Mr. Mercedes – 1ª Temporada (2017)

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Mr.Mercedes - 1ª Temporada
Original:Mr. Mercedes - Season 1
Ano:2017•País:EUA
Direção:Jack Bender, John David Coles, Kevin Hooks, Laura Innes
Roteiro:David E. Kelley, Stephen King, Sophie Owens-Bender, Dennis Lehane, Bryan Goluboff, A.M. Homes
Produção:Peter Chomsky, Kate Regan, Ellen Stafford, Brian Walsh
Elenco:Brendan Gleeson, Harry Treadaway, Jharrel Jerome, Robert Stanton, Breeda Wool, Holland Taylor, Kelly Lynch, Scott Lawrence, Ed Anderson, Mary-Louise Parker, Justine Lupe, Nicole Barré

Um dos melhores produtos da TV em 2017 foi, sem dúvida, Mr. Mercedes. Inspirado no primeiro livro da trilogia Bill Hodges, de Stephen King, a série, desenvolvida por David E. Kelley (Big Little Lies), teve sua estreia no dia 9 de agosto de 2017, apresentando no prólogo a cena de abertura também descrita no livro: durante um feira de emprego, em que desconhecidos se protegem do frio e dialogam sobre suas intenções, um veículo avança sobre o público, provocando um massacre sangrento, na mescla de asfalto com corpos despedaçados pelos pneus caríssimos de um Mercedes Bens conservado. Enquanto tentava compreender a ação violenta, o detetive Bill Hodges, caracterizado de maneira absoluta por Brendan Gleeson (Assassin’s Creed, 2016), não imaginava que estaria diante do caso que praticamente traria sua ruína psicológica.

Nas páginas hábeis de King, o protagonista, um homem gordo e depressivo em decorrência da não descoberta da identidade do vilão, está próximo de se despedir da vida, alternando programas de auditório com bebidas alcóolicas. Gleeson desenvolveu um ex-policial mau humorado, bêbado e agressivo, sem deixar de criar a apatia necessária para que o público o considere um velho amigo rabugento. Se nas páginas, o começo já traz a carta do inimigo, o tal Mr. Mercedes, que lhe propõe um contato constante através de uma rede social chamada Blue Umbrella, a série atrasa esses detalhes pela possibilidade de alternância entre passado e presente, permitindo que o público se familiarize com as dores do policial, enquanto se esquiva do interesse sexual de sua simpática vizinha Ida (Holland Taylor) e pede o apoio tecnológico do jovem e esperto jardineiro Jerome (Jharrel Jerome).

Ao rever velhas pistas, por conta da provocação do inimigo, Hodges se aproxima da família Trelawney, Olívia (Ann Cusack) e Janey (Mary-Louise Parker), e de seu ex-parceiro Pete (Scott Lawrence, de No Olho do Tornado, 2014), bem diferente da versão literária, e vai unindo as peças que possam permitir uma compreensão do passado e uma busca pelo responsável por sua derrocada. Sem saber, todos os envolvidos estão bem próximos do motorista e que esconde sua identidade na condução de um carro de sorvetes e como funcionário de uma grandiosa loja de informática.

O antagonista Brady Hartsfield (Harry Treadaway, de Penny Dreadful) é a representação perfeita do que fora idealizado por King. Com um olhar esbugalhado e sua frieza antissocial, ele demonstra uma inteligência até superior à versão atrapalhada da literatura, mas eficientemente incômoda. O contato incestuoso com a mãe, Deborah (Kelly Lynch), não abrandado pela versão para a TV, dá o tom melancólico de um personagem que não relaciona suas ações, mesmo quando criança, ao tratamento estranho da progenitora. Ainda assim, com a pressão psicológica em casa e pelo chefe, Robi (Robert Stanton), Brady consegue encontrar uma quase parceira na colega Lou Linklatter (Breeda Wool), constantemente vítima de homofobia.

Bem dirigida por Jack Bender, John Coles, Laura Innes e Kevin Hooks, e com uma trilha fantástica, a série agride mais que as páginas, acrescentando mortes sangrentas, mesmo as imaginadas, e algumas boas doses de suspense. As mudanças, seja no assassinato de uma personagem carismática, na participação da polícia no caso ou no evento que vai trazer a segunda investida de Brady, funcionam bem, ainda que o final perca um pouco do clímax que o infernauta tanto aguardava. Inclusive, Hodges tem uma sequência mais heroica nas telas do que a passividade de um homem próximo do enfarte.

Também vale mencionar a caracterização cuidadosa de certos personagens, num diálogo perfeito com a obra. A mordida nos lábios de Janey e os trejeitos esquisitos de Holly (a talentosa Justine Lupe), por exemplo, mostram que houve uma tentativa de aproximação dos pormenores de Mr. Mercedes, sem que as diferenças prejudiquem em demasia o resultado final. Mesmo assim, a série teve mais acertos do que equívocos e soube representar de maneira satisfatória o thriller literário de Stephen King, matando-o numa das cenas mais intensas do programa. Sem atropelos na narrativa, Mr. Mercedes merece uma oportunidade tanto na literatura quanto na versão para as telas!

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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