Twin Peaks – 1ª Temporada
Original:Twin Peaks – First Season
Ano:1990•País:EUA Direção:David Lynch, Lesli Linka Glatter, Caleb Deschanel, Duwayne Dunham, Tim Hunter, Todd Holland, Tina Rathborne, Graeme Clifford, Mark Frost Roteiro:Mark Frost, David Lynch, Harley Peyton, Robert Engels, Barry Pullman, Tricia Brock, Scott Frost, Jerry Stahl Produção:Harley Peyton, David J. Latt Elenco:Kyle MacLachlan, Michael Ontkean, Mädchen Amick, Dana Ashbrook, Richard Beymer, Lara Flynn Boyle, Sherilyn Fenn, Warren Frost, Peggy Lipton, James Marshall, Everett McGill, Jack Nance, Joan Chen, Kimmy Robertson, Michael Horse, Piper Laurie, Harry Goaz, Ray Wise, Wendy Robie, Eric DaRe, Sheryl Lee, Russ Tamblyn, Don S. Davis, Grace Zabriskie |
Um corpo nu encontrado às margens de um rio na pequena cidade de Twin Peaks deu início a um dos maiores mistérios do início da década de 90. A série, criada por Mark Frost e David Lynch, é até hoje um fenômeno da dramaturgia, cultuada em todo o mundo, devido ao seu enredo interessante, cenas antológicas e personagens carismáticos. Pode-se dizer que a produção, que teve sua première no dia 8 de abril de 1990, pela ABC, foi um divisor de águas na TV, servindo de influência para tudo o que seria desenvolvido a partir daí, até mesmo nos cinemas.
Mesclando a atmosfera noir, com elementos de thriller, com pitadas melodramáticas e de bom humor, nonsense e surrealismo, a primeira temporada de Twin Peaks recebeu 14 indicações ao Emmy, e foi aclamada por grande parte dos críticos. Só para se ter uma ideia, o episódio piloto foi considerado pelo TV Guide como o 25º dos 100 Melhores Episódios de Todos os Tempos; também conquistando boas colocações em diversas outras seleções como a proposta pelo Entertainment Weekly e pela Empire. E pensar que todo o sucesso se deu quase por acaso, com o encontro entre dois nomes improváveis. Mark Frost havia feito um trabalho elogioso com a série Hill Street Blues, tendo desenvolvido o roteiro de 48 episódios. Já David Lynch havia acabado de ser contratado pela Warner Bros. por conta dos sucessos O Homem Elefante (1980) e Veludo Azul (1986), e pretendia desenvolver um filme sobre Marilyn Monroe, baseado no romance Goddess. Os dois se uniram para conversar sobre o projeto, mas a Warner acabou desistindo de levá-lo adiante, restando apenas a amizade entre os dois e a proposta de se unirem para outro trabalho.
A ideia era fazer um filme com o astro do humor em ascensão Steven Martin, sendo que um iria dirigir e outro roteirizar. Como o filme também não saiu do papel, o agente de Linch, Tony Krantz, o incentivou a trabalhar para a TV, com um produto que mostrasse “a vida real na América“, ambientada em uma cidade pequena. Foram feitos muitos rascunhos, com muitas ideias sendo desenvolvidas, desde o nome original, passando por regiões diferentes dos Estados Unidos, mas sem que houvesse um norte. Eis que a imagem de um corpo nu, às margens de um rio, veio à mente do trio, e eles resolveram trabalhar em cima dela, desde que a ABC se interessasse pela história. Apresentaram a ideia, e o canal deu luz verde, pedindo que o piloto fosse realizado, com duração de um longa-metragem, pela bagatela de U$4 milhões. Assim, entre reuniões e encontros diversos, a pequena cidade de Twin Peaks foi marcada definitivamente no mapa das principais séries da TV americana.
