso do Sr. Valdemar. Ao notável grupo Corman/Matheson/Price somava o ótimo ator austro-húngaro Peter Lorre. Infelizmente Price e Lorre não contracenariam juntos, já que protagonizavam episódios diferentes.
O encontro, no mesmo quadro, entre Lorre e Price aconteceria no ano seguinte, em O Corvo. Adaptação mais ousada de Corman, já que se trata de um texto poético e não de um conto. Novamente com roteiro de Matheson, O Corvo reúne um elenco “infernal”: além dos carismáticos Vincent Price e Peter Lorre, juntava-se ao elenco o ícone Boris Karloff e o novato Jack Nicholson. A interpretação de Corman/Matheson para o épico poema de Poe (O Corvo possui mais de cem versos) abusa um pouco do humor, mas não chega a comprometer o bom resultado final.
No ano seguinte Corman dirigiria Máscara Mortal aka Orgia da Morte (Masque Of The Red Death), baseado no conto A Máscara da Morte Rubra. Com roteiro de Charles Beaumont e R. Wright Campbell, e elenco encabeçado por Vincent Price, o filme é considerado por muitos críticos como a obra-prima de Corman. Price interpreta o maquiavélico príncipe Próspero, adorador de Satanás. O príncipe promove em seu castelo uma grande festa à fantasia enquanto assiste aos aldeões morrerem de uma estranha doença chamada morte vermelha. Uma misteriosa figura, vestida de vermelho, adentra então os aposentos do castelo cobrando o que lhe é de direito.
O conto Tomb of Ligéia foi levado ao cinema por Corman no mesmo ano de 1964, recebendo o título de Túmulo Sinistro no Brasil. Novamente no papel principal, o já especialista em Poe, Vincent Price. O roteiro foi escrito pelo cineasta Robert Towne (na ativa até hoje, Towne dirigiu recentemente Pergunte ao Pó, adaptação do livro homônimo de John Fante, estrelada por Colin Farrell e Salma Hayek). O enredo de Túmulo Sinistro narra o drama de um nobre, que se veste sempre de preto e é obcecado pela esposa morta.
É curioso que os melhores filmes da carreira do cineasta Roger Corman estejam entre as adaptações das obras de Poe. Corman ficou famoso como o “Rei dos Filmes B”. Em sua extensa filmografia constam 55 trabalhos como diretor, 33 participações como ator, e pasmem, mais de 380 longas como produtor. Corman também ficou conhecido como produtor ao lançar diretores (hoje consagrados) como Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Peter Bogdanovich, Jonathan Demme, James Cameron, Joe Dante e Ron Howard. Corman também deu oportunidades para os futuros astros Jack Nicholson, Robert De Niro e Ellen Burstin.
Deste maravilhoso ciclo cinematográfico de Poe por Roger Corman, resultou um conjunto de obras memorável, repleto de interpretações geniais. Vincent Price teve seu talento consolidado e seu nome ligado para sempre ao gênero “fantástico”, tornando-se um dos atores mais cultuado de todos os tempos.
Poe por dois Mestres do Horror
Um projeto ambicioso, desenvolvido pelo mestre do horror italiano Dario Argento (Suspiria), pretendia reunir quatro grandes cineastas especialistas em cinema fantástico: George Romero (A Noite dos Mortos-Vivos), John Carpenter (Halloween – A Noite do Terror) e Wes Craven (A Hora do Pesadelo), além do próprio Argento. O conceito seria desenvolver um longa-metragem partindo de uma história de Edgar Allan Poe. Infelizmente, Craven e Carpenter abandonaram o projeto, restando à dupla Argento/Romero (que trabalharam juntos em A Noite dos Mortos-Vivos) a conclusão da obra.
Um único filme, dividido em dois episódios inspirados em contos de Edgar Allan Poe, um dirigido pelo Mestre dos Giallos Italianos e outro pelo Pai de Todos os Zumbis, não parecia má ideia. Romero ficaria com O Estranho Caso do Sr. Valdemar e Argento com O Gato Preto. Assim chegaria aos cinemas, em 1989, Dois Olhos Satânicos (Due occhi diabolici).
Entretanto, como um todo, o resultado não satisfez as expectativas dos fãs. Mas vale, no mínimo, como um grande exercício de reflexão cinematográfica. Ambos os diretores, o americano Romero e o italiano Argento, são cultuados por uma legião de fãs, ainda que possuam estilos completamente distintos. Este contraste de estilos fica evidente em Dois Olhos Satânicos. A direção de George Romero, no episódio O Estranho Caso do Sr. Valdemar, é convencional e sem surpresas. Tudo bem que o conto é de difícil adaptação, mas o Pai de Todos os Zumbis acaba pecando pela simplificação da trama, deixando de lado o drama psicológico do personagem apresentado no conto de Poe. A trama do Sr. Valdemar, que morre durante uma sessão de hipnose e não consegue abandonar o mundo dos vivos é transportada para época contemporânea. Romero acrescentou ainda ao enredo cobiça e adultério, mas o resultado foi apenas mais um filme de zumbis de Romero, com muito pouco de Poe.
