O Hospedeiro (2006)

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O Hospedeiro
Original:Gwoemul
Ano:2006•País:Coréia do Sul
Direção:Joon-ho Bong
Roteiro:Won-jun Ha, Chul-hyun Baek, Joon-ho Bong
Produção:Yong-bae Choi, Neung-yeon Joh
Elenco: Kang-ho Song, Hie-bong Byeon, Hae-il Park

Hie-bong e sua família vivem às margens do rio Han, em Seul. Seu filho mais velho, o imaturo Kang-du, passa maior parte do tempo dormindo. A filha do meio é a arqueira do time olímpico coreano e o mais novo é um advogado desempregado. Juntos, eles cuidam da garota Hyeun-seo, filha de kang-du cuja mãe abandonou a todos há muitos anos.

Certo dia uma criatura mutante gigantesca emerge do rio Han atacando as pessoas que estão no parque e levando consigo a pequena Hyeon-seo. Sem poder contar com as autoridades e acreditando que a filha ainda esteja viva, Kang-du parte com a família numa busca desesperada. Porém, a tarefa não é nada simples, pois o local está de quarentena e a terrível criatura continua a fazer novas vítimas.

É um fato incontestável que Hollywood tenha se rendido às diversas qualidades do cinema oriental há algum tempo. Nas últimas décadas importou atores, diretores e roteiristas. Fabricou incontáveis refilmagens (afirmam as más línguas que o público americano não gosta muito de filmes legendados) e adaptações. Como esperado, a fórmula americana de reaproveitamento logo mostrou-se desgastada; o que não indica que o cinema produzido no oriente,  principalmente na China, no Japão e na Córeia do Sul, não continue concebendo obras cuja qualidade e originalidade ainda desperte a admiração de uma legião de cinéfilos ao redor do mundo.

Brevíssima história do cinema oriental recente e sua influência no ocidente

Primeiro foram os filmes de ação e artes marciais. No começo da década de 90, The Killer (1989) e Fervura Máxima (1992) revolucionavam o gênero “action”. Os tiroteios coreografados e estilizados do cineasta chinês John Woo influenciariam toda uma geração em Hollywood e seriam imitados a exaustão nos anos que se seguiram. Poucos anos depois John Woo estava na América dirigindo arrasa-quarteirões estrelados por atores como Tom Cruise (Missão Impossível 2, 2000), Nicolas Cage (A Outra Face, 1997) e John Travolta (A Última Ameaça, 1996). Na mesma época, o super-astro de Hong Kong, Jackie Chan (O Mestre Invencível, 1994), encantava o mundo com seu estilo cômico de lutar. Logo seria também “explorado” na terra do Tio Sam em uma dezena de mídias diferentes, além dos blockbusters, roupas, brinquedos, revistas em quadrinhos e desenho animado.

Estes são apenas dois exemplos dentre uma infinidade possível. No subgênero “artes marciais”, ainda no início da década passada, algumas produções capricharam no visual e alcançaram sucesso comercial em todo mundo, como os impressionantes e belos O Tigre e o Dragão (2000, dirigido por um dos realizadores poderosos de Hollywood, o Taiwanês Ang Lee), Herói (2002, do diretor chinês Yimou Zhang, estrelado por Jet Li), O Clã das Adagas Voadoras (2004, também dirigido por Yimou Zhang).

Alguns anos depois, o diretor americano Martin Scorcese (Taxi Driver”, 1976) embolsou o Oscar de melhor filme e diretor com Os Infiltrados (The Departed, 2006), excelente refilmagem do thriller chinês Conflitos Internos (Mou gaan dou, 2002).

