Under the Dome
Original:Under the Dome- Season Two and Three
Ano:2014/2015•País:EUA Direção:Jack Bender, Kari Skogland Roteiro:Stephen King, Brian K. Vaughan, Adam Stein, Peter Calloway, Scott Gold, Caitlin Parrish Produção:Stephen King, Steven Spielberg, Brian K. Vaughan Elenco:Mike Vogel, Rachelle Lefevre, Nathalie Martinez, Britt Robertson, Alexander Koch, Colin Ford, Dean Norris, Mackenzie Lintz, Nicholas Strong, Aisha Hinds, Jolene Purdy, Samantha Mathis, John Elvis |
(O texto a seguir contém spoilers da série Under the Dome e do livro Sob a Redoma)
Aqueles que conseguiram chegar ao fim da série Under the Dome, baseada superficialmente na obra-prima homônima de Stephen King, puderam testemunhar um dos produtos mais horrorosos que a televisão já conseguiu produzir. Uma sensação de perda de tempo acentuada por um enredo desfigurado, desorientado, com personagens mal concebidos e irritantes, efeitos especiais risíveis – e, olha, teve a produção de Steven Spielberg – e furos tão grandes que poderiam permitir a fuga da redoma há muito mais tempo.
Desenvolvida por Brian K. Vaughan, que pulou fora do barco antes da segunda temporada, Under the Dome foi anunciada em novembro de 2009, mas só começou a se estruturar realmente em 2011, com o interesse do canal Showtime, através de seu presidente David Nevins. No final de 2012, a série ganhou boa parte de sua roupagem, como a intenção inicial de organizá-la em somente treze episódios. Com o sucesso estabelecido na primeira temporada, tendo até divulgação no Super Bowl de 2013, logo já era anunciada uma segunda, incluindo o roteiro do episódio piloto por ninguém menos do que Stephen King. Na época, os produtores já avisavam que o ideal para a adaptação seria o desenvolvimento em cinco temporadas, algo que felizmente não se concretizou com a ruindade já apresentada em episódios cada vez mais desconexos. E o final da terceira deixou pontas soltas para uma continuidade, caso algum outro canal se interessasse em comprá-la, algo que é tão improvável quanto os motivos apresentados para o surgimento da redoma – completamente diferente do texto original.
As críticas foram acertadamente favoráveis para a primeira temporada. Embora já evidencie algumas liberdades criativas, como a maldade controlada de Junior (Alexander Koch), tornando-o apenas o sequestrador da namorada Angie (Britt Robertson) – enquanto no livro, ele a assassina nas primeiras páginas -, os episódios dinâmicos, incluindo mudanças de temperatura e intrigas internas, são até interessantes. Muitas informações e mistérios atirados na direção do espectador sem que os autores saibam para qual caminho seguir, começou a conduzir a série para sua perdição.
O enredo básico mostra as consequências do isolamento da fictícia cidade de Chester’s Mill por uma gigantesca redoma transparente. Enquanto King desenvolvia a chegada da estrutura em várias páginas, com detalhes sobre pessoas partidas ao meio, acidentes e tragédias repentinas, a série optou por mostrar em poucos episódios, com uma vaca fatiada, o choque de um avião bimotor e alguns incidentes, como a morte do xerife Howard ‘Duke’ Perkins (Jeff Fahey), por conta de seu marcapasso. Alguns jovens são acometidos por convulsões em que dizem frases como “As estrelas rosas estão caindo“, antecipando o encontro com um ovo, protegido por uma mini-redoma. Na obra, todas as crianças sofrem convulsões como se anunciassem uma tragédia para breve, em um Halloween fora de hora. E as frases falam sobre explosões, fogo, abóboras queimadas.
Em meio ao clima claustrofóbico, a série destaca um estranho de passagem pela cidade. Dale ‘Barbie’ Barbara (Mike Vogel) veio à região por conta de uma dívida, o que ocasionou a morte do marido da jornalista/radialista Julia Shumway (Rachelle Lefevre). Com a queda da redoma e os limites reduzidos, Barbie e Julia logo se relacionam, enquanto ele tenta esconder a culpa pelo crime e o local onde o corpo está escondido. Na obra, nada disso acontece. Barbie trabalha no restaurante Rosa Mosqueira e é conhecido por todos, e seu envolvimento com Julia, bem mais velha do que ele, só acontece nos capítulos derradeiros.