Já Dario Argento apostou num conto mais clássico, o famoso O Gato Preto. Assim, como Romero, Argento transporta a trama para o final dos anos 80. Argento já sai na frente quando escolhe o ótimo Harvey Keitel (Cães de Aluguel), interpretando o protagonista Usher (referência a outro conto de Poe, A Queda da Casa de Usher). Inspirado, Argento consegue, com criatividade, com os enquadramentos e os cortes que lhe são características e com a trilha sonora marcante de Pino Donnagio, compor o cenário que remete ao clima gótico e o psicológico presente na obra de Poe. No enredo, Usher é um fotógrafo especializado em crimes brutais. Tudo está normal até que sua mulher, Annabel (referência ao poema Para Annabel), adotar uma gata preta. Usher já de imediato nutre um ódio mortal pelo animal. Matar o bichinho será apenas o primeiro passo em direção a loucura. Como o próprio George Romero definiu: “um maravilhoso poema de amor a Poe”.
As primeiras adaptações
Nos primórdios do cinema, no longínquo ano de 1909, o francês Henri Desfontaines adaptou pela primeira vez o conto O Poço e o Pêndulo. Nos anos seguintes, praticamente toda a obra de Poe foi adaptada em dezenas de curtas e médias-metragens, nos Estados Unidos e na França, principalmente.
Mas a primeira adaptação que merece uma atenção maior aconteceu no ano de 1928, quando o polonês Jean Epstein dirigiu o filme que se tornaria um clássico da vanguarda francesa: A Queda da Casa de Usher. O roteiro foi escrito pelo mais importante cineasta espanhol de todos os tempos, Luís Buñuel (de O Anjo Exterminador). Foi o primeiro crédito do cineasta em uma grande produção. A Queda da Casa de Usher foi lançado no Brasil pela distribuidora Magnus Opus.
Em 1932 foi a vez de a Universal produzir sua versão para Os Crimes da Rua Morgue, com Bela Lugosi como protagonista. O estúdio seria ainda responsável, nos anos seguintes, por mais duas adaptações: O Gato Preto e O Corvo (ambos com a dupla Boris Karloff e Bela Lugosi).
A infeliz versão de Poe por Fellini e seus amigos intelectuais
Dividido em episódios, o medíocre Histórias Extraordinárias (Histoires extraordinaires/Tre passi nel delirio/Tales of Mystery and Imagination/Spirits of the Dead, França/Itália, 1968, lançado recentemente no Brasil pela Cinemagia) foi dirigido pelo italiano Federico Fellini e seus amigos cineastas-intelectuais europeus Roger Vadim e Louis Mille.
Vadim é o responsável por Metzengerstein. Embora relativamente fiel ao desenrolar do conto original, o diretor parece oprimir qualquer referência ao clima gótico dos contos de Poe. A trama conta a história de uma nobre perversa que esnoba o amor de um primo pobre. O interessante neste episódio é a participação dos irmãos Jane (esposa do diretor, na época) e Peter Fonda, interpretando o casal de protagonistas, numa jogada que reforçava a ideia de incesto do roteiro.
O segundo segmento, Willian Wilson, dirigido por Louis Malle é um pouco mais eficiente. Talvez pela beleza de Alain Delon (considerado por muito tempo o homem mais bonito do mundo) e a lindíssima Brigitte Bardot. Malle consegue até criar um clima sombrio e assustador para a releitura do mito literário do duplo: a sombra que se desprende do dono e passa a ter uma vida independente, na psicanálise, uma extensão do eu que, uma vez revelada, condena o indivíduo a um auto-enfrentamento.
Já Fellini também esquece Poe em Toby Dammit. O episódio conta a história de um ator decadente (interpretado por Terency Stamp, em ótima fase) que vai até a Itália filmar um western católico! O cineasta, num momento de virtuosidade, abusa do nonsense e da estilização visual em Toby Dammit. O resultado foi um curta pouco agradável e de difícil digestão.
Histórias Extraordinárias é considerada pelos críticos a adaptação mais autoral dos contos de Poe. Isso pode ter um significado bom para os cinéfilo-intelectuais apreciadores do cinema europeu de arte. E um significado medíocre para os apreciadores de Poe e do verdadeiro cinema fantástico.
Influenciando o universo artístico
Na literatura, Edgar Allan Poe praticamente inventou o gênero fantástico, influenciando diretamente escritores como Stephen King, Mallarmé, Arthur Rimbaud, Paul Valéry, Dostoiévski, Lautréamont, Júlio Verne e Clive Barker.