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Mas foi um pouco antes, ainda no final dos anos 90, que a trama de horror sobre Sadako e a fita de vídeo amaldiçoada (Ring – O Chamado, 1998), dirigido por Hideo Nakata, que o gênero fantástico oriental começou a invadir a América. O produtor Roy Lee, coreano naturalizado nos Estados Unidos, apresentou Nakata a Dreamworks, que acabou comprando os direitos para a refilmagem de Ringu por US$ 1,2 milhões. Quatro anos depois, com um orçamento de 40 milhões e direção de Gore Verbinski (Piratas do Caribe), estreava nos Estados Unidos O Chamado (The Ring, 2002). Grande sucesso de público, o remake faturou mais de US$ 230 milhões de dólares apenas em solo americano, abrindo as portas para as refilmagens de outras obras de horror asiáticas e para uma sequência que seria realizada em 2005, nas mãos do próprio Hideo Nakata (O Chamado 2, 2005).

Roy Lee, percebendo a oportunidade que tinha em mãos, fundou em conjunto com Doug Davison, a Vertigo Entertainment, empresa especializada em intermediar o direito para refilmagens americanas de filmes orientais. Em 2004, Lee negociou a refilmagem do horror japonês de Takashi Shimizu, Ju-on, transformado na versão americana em O Grito (The Grudge, 2004). O remake, produzido por Sam Raimi (de A Morte do Demônio), foi líder das bilheterias americanas e em quatro semanas superou os US$ 100 milhões (dez vezes o valor de seu orçamento). Uma sequência chamada O Grito 2 foi produzida em 2006, também dirigida por Shimizu. A fórmula certa para o sucesso havia sido descoberta e inevitavelmente vieram outras refilmagens, como Água Negra, refilmagem dirigida pelo brasileiro Walter Salles de outra obra de Nakata (Dark Water, 2002) e Pulse, refilmagem do filme japonês Kairo, de 2001. Dezenas de outras adaptações  foram lançados, entre eles: o ótimo horror dos Irmãos Pang, The Eye – A Herança (Gin gwai, 2002), teve uma nova versão lançada em 2008, O Olho do Mal, com direção dos franceses David Moreau e Xavier Palud (Ils, 2006, França) e a bela Jessica Alba (Machete, 2010) como protagonista; uma das boas surpresas do cinema tailandês, Espíritos – A Morte está ao seu Lado (Shutter, 2004), teve sua releitura em 2008, Imagens do Além, com direção do realizador japonês Masayuki Ochiai, do ótimo Infecção (Kansen, 2004, Japão) e a desconhecida adaptação para o cinema do game Parasite Eve (Parasaito Ivu, 1997, Japão). Uma safra de diretores cuja marca são o detalhismo e a originalidade, com carreiras sólidas (como Hideo Nakata, Takashi Miike, Park Chan-Wook e Takashi Shimizu) e produções com qualidades inquestiononáveis fazem do mercado de cinema fantástico asiático um dos mais produtivos e criativos da atualidade.

Podemos também afirmar que O Hospedeiro (Gwoemul) é um exemplar legítimo deste moderno cinema oriental. Produção sul-coreana de 2006, dirigida por Joon-ho Bong – que já trazia em seu currículo o eficiente Memórias de um Assassino (lançado em DVD no Brasil pela Europa Filmes) – foi sucesso absoluto de bilheteria em seu país de origem, conseguindo ainda agradar o público e a crítica pelos festivais ao redor do mundo (inclusive no prestigiado Festival de Cannes).

Com características de blockbuster holywoodiano, O Hospedeiro teve quase metade do orçamento de 10 milhões de dólares, valor considerado altíssimo para a indústria cinematográfica coreana, destinado aos efeitos especiais – efeitos que ficaram a cargo das empresas Weta Digital (responsável pelo O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel e King Kong), Creature Workshop (Deu Zebra!) e da The Orphanage (Jeepers Creepers 2 e Hellboy). O resultado deste esforço é compensador, pois a criatura concebida em CGI, se não chega a impressionar os mais conservadores fãs dos efeitos mecatrônicos, também não compromete em nenhum momento.