O episódio piloto agradou realmente, já com a apresentação dos elementos que conduziriam toda a trama, incluido a belíssima trilha-tema de Angelo Badalamenti, marca registrada da série. Com a proposta de lançá-lo nos cinemas, dois episódios piloto foram editados, sendo que um já apresentava uma possível solução para o mistério. Ambos começam com a descoberta do corpo de uma garota por Pete Martell (Jack Nance, de Veludo Azul, 1986), em 1989. Com a chegada do Xerife Harry S. Truman (Michael Ontkean) e seus oficiais, incluindo o emotivo Andy (Harry Goaz, de Obsessão, 1995) e o Dr. Will Hayward (Warren Frost, de A Dança da Morte, 1994), a vítima é identificada como Laura Palmer (Sheryl Lee, de Vampiros de John Carpenter, 1998), uma rainha extremamente querida na região, para desespero de seus pais, Leland (Ray Wise, de Olhos Famintos 2, 2003) – destruído pela notícia – e Sarah (Grace Zabriskie, de Outcast, 2016). A primeira suspeita cai sobre um rapaz, seu namorado Bobby Briggs (Dana Ashbrook, de A Volta dos Mortos-Vivos 2, 1988), um bad boy da cidade com quem ela teria ido se encontrar na noite anterior.
Assim, para investigar o assassinato, chega à cidade o Agente Especial do FBI Dale Cooper (Kyle MacLachlan, de O Caso Roswell, 1994), no dia 24 de fevereiro, por volta das 11h30 da manhã, conforme sua comunicação com a secretária Diane. Essa chegada deu à data um significado especial, denominada como Twin Peak´s Day, sendo homenageada todo ano com postagens nas redes sociais e encontros entre fãs da série. E o Agente ainda ganha contornos interessantes pelo modo como ele vibra com cada situação inusitada como as árvores que circundam a cidade ou as tortas e os cafés que toma nos restaurantes, sempre com elogios que o apontam cada coisa como a melhor de todas. Ele faz amizade com o Xerife, e inicia a investigação, conversando com os principais suspeitos e pessoas relacionadas a Laura, enquanto outros segredos dos moradores começam a ser revelados, tornando a pequena cidade uma teia de conspirações, traições e negócios ilegais, sem inocentes.
Laura, até então vista como a querida da cidade, tem seus defeitos apresentados aos poucos, como a traição cometida com o motociclista James Hurley (James Marshall, de O Elevador da Morte, 2001), uma possível relação com o caminhoneiro Leo Johnson (Eric DaRe, de Tropas Estelares, 1997) e com o traficante Jean Renault (Michael Parks, de Um Drink no Inferno, 1996). O fato de todos eles – e outros como o psicólogo extravagante Dr. Lawrence Jacoby (Russ Tamblyn, de Drive, 2011) – terem a letra “J” no nome também serve para atiçar o mistério, uma vez que a vítima chegou a escrever em seu diário que pretendia se encontrar com uma pessoa “Jota“. Apesar dela ser o motor propulsor de todos os conflitos, na investigação policial, o lado podre local começa a se sobressair, e parece ter alguma relação com o prostíbulo “Jack Caolho” (olha a letra!).
Bobby, que se encontra secretamente com a mulher de Leo, Shelly (Mädchen Amick, de Padre, 2011), tenta desviar a atenção para James, cujo reflexo da moto aparece em um vídeo com Laura e Donna (Lara Flynn Boyle, de João, Maria e a Bruxa da Floresta Negra, 2011). James é sobrinho de Ed Hurley (Everett McGill, de As Criaturas Atrás das Paredes, 1991), que trai a esposa Nadine (Wendy Robie, também de As Criaturas Atrás das Paredes, 1991) com a dona do restaurante, Norma (Peggy Lipton). Esta, enquanto aguarda um posicionamento do amado, está temendo o retorno de seu marido preso, Hank (Chris Mulkey, de Capitão Philips, 2013), algo que acontece na parte final da temporada. Também circulam pela cidade a adúltera e dona de uma serraria, Catherine (Piper Laurie, de Prova Final, 1998), que se encontra às escondidas com Ben (Richard Beymer), responsável pelos grandes empreendimentos da região como o Hotel e uma loja de departamentos. E a filha de Ben, Audrey (Sherilyn Fenn, de O Guerreiro do Futuro, 2003), tentará seduzir o agente, hospedado no hotel de seu pai, e até aceitará investigar a morte de Laura para mostrar sua competência, seguindo os passos da garota no Caolho Jack.
