O Anfitrião Perfeito (2010)

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O Anfitrião Perfeito (2010)

O Anfitrião Perfeito
Original:The Perfect Host
Ano:2010•País:EUA
Direção:Nick Tomnay
Roteiro:Nick Tomnay, Krishna Jones
Produção:Mark Victor, Stacey Testro, Rick Feder
Elenco:David Hyde Pierce, Clayne Crawford, Tyrees Allen, Nathaniel Parker, Cooper Barnes, Megahn Perry, Annie Campbell, Helen Reddy, Indira G. Wilson

É ótimo constatar que existam suspiros de inteligência no desgastado cinema norte-americano, ainda que venham exatamente de onde esperamos – ou seja, distante dos grandes estúdios. Em tempos de refilmagens, paródias, continuações, adaptações e reciclagens, é sempre gratificante assistir à uma pequena e inesperada surpresa como O Anfitrião Perfeito (The Perfect Host, 2010).

E não há grandes segredos para a eficiência deste longa, escrito e dirigido pelo estreante Nick Tomnay. A fórmula que garante tensão e ritmo acelerado constante é demasiada simples: uma trama engenhosa e relativamente original associada a um formidável vilão – no caso o anfitrião psicopata interpretado com maestria pelo ator David Hyde Pierce (da série Frasier, 1993-2004). Nesta trama – onde já adianto, nada é exatamente o que parece ser – o jovem e perigoso assaltante a bancos John Taylor (Clayne Crawford, de Os Desconhecidos, 2006), ferido, se refugia na casa do pacato Warwick Wilson (Hyde Pierce), um educado senhor que aguarda alguns amigos para um jantar. Mas a noite é longa e incerta – e com o passar das horas muitos segredos serão revelados.

O enredo envolvente e espirituoso de O Anfitrião Perfeito trabalha muito bem o humor negro, flertando de leve com o torture porn (embora este se desconstrua em determinado momento) e com os suspenses mais tradicionais. Porém o grande atrativo – a série de reviravoltas – apesar de bem dosadas e estrategicamente distribuídas pelos 93 minutos de duração, podem se tornar cansativas para aqueles que levarem o filme a sério demais – fica o aviso. Vale lembrar que o longa é uma produção semi-independente rodada em apenas 17 dias (com um orçamento limitado de U$ 1 mi) e tem como um dos principais méritos tentar não seguir a risca a cartilha de Hollywood.

O Anfitrião Perfeito foi exibido pela primeira vez em janeiro de 2010 no Festival de Cinema de Sundance, onde recebeu críticas desencontradas que iam das mais calorosas ao desprezo total. Enfrentou uma maratona de mostras e festivais nos meses que se seguiram, entre eles o FantAsia (Montreal) e o Stiges 2010. No ano seguinte ganhou os prêmios do público no Festival de Cinema Fantástico de Amsterdã (2011) e de melhor diretor no Abertoir Film Festival 2011. Infelizmente, foi comercialmente mal distribuído e acabou passando despercebido nas salas americanas quando estreou em Julho de 2011 e continua inédito no Brasil.

(o trecho a seguir traz spoilers – revelações importantes sobre o enredo)

As reviravoltas:

1 – O Vilão: os próprios pôsteres oficiais ou o título do filme trazem um considerável spoiler: o verdadeiro vilão é o pacato anfitrião e não o “perigoso” ladrão de bancos – que de perigoso não tem nada. Na verdade John Taylor teria planejado o assalto para conseguir o dinheiro necessário para pagar uma cirurgia para a namorada.

2 – Os convidados do vilão: eles não existem, a não ser na imaginação de Warwick Wilson. Ainda que este tipo de reviravolta já tenha sido abordada em produções bem mais pretensiosas, como O Clube da Luta (1999) e Identidade (2003), o desempenho brilhante de David Hyde Pierce faz do seu personagem memorável, merecedor de entrar para a galeria dos melhores psicopatas do gênero.

3 – Uma noite alucinante: no dia seguinte ao ensandecido jantar, cujos convidados são meia dúzia de personagens imaginários e um assaltante a bancos embriagado por um “boa noite cinderela“, vemos o corpo de John Taylor em meio a um amontoado de lixo; pelo corpo diversos ferimentos, inclusive um corte profundo no pescoço. Estaria o protagonista morto antes da metade do filme? Não, apenas fomos enganados mais uma vez: os ferimentos são falsos, o sangue é falso e os hematomas também – tudo apenas maquiagem. Descobrimos então que o anfitrião psicopata não é um maluco convencional: ele droga suas vítimas e faz com que elas pensem que estão sendo torturadas de verdade e que serão mortas (em determinado momento Warwick mostra a John um álbum com fotos de suas outras supostas vítimas esquartejadas).

4 – O delegado de polícia: e não é que Warwick é um delegado de polícia? E coincidências a parte, no dia seguinte ao do jantar, é encarregado por seus superiores da investigação ao assalto ao banco cometido por John Taylor!

5 – A Namorada do Herói: ela não estava doente e não precisava do dinheiro do assalto para nenhum tratamento médico. Ela estava enganando o namorado e planejava fugir com toda a grana.

6 – E com quem fica o dinheiro do assalto? Nem com o protagonista, nem com a namorada piranha. O dinheiro acaba mesmo é nas mãos do vilão-anfitrião-maluco-de-carteirinha.

Enfim, O Anfitrião Perfeito é uma boa alternativa entre tantas porcarias lançadas recentemente – é inteligente e eficaz, com um bom elenco conduzido por um ator pouco conhecido, mas com um desempenho merecedor de aplausos e que dá vida a um vilão que já nasce antológico. E se não é um novo clássico ou obra-prima (e certamente não é), pelo menos se sustenta com mais originalidade e estilo do que a maioria dos lançamentos recentes oriundos da terra do Tio Sam.

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João Pires Neto

João Pires Neto é apaixonado por livros, filmes e música, formado em Letras, especialista em Literatura pela PUC-SP, colaborador do site Boca do Inferno desde 2005, possui diversos contos e artigos publicados em livros e revistas especializadas no gênero fantástico. Dedica seu pouco tempo livre para continuar os estudos na área de literatura, artes e filosofia

5 thoughts on “O Anfitrião Perfeito (2010)

  • 23/08/2016 em 13:30
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    Você pode ter gostado do filme, mas não é por isso que ele merece 4 estrelas de 5. Eu acabei de assistir, e, sinceramente, foram 1 hora e 30 minutos de tempo perdido. Esse é o filme mais sem sentido que eu já vi na vida, tem várias coisas que precisam ser explicadas. Por que o Warwick torturava pessoas e colocava maquiagem nelas depois pra fingir que eram machucados? Por que ele inventava pessoas invisíveis? …. Essas são duas das muitas dúvidas que esse filme CONFUSO deixa.

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    • 12/10/2016 em 21:07
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      Ele não inventava pessoas invisíveis. Para ele, na sua cabeça um tanto quanto perturbada, elas realmente eram reais…

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  • 02/09/2013 em 16:34
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    Esse filme é muito bom! Tenho até o dvd!

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  • 23/04/2013 em 00:37
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    MAS UM QUE TENHO QUE ASSISTIR.

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    • 25/09/2016 em 17:53
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      Filmaço!1 concordo com a crítica!
      Esse ‘anônimo’ que comentou acima não entende nada de filme!.Completo boçal
      Filme pra fazer parte de qq acervo e ser visto periodicamente!!

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