4.3
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Além das casas, envoltas em passados traumáticos, um outro palco bastante conhecido para os fãs de horror são os sanatórios, hospícios, asilos e hospitais psiquiátricos. Não somente a loucura reside ali. Cientistas ousados, psicopatas frios, freiras maléficas podem não estar vestindo roupas apertadas, acomodados em celas pequenas, e ainda assim promover violência física e as formas mais perturbadoras de tortura. Quantas produções já não se inspiraram em histórias reais e assustadoras ocorridas nesses estabelecimentos com base em tratamentos bizarros que poderiam envolver cirurgias cerebrais como a trepanação, exposição a temperaturas baixas e choque? Patologias psicológicas às vezes se misturavam com outras enfermidades como a tuberculose, para que o local apenas funcione como um depósito de corpos, que depois eram conduzidos por túneis escuros para serem cremados ou simplesmente enterrados.

Donald Pleasance até tentou cuidar de Jack Palance e Martin Landau, mas esteve “sozinho no escuro“. Ainda que o hospital tente manter entre seus pacientes a insana Nancy Thompson, por outro lado dificilmente teria o mesmo êxito com Michael Myers. São tantos exemplares ambientados nessas “casas de loucos” que fica fácil entender a razão pela qual uma dessas foi escolhida para abrigar a segunda temporada de American Horror Story. Com as elevadas boas críticas recebidas pela primeira temporada, quando houve o anúncio de que a série teria sido renovada houve quem acreditasse que ainda veríamos coisas estranhas perturbando novamente os Harmon e mais histórias envolvendo a “murder house“. Felizmente, Ryan Murphy optou pela ideia mais correta: apresentou um novo conto de terror, mas manteve alguns dos bons rostos que estrelaram a temporada anterior.

Jessica Lange, que fez a vizinha enxerida Constante, está de volta no papel de uma freira com uma rusga no passado; Zachary Quinto, cuja participação tinha sido discreta como parte de um casal morto pelo homem de borracha, retorna assumindo um psiquiatra que guarda um segredo terrível e irá se responsabilizar pelo personagem de Evan Peters, o Tate da primeira temporada; Sarah Paulson e Lily Rabe, que também tiveram momentos discretos no ano anterior agora ganham mais notoriedade em papéis importantes e que exigiram bastante de suas capacidades de interpretação. E ainda sobrou espaço para o Anjo da Morte de Frances Conroy (lembra da Moira?) e o vingativo Dylan McDermott, em participações menores mas de grande valia. Além, é claro, de novos rostos como o de Joseph Fiennes, James Cromwell e a bela Lizzie Brocheré.

Dirigido por Bradley Buecker, o primeiro episódio, Bem-Vindo à Briarcliff, teve sua exibição em 17 de outubro de 2012. E tem início nesse mesmo ano, com a invasão de um hospital psiquiátrico em ruínas por um casal em Lua de Mel. Leo (Adam Levine, da banda Maroon 5) e Teresa (Jenna Dewan) gostam da adrenalina de visitar lugares assombrados, mas não imaginavam que, enquanto buscavam ambientes para transar e contar a história local, teriam problemas com um de seus relatos envolvendo o insano Bloody Face. Ele tem o braço arrancado, e a moça luta pela vida, em uma jornada que continuará nos próximos episódios. As ações retornam para 1964, ano em que o jovem Kit Walker (Peters), casado escondido com Alma (Britne Oldford) – em plena época em que o racismo imperava na América – é incomodado por Billy (Joe Egender), para depois testemunhar sua mulher sendo abduzida por estranhas luzes.

Acusado de ser o serial killer Bloody Face, Kit é internado no asilo Briarcliff, comandado pela Irmã Jude Martin (Lange). Mas a jornalista Lana Winters (Paulson), com a pretensão de mudar o foco de seu trabalho para um tom investigativo, decide pressionar a freira, optando até mesmo por voltar ao local sem que seja notada. Jude a interna como paciente, camulfando sua vida exterior como a que envolve seu relacionamento – também escondido – com Wendy (Clea DuVall). Uma vez no local, sofrendo com o tratamento de choque e a pressão psicológica, Lana se aproxima de Kit e de outras internas como a ninfomaníaca Shelley (Chloë Sevigny) e de Grace (Brocheré), e conhece outra Irmã, a até então graciosa Mary Eunice McKee (Rabe), o principal médico, Dr. Arthur Arden (Cromwell) e o monsenhor Timothy Howard (Fiennes), com quem Jude mantém um exagerado apreço, além do psiquiatra responsável por Kit, Dr. Oliver Thredson (Quinto).

Enquanto busca meios de escapar dali pelos túneis, mas não quer a companhia do “assassino” Bloody Face, Lana tenta manter alguns registros de sua estadia no local, imaginando ser curta, sem saber que coisas ainda mais sinistras acontecem em Briarcliff. Dr. Arthur Arden realiza experimentos de modificação genética com alguns de seus pacientes, criando seres disformes que são alimentados como cães no lado externo; após a tentativa frustrada de realização do exorcismo do paciente Jed (Devon Graye), o demônio invade o corpo da Irmã Mary, levando-a, a partir de então, a comportamentos mais ousados, embora a sua natureza bondosa não tenha sido explorada o suficiente, o que dificulta para que o público entenda o que realmente mudou nela.

Com o avançar dos episódios, descobre-se que Dr. Arthur Arden esconde sua verdadeira identidade e que ele fez parte do projeto Paper Clip, que trouxe aos EUA cientistas alemães disfarçados. As dúvidas sobre seu passado despontam com a chegada de uma nova paciente, que diz ser a famosa Anne Frank (Franka Potente), em dois interessantes episódios. E dentre os episódios especiais há também o do Papai Noel assassino, Leigh (Ian McShane), usado como plano de vingança. São essas ações e conflitos, revelação de passado e loucura crescente, que tornam a segunda temporada tão boa quanto a anterior.

Além de Buecker, assumem o comando Michael Uppendahl, Alfonso Gomez-Rejon, David Semel, Miguel Rymer, Michael Lehmann, Jeremy Podeswa e Craig Zisk, fazendo bons trabalhos de direção, a partir de roteiros de Ryan Murphy, Tim Minear e outros. Novamente a série teve indicações (89) e conquistou muitos prêmios (28) pela trilha, roteiro e performances, principalmente de Jessica Lange, que, além de sua já fantástica atuação em várias camadas, promoveu um dos momentos mais divertidos da temporada ao cantar The Name Game com todo elenco.

O melhor adjetivo para qualificar American Horror Story – Asylum é delírio. Uma temporada que soube mesclar elementos de ficção científica, referências a Mary Shelley, aberrações e esquisitices, religiosidade, exorcismo, experimentos macabros, assassinos em série, traumas e crítica social, em rimas perfeitas. Talvez não precisasse do episódio final, uma gordura desnecessária para complemento do total de episódios, mas nada que prejudique o entretenimento dos fãs de séries de TV e horror.

É claro que um produto de sucesso teria continuidade. Assim, Coven viria em seguida para trazer boa parte do bom elenco como ingrediente de um caldeirão envolto em bruxaria, fantasmas e mortos-vivos!

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1 comentário

  1. Esta segunda temporada é muito boa, só ficando atrás da primeira.

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