Além desses personagens incríveis, Lynch e Frost incluem outros como a Mulher do Tronco (Catherine E. Coulson); o pai de Bobby, o Major Garland (Don S. Davis, de O Mistério das Duas Irmãs, 2009) e sua postura formal; Jocelyn Packard (Joan Chen, de O Juiz, 1995), que trabalha na serraria e tem um relacionamento com o Xerife; o intragável agente do FBI Albert Rosenfield (o excepcional Miguel Ferrer, de O Homem de Ferro 3, 2013); a atendente da delegacia Lucy (Kimmy Robertson), que tem uma relação conturbada com Andy; a prima de Laura, Maddy Ferguson (novamente Sheryl Lee, desta vez morena); e, claro, o anão dançarino (Michael J. Anderson) que aparece nos sonhos do Agente e traz pistas sobre a identidade do assassino.
Tudo parece estar relacionado a um crime do passado, envolvendo a morte de outra mulher, Teresa Banks, mas a única que poderia saber o que realmente aconteceu, por ter passado à noite com a Laura, Ronette Pulaski (Phoebe Augustine), está em estado de coma, devido aos traumas e ferimentos. Dale e o Xerife conseguem contatar o Homem com Apenas um Braço, o vendedor de sapatos Phillip Gerard (Al Strobel), presente nas visões do Agente, e se certificam de que o traficante Jacques Renault está envolvido na morte de Laura, e promovem sua prisão, após um ato de heroísmo de Andy, que até então nunca havia disparado com sua arma. Contudo, o mistério está longe de ser desvendado, principalmente com o cliffhanger do final da temporada, com uma cena que deixou o público sem ar com a possibilidade proposta.
O sucesso da primeira temporada promoveu a realização da segunda, no ano seguinte. Mas, se a primeira havia sido construído em apenas 8 episódios bem fluídos em cada gênero tocado, a segunda partiu para o excessivo número de 22 capítulos – uma quantidade comum até a década passada. Perdeu muito de sua força na segunda temporada, até mesmo porque não havia como prolongar o mistério sobre o assassinato de Laura Palmer por mais temporadas. Assim, a continuação acabou por acrescentar personagens e sub-tramas, que, se não estragaram o resultado final, pelo menos reduziram seus méritos.
De toda forma, Twin Peaks se tornou a cidade mais popular dos Estados Unidos. Atendendo ao sonho futurístico do Agente Dale, a série está prestes a ter sua próxima temporada exibida na TV, resgatando personagens situações e mistérios que atiçarão os fãs e trarão novos olhares para o produto original. Se terá o mesmo sucesso, só saberemos nas próximas semanas, mas será um prazer voltar ao local onde aquele corpo foi encontrado na década de 90.
Deixei-me iludir pela boa avaliação e menção às indicações a prêmios. Detestei essa temporada, que assisti sofregamente. Quando desisti e pesquisei sobre a sequência, fiquei ainda mais feliz por ter abandonado.
Começa com uma boa trama de mistério, mas logo se perde. Tudo bem que todas as sociedades têm seus segredos, mas praticamente todos os personagens são vis: adúlteros, drogados, envolvidos com prostituição, bandidos, batem nas esposas, encomendam mortes, incêndios. Mas a cereja do bolo é um agente do FBI que tem sonhos bizarros e, pasmem, não só crê nas visões oníricas, como também é guiado por elas!