Outro que assume o protagonismo das principais ações da série e do livro é o vendedor de carros usados James ‘Big Jim’ Rennie (Dean Norris). Não demora muito para que ele tome conta dos rumos da cidade, ignorando os demais representantes, e decidir as principais regras como nomear novos policiais, enquanto esconde segredos importantes sobre sua venda ilegal. Parecido com sua versão literária, até mesmo na descrição física, Big Jim esconde gás para a produção de drogas e assassina quem ousa atrapalhar seus planos. Ele prende Barbie e o condena à morte culpando-o de assassinato e de atirar na Julia (nada disso ocorre nas páginas), mas, no livro, não há nenhum evento misterioso que salva o rapaz do enforcamento (ou fuzilamento), e, sim, as ações de um grupo de resgate.
Na obra, não há nenhum grupo das “quatro mãos“, nem ovo, borboletas ou identidade do “monarca“. Barbie não tem uma irmã trazida dos mortos, nem um pai envolvido com os militares. A esposa de Big Jim realmente morreu e nunca previu acontecimentos com suas pinturas. Tudo caminha de modo simples, sufocando o leitor com conflitos internos, violência (como o estupro de uma mãe), e as reações insanas de Junior, sofrendo com uma constante dor de cabeça. Já a série, na segunda temporada, intensifica os mistérios, permite que personagens encontrem meios de sair e voltar da redoma – por meio de uma passagem por um abismo e uma porta vermelha -, e tenta trazer o mundo exterior como participante dos acontecimentos internos – até então o máximo que havia acontecido era o lançamento de um míssil contra a redoma, algo similar ao que acontecia no texto original. Aliás, Stephen King torna a comunicação facilitada entre as pessoas de fora e de dentro da redoma, incluindo o envolvimento de militares e até do Presidente.
Melanie (Grace Victoria Cox), a tal irmã distante de Barbie, passa a se envolver com as personagens, causando atritos entre Norrie (Mackenzie Lintz) e Joe (Colin Ford) – dois adolescentes que também participam do livro, mas numa versão mais infantil -, conduzindo à morte de Angie, e mostrando a possível solução para os moradores de Chester’s Mill. A partir daí a terceira temporada tem início, cheia de ramificações, mas não conseguindo decidir se parte para uma espécie de V, A Batalha Final, ou se homenageia a trilogia Matrix e os clássicos Vampiros de Almas e Invasores de Corpos.
Big Jim, que até então era uma personagem detestável, inverte de papéis com Barbie, como se fosse possível esquecer suas ações terríveis do passado. Entram em cenas alienígenas com pele feminina, Christine (Marg Helgenberger) e Eva (Kylie Bunbury), acrescentam um vírus afetado por sensações, um suposto fim do mundo (faltou ousadia para isso) e a busca pelo nascimento de uma nova Rainha ET. Sem conseguir resolver os problemas anteriores, o roteiro passou a atirar para todos os lados, mas acabou acertando a si mesmo, levando o espectador a uma evidente irritação.
Enquanto isso, nas páginas de Sob a Redoma, Stephen King simplificava tudo ao criar metáforas para isolamento e relação com formigas aprisionadas, sem ofender a inteligência do leitor. Mesmo com o pé mais centrado no chão, ainda soube ousar ao criar um apocalipse particular, eliminando quase que a cidade inteira de Chester’s Mill em uma única ação, levando os sobreviventes a uma luta desesperada para confrontar o inimigo maior a fim de sair dali. Não precisou exagerar nos subtextos para cativar o leitor a se manter na redoma, bem diferente de sua adaptação ruim.
Aos apaixonados pelo conteúdo e por boas produções para a TV, resta a esperança de que algum dia Frank Darabont ou Mick Garris resolva dar um tratamento adequado para o material. Enquanto isso, podemos nos contentar com a leitura prazerosa e o filme dos Simpsons…
gostei da série no final das contas! valeu pelo entretenimento. Confesso que fiz vista grossa aos furos todos e a tosquera geral, mas porque gostei da ideia da redoma. O lado bom de ver primeiro as adaptações é esse, tenho agora um livro inteiro pela frente para ler e que, pelo visto, será muito melhor!
Mas o filme dos Simpsons é ruim também.
Fiquei bem empolgado com a primeira temporada, mas a partir da segunda em diante comecei a me frustrar! E só terminei de assistir por ter apenas 3 temporadas, senão teria desistido ainda na segunda.