Parte III – Depois – Da Queda ao Fenômeno
“Well, why do I always have to get hooked up with these spook details? Monsters, graves, bodies. Oh, all right.”
Apesar dos pesares, o filme foi finalizado e agora o problema era ganhar algum dinheiro com ele. Plan 9 From Outer Space teve sua premiere no Carlton Theatre, com um Ed Wood radiante e contemplando seu momento de glória. Durante a projeção foi solicitado a Vampira atravessar a tela no meio do filme para causar algum impacto sobre os espectadores. Quando ela fez, viu a maior parte do público vaiando e jogando seus copos de refrigerante no cinema fazendo um barulho imenso, achando que era um engraçado efeito 3D. Há controvérsias com relação a data do evento no Carlton, pois algumas fontes afirmam que foi em março de 1957, outras que já foi com a produção finalizada em 1958.
Apesar das pobres avaliações nas exibições teste – tal qual a do Carlton – Wood estava confiante e entregou as latas com a película para Edward Reynolds conseguir distribuição, o que não seria uma tarefa fácil. Reynolds procurou as grandes distribuidoras em Nova York – inclusive a Paramount e MGM – por três semanas sem sucesso o que gerou algumas dificuldades financeiras para o produtor.
Conseguiu abrigo apenas na pequena Distributors Corporation of America Inc. (ou simplesmente DCA) com uma condição: Reynolds teria que arcar com os custos de impressão das películas de lançamento e também do material promocional. Foram fabricadas uma quantidade entre 10 e 20 cópias em 35 mm – que hoje são disputadas a tapa pelos colecionadores – e apenas em julho de 1959 o lançamento oficial foi realizado. A maioria das cópias eram oferecidas em uma sessão dupla com o thriller Time Clock com a ponta de um jovem e desconhecido Sean Connery.
Por recusa dos donos dos estabelecimentos, o longa-metragem não conseguiu passar nos grandes cinemas das metrópoles e suas cópias ficaram restritas aos drive-ins e às pequenas salas do subúrbio. Isto naufragou com qualquer esperança – se havia alguma – de que a produção fosse um sucesso comercial, ou que mesmo pagasse seu irrisório custo.
A carreira de Ed Wood declinou no começo dos anos 60 por causa do fracasso crítico e comercial de Plan 9 e de seu canto do cisne com Night of the Ghouls e The Sinister Urge, agravando-se nos anos 70 com a popularização da televisão. Os últimos anos do diretor foram de pobreza, amargura e alcoolismo. Wood faleceu desconhecido e suas cinzas terminaram jogadas ao mar pela esposa.
Irônico que apesar da televisão ter sido um veículo que ajudou a afundar o diretor, foi ela mesma quem começou a redescobrir Ed Wood. Em 1961, Plan 9 From Outer Space estreou em um canal de TV de Los Angeles. Nos primórdios, as emissoras sempre preferiram exibir este tipo de filme, pois eram de baixo custo de aquisição para exibição.
Com o início das revistas especializadas no cinema de terror, os jovens fãs, que se formavam, adoraram seu estilo divertido e começaram a buscar saber mais sobre o filme e seu diretor por eles mesmos, era a transformação do “trash” para “cult“.
No final dos anos 70 houve uma explosão de pessoas comuns e críticos de cinema varrendo filmes antigos para encontrar defeitos crassos e assim subvertendo seu valor para torná-los cômicos – a expressão “tão ruim que é bom” estava de volta.
Nesta toada, dois destes críticos de cinema, os irmãos Harry e Michael Medved, lançaram o influente livro “Golden Turkey Awards” onde os leitores de seu livro anterior, “The 50 Worst Films of All Time“, votariam nos piores de todos os tempos. Mesmo contrariando as opiniões dos autores, através desta publicação que Plan 9 foi considerado pela primeira vez como o pior filme e Ed Wood como o pior diretor da história. Concordando ou não, esta indicação teve um efeito imediato, o culto que era “underground” passou a ser “aboveground” e o número de seguidores cresceu exponencialmente.
