Na época do lançamento de A Vila, filme de M. Night Shyamalan lançado em 2004, muitos infernautas entraram em contato com o Boca do Inferno trazendo algumas dúvidas e simbologias da produção. Para auxiliar na compreensão do longa, resolvemos responder a oito das principais dúvidas, levando em consideração o que entendemos do filme. Então, fica o alerta: nunca saia dos limites da vila e não leia o conteúdo abaixo se não viu o filme, pois virão spoilers altíssimos que trarão detalhes de como o longa termina e suas principais surpresas!
1 – Por que o vermelho era uma cor temida pelas “criaturas”?
R: O vermelho, além de representar o pecado, é a cor do sangue, da violência. Assim os moradores da vila evitariam entrar em conflito e até mesmo se machucar. Para o diretor é uma forma de novamente utilizar a cor que foi amplamente usada no filme O Sexto Sentido como representação da presença constante da morte.
2 – Quem estava matando os animais e pintando as portas?
R: Com a “assembleia” organizando o mito, fica evidente a participação de Noah nos atos ilícitos já que era o único que não participava mas conhecia as “regras“. O personagem também demonstrava desafiar a vila entrando constantemente na floresta, agindo de forma violenta com os outros moradores. Na cena em que uma “criatura” quase pega Ivy, a jovem cega, Noah não se vestiu já que ele estava na casa. Provavelmente o pessoal da “assembleia” queria que o assassino de animais parasse de provocar a lenda – eles não sabiam que era Noah o responsável pelos atos.
3 – Por que a cega corria pela vila e parecia enxergar normalmente as outras pessoas?
R: Ela nasceu cega, mas conseguia ver luzes e entender cores, as quais ela atribuía como auras. Como ela viveu a vida inteira na vila, a jovem conhece cada canto, buraco, elevação e casa da região (ora, qualquer cego é assim). Quando ela se afastou dos limites da vila e entrou na floresta, tudo era novo e exigia uma atenção maior da garota – como usar o tato para identificar as árvores e buracos.
4 – Por que o pai de Ivy deixou a filha entrar na floresta ao invés dele mesmo ou outro morador com visão normal?
R: Primeiramente, o pai desejava que a lenda permanecesse viva. Ela provavelmente não “enxergaria” a realidade e sua inocência seria preservada. A intenção dele era que ela fosse com dois acompanhantes até a estrada de pedra e daí seguisse sozinha, mas os rapazes ficaram com medo das criaturas. O pai também sabia que os outros moradores imaginavam que as criaturas não fossem capazes de atacar pessoas inocentes (como Noah, por exemplo). Se ele fosse no lugar da filha, a lenda perderia crédito, já que qualquer um imaginaria ser capaz de atravessar os limites.
Ainda assim, ele entregou algumas moedas para que eles acreditassem estar segura diante do perigo. Quando os acompanhantes desistiram, ela jogou fora.
5 – Por que os personagens de Hurt e Weaver, quando estavam sozinhos, falaram sobre a possibilidade do ataque às residências ser atribuído a coiotes? Ora, se estavam sozinhos poderiam conversar normalmente sobre a farsa, né?
R: Naquela cena, Weaver diz que as marcas eram muito altas para pertencerem a coiotes, logo, ela quer dizer que o responsável pelos atos só pode ser alguém da vila (disfarçado ou não). Em nenhum momento, ela atribui o ataque às criaturas lendárias, mas exclui a possibilidade de outros animais estarem ativos na região.
6 – Parece que no final do filme há um erro de edição. A cena em que o pai revela à filha a farsa ocorre antes do ataque a Ivy na floresta. Se não há criatura, a cena perde um pouco de suspense. Houve erro mesmo?
R: Não. Quando o pai revela a farsa à filha, ele diz que a lenda não surgiu à toa, partiu de algumas lendas da região sobre possíveis criaturas no bosque. Na cena em que Ivy é perseguida a fala do pai é repetida para o espectador, deixando uma certa dúvida sobre a possibilidade dos monstros realmente existirem (ora, e se a lenda for verdadeira?). Ou será que você imaginava se tratar de uma pessoa disfarçada que perseguia a jovem?
7 – Por que o pai pede que a garota encoste na roupa da criatura ao invés de falar diretamente a ela sobre farsa? Foi só para criar uma cena de suspense?
R: O pai queria que a filha descobrisse por conta própria a farsa e ao mesmo tempo perdesse o medo das criaturas. Assim, a jovem aprendeu sozinha, o que é uma lição muito melhor do que palavras….O diretor não costuma criar cenas de suspense gratuitas…
8 – Quais as mensagens do filme?
R: O filme apresenta uma clara mensagem contra a violência urbana e o constante medo da população diante de ataques terroristas. Rodado na Pensylvania, há uma referência a Tom Ridge, o secretário de Segurança Interna do governo Bush e criador do sistema de cores que simboliza a situação de alerta dos EUA. As cores variam do azul (tranquilidade) ao vermelho (pesadelo). A Vila seria os Estados Unidos; as criaturas seriam o restante do mundo; Lucius Hunt (aquele que caça a luz) é a ponte que une os dois universos sempre em conflito direto.
É interessante também notar que a única pessoa capaz de “enxergar” a realidade é uma pessoa cega e que age com o coração e não com a razão em busca dos remédios (soluções) para seu amor (a fraca luz).
Acho esse filme espetacular e MUITO subestimado . Teve o “azar” de chegar depois do absoluto sucesso de O Sexto Sentido
“O filme apresenta uma clara mensagem contra a violência urbana e o constante medo da população diante de ataques terroristas. ”
Com todo respeito, parece que autor deste texto não entendeu o real significado do filme… Longe de ser uma mensagem relacionada com violência urbana e ataques terroristas…
É uma crítica à doutrina imposta pelas religiões e regimes absolutistas… Tenta mostrar o perigo que é acreditar e aceitar algo sem se questionar… Como o medo pode ser usado para aprisionar e controlar um povo… O filme possui uma crítica social incrível, mas longe do que foi mencionado do texto…