EXCLUSIVO! Entrevistamos James Wan: “Eu sou atraído pela natureza desses antagonistas” (Parte 2)

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O novo filme de James Wan, Maligno, chegou aos cinemas brasileiros na semana passada e vem acompanhado de críticas bastante positivas de muita gente que estava curiosa para saber o que o diretor entregaria dessa vez. Antes da estreia do filme, publicamos a primeira parte da nossa entrevista com Wan, sem spoilers de Maligno, e deixamos algumas perguntas para mais tarde. Sendo assim, cuidado! Se você ainda não assistiu ao filme, não leia essa entrevista!

SPOILERS DE MALIGNO ABAIXO!

Na primeira parte da entrevista, comentamos sobre algumas das influências de Wan para desenvolver Maligno. Ao assistir ao filme, porém, uma das primeiras coisas a se notar são os cabelos do vilão Gabriel, que remetem facilmente aos fantasmas do J-Horror. Essa não era exatamente a intenção de Wan, mas ele não critica a ligação: “Eu cresci rodeado de histórias de horror asiáticas e eu acho que elas influenciaram vários dos meus filmes. Por ter um vilão que sai da cabeça de uma pessoa, ela com certeza teria muito cabelo cobrindo esse rosto. Eu tentei não fazer tudo parecer muito ‘Sadako’, mas eu consigo enxergar a ligação. E tudo bem se as pessoas fizerem essa ligação, porque [O Chamado] é um dos meus filmes de terror favoritos.”

Gabriel é mais um dos marcantes antagonistas dos filmes de James Wan: temos Annabelle, o boneco Billy, de Jogos Mortais, mais um boneco em Gritos Mortais. Agora, temos este que é um humano, mas não tem propriamente um corpo. Qual é a atração que Wan tem por essas criaturinhas? “Eu sou atraído pela natureza desses antagonistas. De certa forma, eu não os vejo como vilões, eles são apenas personagens incompreendidos tentando se encaixar nesse mundo”, explicou o diretor.

“Eu sou fascinado pela ideia de que algo inanimado possa ganhar vida. Se você pensar, quando éramos crianças, nós brincávamos com bonecos, dávamos vida a eles, os fazíamos falar. Eu tenho sorte de estar fazendo isso agora, quando adulto, e ser pago para isso.”

Mas, diferente de suas criaturas anteriores, Gabriel é uma criação muito mais complexa, que precisou de diferentes pessoas e técnicas para finalmente ganhar vida. “Gabriel é uma combinação de várias pessoas talentosas, começando por Annabelle Wallis, que, depois de ter um monstro saindo de sua cabeça, dá lugar para Marina [Mazepa], uma atriz, dançarina e contorcionista incrível”, comentou Wan. “Ela levou bem a sério o conceito de alguém se movendo para trás. Eu achei que fosse ter que usar muitos truques de câmera, mas não precisei porque a Marina se adaptou muito bem. Na cena da cela, ela treinou muito para aprender a lutar ao contrário. Ela se movia como se tivesse olhos nas costas.”

Além de Marina, Gabriel é composto também por outros elementos: “Nós colocamos o rosto de Annabelle Wallis por cima do de Marina, e colocamos um animatrônico de Gabriel na parte de trás da cabeça dela, então nós o estamos controlando enquanto ela se move. Foi bastante desafiador, mas foi esse desafio que me animou a fazer esse filme. Acho que nada assim foi feito antes, pelo menos não com esse nível de efeitos práticos.”

E por fim, agora que entendemos a que se refere o “maligno” que dá nome ao filme, é difícil não lembrar de Malignant Man, a graphic novel que James Wan publicou em 2015 e que ainda deve ser adaptada para os cinemas. Maligno não é uma adaptação dos quadrinhos, porém, e as semelhanças se limitam ao irmão parasita. Mas será que a ideia para o filme pode ter nascido da novel? Wan explica que não. “Muito disso tem a ver com a perda do meu pai quando eu era mais novo, porque ele teve um câncer e faleceu. Então, a ideia de um tumor está bastante presente na minha mente quando eu crio essas histórias. Para mim, esse é o maior vilão, e nós não estamos mais perto de conseguir erradicá-lo. Então, quando penso em histórias de monstros, acho que, inconscientemente, volto a esse tema.”

Wan adaptou o tema do câncer em Maligno tanto de forma literal como de forma metafórica: “Coisas cancerosas na nossa vida não são necessariamente tão literais, metaforicamente elas podem representar alguém em sua vida que é ruim, e de certa forma isso tem a ver com o tema desse filme. Por toda sua vida, Madison foi pressionada por homens horríveis, e Gabriel é o pior de todos. Nessa história ela é afetada por esse ser canceroso e deve lutar contra ele como se luta contra um tumor, para tomar seu corpo de volta. Há uma fala no filme em que ela diz ‘é meu corpo e estou pegando ele de volta’. Então esse foi o arco para mim.”

Maligno está em cartaz nos cinemas brasileiros e chega à HBO Max em outubro.

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Silvana Perez

Escolheu alguns caminhos errados e acabou vindo parar na Boca do Inferno em 2012. Apresenta o podcast do site, o Falando no Diabo, desde 2019. Fez parte da curadoria e do júri no Cinefantasy. Ainda fala de feminismos no Spill the Beans e de ciclismo no Beco da Bike.

One thought on “EXCLUSIVO! Entrevistamos James Wan: “Eu sou atraído pela natureza desses antagonistas” (Parte 2)

  • 15/09/2021 em 23:34
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    Excelente entrevista! Parabéns!
    Eu gosto muito de J-horror, ou melhor, de horror asiático no geral, e eu vejo muita influência da fórmula nos filmes de temática sobrenatural do Wan.
    Confesso que “Malignant” não foi o que eu esperava. Pelo trailer, achei que seria uma coisa e, ao assistir ao filme foi outra totalmente diferente!
    Também não peguei tanto as referências artísticas, já que os únicos Giallo que eu assisti foram “Seis mulheres para o assassino” e “Phenomena”.
    E o humor também não me agradou tanto. Não gosto muito de humor e piadas em filmes do gênero horror, isso tira a tensão e tals, mas vi pessoas comentando que humor faz parte da formula dos Giallo italianos, então o problema sou eu mesmo kk.
    Não é o tipo de coisa ou fórmula que eu gosto de assistir, mas foi divertida a experiência.
    Enfim, pelo menos o James Wan fez o filme que ele queria fazer. Certo tá ele.
    Sempre vou aplaudir criadores que tentam inovar e sair da zona de conforto.
    Espero mais obras fora do convencional no meio mainstream no futuro.

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