Professores de artes utilizavam a película como instrumento de estudo demonstrando uma forma de como NÃO se fazer cinema, as pessoas assistiam com o único intuito de procurar erros; e listá-los passou a ser uma das coisas mais divertidas para se fazer com os amigos. Tornou-se uma parte da cultura popular, sendo referenciado em outras produções para o cinema – de A Noite dos Arrepios até Halloween H20 – e também televisão (em um episódio do seriado Arquivo X, Fox Mulder afirmou ter assistido Plan 9 From Outer Space nada menos que 42 vezes).
No começo dos anos 90 a editora Eternity Comics lançou uma minissérie em quadrinhos intitulada “Plan 9 From Outer Space: Thirty Years Later!“, que serve como sequência não oficial para o filme. Em 1997, David G. Smith compôs e escreveu a música para a peça “Plan 9 From Outer Space: The Musical“. Em 2006 a distribuidora Legend Films soltou nos Estados Unidos a primeira versão colorizada do filme com algumas alterações nos gráficos e no mesmo ano uma versão não oficial em teatro estreou no “Toronto Fringe Festival” no Canadá. A peça chamada de “Plan LIVE from Outer Space” possui no cast famosos comediantes canadenses e ganhou em 2007 um prêmio do Canadian Comedy Award.
Além disto, existe um remake realizado nas mãos do diretor John Johnson (A Chave Mestra), lançado no último dia 18 de fevereiro na Austrália e no dia seguinte nos EUA e Nova Zelândia, com boas avaliações.
Assim, esta popularidade e este rebanho tão grande de fãs confirmam apenas uma coisa: a obra suprema de Ed Wood conseguiu o que muitos não chegaram nem perto, envelheceu com suas “qualidades” intactas sem ficar datado. também não deixa de ser irônico dizer que os defeitos que foram tão castigados na época de lançamento sejam os mesmos que tornam Plan 9 tão inesquecível.
O que me faz pensar se podemos retirar alguma lição vendo o trabalho de Ed Wood. Não apenas falando desta produção, mas o simples fato de que o diretor tenha feito tantos filmes com tão poucos recursos, com tão pouco talento no ofício e contra todas as perspectivas já é um grande modelo para os jovens cineastas independentes seguirem. Portanto Plan 9 From Outer Space não é apenas “o” clássico B, é também um documento histórico da força de vontade de um homem para superar desafios.
Plan 9 foi lançado no Brasil em VHS há muito tempo, e está disponível em um DVD caríssimo da distribuidora Continental que ainda contém o documentário “Flying Saucers Over Hollywood: The Plan 9 Companion” repleto de entrevistas com os atores e curiosidades.
Parte IV – Curiosidades
– Quando lançado pela primeira vez em VHS nos Estados Unidos, o encarte destacava o filme com os dizeres “quase estrelando Bela Lugosi“;
– A cicatriz usada no ator Tor Johnson precisava ser movida todo dia, pois o material causava irritação na pele do rosto do ator;
– A “lente de contato” usada por Tor Johnson era uma película retirada de ovos de galinha;
– Os carros de polícia e uniformes utilizados no filme só foram possíveis porque o filho de Tor Johnson, Karl, era um oficial no departamento de polícia de San Fernando na época;
– De acordo com Maila Nurmi, por motivos orçamentários ela se caracterizava como Vampira em casa e pegava um ônibus até o Quality Studios. Isto causava espanto na maioria dos passageiros;
– Gregory Walcott só entrou no filme porque frequentava a mesma igreja batista do produtor executivo J. Edward Reynolds;
– A personagem interpretada por Maila Nurmi deveria ter falas, porém por achá-las ridículas, a atriz pediu para que Wood as retirasse das filmagens e assim foi feito;