Nos quadrinhos, inspirou o escritor e artista plástico James O’Barr a criar o personagem gótico Eric Draven (D-raven), levado aos cinemas em 1994 pelo diretor Alex Proyas (O Corvo). O diretor presta uma homenagem ao poeta quando o ressuscitado Draven recita versos de Poe enquanto vinga seus assassinos.
Na música, bandas como o Black Sabbath ou o gutural Nick Cave têm como influência direta o universo sombrio de Poe. Os próprios Beatles prestam homenagem a ele na capa de Sargent Pepper´s e na letra I am the Walrus.
“Para a muito estranha embora muito familiar narrativa que estou a escrever, não espero nem solicito crédito. Louco, em verdade, seria eu para esperá-lo, num caso em que meus próprios sentidos rejeitam seu próprio testemunho. Contudo, louco não sou e com toda a certeza não estou sonhando. Mas amanhã morrerei e hoje quero aliviar minha alma. Meu imediato propósito é apresentar ao mundo, plena, sucintamente e sem comentários, uma série de simples acontecimentos domésticos. Pelas suas conseqüências, estes acontecimentos, me aterrorizam, me torturaram e me aniquilaram. Entretanto, não tentarei explicá-los. Para mim, apenas se apresentam cheios de horror. Para muitos, parecerão menos terríveis do que grotescos. Mais tarde, talvez, alguma inteligência se encontre que reduza meu fantasma a um lugar comum, alguma inteligência mais calma, mais lógica, menos excitável do que a minha e que perceberá nas circunstâncias que pormenorizo com terror apenas a vulgar sucessão de causas e efeitos, bastante naturais.” (primeiro parágrafo de “O Gato Preto”)
Enfim, no cinema foram inumeráveis as adaptações da obra de Poe. Umas apaixonadas, outras oportunistas. Mas todas válidas dentro de um contexto artístico. Vale aqui um adendo deste que vos escreve, que reflete mais uma opinião pessoal do que exatamente uma regra: “A versão de uma obra literária para o cinema não precisa necessariamente ser fiel em todos os detalhes. Quando um filme tenta ser uma “cópia” idêntica a um texto, na maioria das vezes, o resultado soa como uma redundância artística, principalmente para quem conhece o original. A criatividade dos diretores, roteiristas e da equipe envolvida na produção acaba sendo totalmente suprimida. No entanto, é importante que o verdadeiro universo do autor do texto adaptado possa ser reconhecido na obra cinematográfica finalizada.”
Edgar Allan Poe é um dos autores mais importantes da literatura universal. Seus contos tornam-se obrigatórios, quando procuramos conhecer e entender a fonte em que bebem os mestres do horror moderno (sejam da literatura ou do cinema).
(os contos de Poe são de domínio público e facilmente encontrados na internet)
Relação de contos publicados:
- 1833 – Message Found In A Bottle (1833)
- 1834 – The Assignation (1834)
- 1835 – Berenice (1835)
- 1835 – King Pest – A Tale Containing An Allegory (1835)
- 1835 – Scenes From Politian (1835)
- 1837 – Silence – A Fable (1837)
- 1838 – Ligeia (1838)
- 1839 – The Fall Of The House Of Usher (1839)
- 1839 – William Wilson (1839)
- 1841 – A Descent Into The Maelstrom (1841)
- 1841 – The Murders In The Rue Morgue (1841)
- 1842 – The Masque Of The Red Death (1842)
- 1842 – The Pit And The Pendulum (1842)
- 1843 – The Black Cat (1843)
- 1843 – The Gold-Bug (1843)
- 1843 – The Tell-Tale Heart (1843)
- 1845 – The Facts In The Case Of M. Valdemar (1845)
- 1845 – The Purloined Letter (1845)
- 1846 – The Cask Of Amontillado (1846)
- 1850 – A Tale Of The Ragged Mountains (1850)
- 1850 – Bon-Bon (1850)
- 1850 – Diddling – Considered As One Of The Exact Sciences (1850)
- 1850 – Eleonora (1850)
- 1850 – Four Beasts In One- The Homo-Cameleopard (1850)
- 1850 – Hans Phaall (1850)
- 1850 – Hop-Frog Or The Eight Chained Ourang-Outangs (1850)
- 1850 – Landor’s Cottage – A Pendant To “The Domain Of Arnheim” (1850)
- 1850 – Lionizing (1850)
- 1850 – Mellonta Tauta (1850)
- 1850 – Mesmeric Revelation (1850)
- 1850 – Metzengerstein (1850)
- 1850 – Morella (1850)
No texto você fala que em “Muralhas do Pavor” o Peter e o Vincent não contracenam porque aparecem em contos diferentes, mas o Vincent aparece nas três histórias, inclusive na do Peter. Gostei bastante do texto, bem completo.