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O enredo é inspirado tanto num acontecimento real no qual um funcionário militar norte-americano despejou grandes quantidades de um ácido altamente tóxico no rio Han, em Seul, quanto num conto do célebre escritor H.P. Lovecraft. Curiosamente, a trama não poder ser encaixada facilmente num gênero cinematográfico específico. O roteiro é ao mesmo tempo assustador, engraçado e dramático; inteligentemente se deslocando entre os gêneros. Contudo, se fossemos obrigados a definir O Hospedeiro, o melhor rótulo seria o de “um filme de monstro”  – um filme de monstro como aqueles da década de 50 que despretensiosamente misturavam ficção científica e terror, como por exemplo O Monstro do Mar Revolto (1955), de Robert Gordon ou mesmo o oriental Godzilla (1954), de Inoshiro Honda.

Mas o que faz de O Hospedeiro um grande filme não é apenas a sua produção com ares de blockbuster e seus efeitos especiais. O roteiro escrito por Won-jun Ha, Chul-hyun Baek e Joon-ho Bong alterna cenas dignas de um empolgante filme de monstro para um profundo drama familiar ou um politizado protesto anti-América. Os dramas da família unida pela tragédia e que transformam o personagem bobalhão Kang-du num herói é o plot que torna o longa uma produção extremamente sensível. Já o posicionamento político é implícito no roteiro desde o início (o monstro mutante é efeito de um ato irresponsável de cientistas americanos). Mas a crítica mais direta vem no momento em que os Estados Unidos resolvem intervir na situação, afirmando que a criatura do rio Han é portadora do mortal vírus SARs (Síndrome Respiratória Aguda Grave) e atacam com uma arma chamada Agente Amarelo, que promete acabar com toda a diversidade biológica da região. Estas e outras alfinetadas tornam o filme ainda mais interessante.

O conjunto de bons atores que formam o elenco é o mesmo que colaborou com o diretor Joon-ho Bongem em Memórias de um Assassino. Destes destaca-se Song Kang-ho, um dos mais expressivos de sua geração na Coréia, interpretando o herói Kang-du, um homem de aproximadamente 40 anos, mas com uma idade mental muito inferior. É dele os momentos mais cômicos e também os mais tristes do filme.

No Brasil, O Hospedeiro foi exibido inicialmente em mostras especializadas, como a sessão Midnight Movies, no Festival de Cinema do Rio de Janeiro de 2006. Depois, o longa teve uma passagem rápida pelos cinemas brasileiros e um lançamento em DVD pela Imagem Filmes, num fato raro entre as nossas distribuidoras.

Enfim, O Hospedeiro é indicado tanto para os amantes do cinema produzido na Ásia, quanto para os que ainda desconfiam de tais produções. E os fãs do gênero fantástico continuem agradecendo ao cinema rodado lá do outro lado do planeta, quase sempre com qualidade e originalidade muito superior às releituras realizadas em Holywood. 

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João Pires Neto

João Pires Neto é apaixonado por livros, filmes e música, formado em Letras, especialista em Literatura pela PUC-SP, colaborador do site Boca do Inferno desde 2005, possui diversos contos e artigos publicados em livros e revistas especializadas no gênero fantástico. Dedica seu pouco tempo livre para continuar os estudos na área de literatura, artes e filosofia

4 thoughts on “O Hospedeiro (2006)

  • 18/08/2020 em 09:12
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    Que filme assombroso, entre outras inúmeras conquistas, pela soberba trilha – rasgos de Piazzolla e Villa-Lobos- que pincela a temática transmitindo-nos emoções que somente a junção musical à tela pode perfazer! Sátira e crítica mordaz por aqui em enquadramentos nas cenas, personagens e caracterização do “monstro” como algo totalmente verossímil complementam com maestria esta renderização estética de direção eficaz neste longa e divertidamente assumido trabalho cinematográfico, merecendo um 10!

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  • 15/11/2017 em 21:19
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    kkkk é sério que acharam isso bem feito? kkkk

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  • 02/08/2015 em 16:20
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    Adorei o filme…..meio canastrão e efeitos de primeira…….diferente do que as produções americanas nos apresentam…..

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  • 11/04/2015 em 22:03
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    Este filme é muito bom, eu comprei o dvd dele, é um filme muito bem feito.

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