4.8
(6)

Uma Noite Alucinante 2
Original:Evil Dead II
Ano:1987•País:EUA
Direção:Sam Raimi
Roteiro:Sam Raimi, Scott Spiegel
Produção:Robert G. Tapert
Elenco:Bruce Campbell, Sarah Berry, Dan Hicks, Kassie Wesley DePaiva, Ted Raimi, Denise Bixler, Richard Domeier, John Peakes, Lou Hancock, Scott Spiegel

A lenda diz que o livro foi escrito pelos que estão na escuridão, Necronomicon Ex-Mortis, brutalmente traduzido, O Livro dos Mortos. O livro serviu como passagem para o mal do outro mundo. Foi escrito há muito tempo. Quando os mares encheram-se de sangue. E foi com esse sangue que o livro foi escrito. No ano 1300 A.C. este livro desapareceu.

Essa introdução narrada dá início ao filme intermediário da cultuada trilogia criada por Sam Raimi em 1982 com Evil Dead (No Brasil recebendo o infeliz título de A Morte do Demônio) e concluída em 1993 com Army of Darkness (Exército da Escuridão). O primeiro filme é um dos maiores destaques do cinema de horror de todos os tempos, apresentando uma violência crua e direta com cenas grotescas de grande impacto visual, com direito a decapitações e esquartejamentos a machadadas num brutal banho de sangue, tornando-se um forte inspirador para diversas obras seguintes e um clássico moderno do gênero. O terceiro filme da franquia está mais voltado para o humor, mostrando as aventuras do herói Ashley na época medieval combatendo demônios alados e um exército da escuridão formado por mortos-vivos.

Evil Dead II recebeu no Brasil o título de Uma Noite Alucinante 2 – Mortos ao Amanhecer. Foi produzido em 1987 pela mesma equipe principal de criação do filme original, sendo na verdade uma refilmagem de um mesmo argumento, em vez de uma sequência como poderia ser imaginado inicialmente.

Uma das grandes diferenças entre ambos os filmes foi que o diretor Sam Raimi (de Darkman e Homem-Aranha) preferiu adotar uma linha mais humorística (com inspiração na antiga série de televisão Os Três Patetas, conforme informações dele próprio), apesar de não faltarem as cenas agressivas, acrescentando alguns elementos e personagens novos na história original, e adotando um final que possibilitasse uma continuação, como aconteceu de fato alguns anos depois com Army of Darkness, igualmente voltado para o humor negro. Uma outra diferença também é que dessa vez o diretor teve a sua disposição um orçamento bem maior para a produção, financiada pela poderosa empresa de Dino de Laurentiis, e ele pode contar com efeitos especiais mais avançados que os do primeiro filme.

A história traz um casal de jovens, Ashley (Bruce Campbell) e sua namorada Linda (Denise Bixler), que pára numa cabana isolada nas montanhas para descansarem. Lá eles encontram o Livro dos Mortos, um antigo e raro artefato manuscrito cujo perigoso conteúdo incluía uma série de ilustrações macabras e passagens cabalísticas que uma vez recitadas possibilitavam a ressurreição de ferozes demônios adormecidos. Junto ao livro havia um gravador e por curiosidade eles ouvem a narração de um arqueólogo, Professor Knowby (John Peaks), descobridor da obra maldita perdida em escavações.

Aqui é o Professor Raymond Knowby, do Departamento de História. Registro número 2. Eu acredito que tenha feito uma descoberta significativa no Castelo de Kandar, quando viajei para lá com minha esposa Henrietta, minha filha Annie e o professor adjunto Eddie Kate. Foi na parte dos fundos do castelo que encontramos algo extraordinário, Tatolo di Monto, o Livro dos Mortos. Minha esposa e eu trouxemos o livro para esta cabana para que eu pudesse estudá-lo com tranquilidade. Foi aqui que comecei a tradução. O livro fala de uma presença espiritual. Uma coisa do mal que vaga pela floresta e sobre as forças negras que dominam os homens. É pela declamação das passagens do livro que esses espíritos sem luz conseguem licença para possuir os vivos. Estão aqui registradas as palavras pronunciadas por aquelas passagens. Kandar Extrata Amantus. Aregreates. Kat. Nosferatus. Kandar Amantus Kandar.

Inadvertidamente, a reprodução dessas palavras de antigos rituais funerários possibilitou a possessão de Linda por um demônio kandariano, obrigando Ash a decapitar brutalmente sua namorada. O próprio Ash passou a enfrentar em seguida um demônio que vez ou outra se apossava de seu corpo e depois de forma definitiva em sua mão direita, obrigando-o a decepá-la com uma motosserra, que mais tarde foi implantada no lugar do membro amputado. Após uma série de confrontos hilariantes de Ash contra sua mão possuída, surgiram na cabana a filha do arqueólogo, Annie (Sarah Berry), e seu colega Ed (Richard Domeier), que estavam à procura do Prof. Knowby e sua esposa Henrietta (Lou Hancock), trazendo novidades sobre o Livro dos Mortos, através da descoberta de algumas páginas inéditas com passagens que poderiam devolver o mal ao seu universo de origem. No caminho eles encontraram numa estrada próxima à cabana um outro casal, Jake (Dan Hicks) e Bobby Joe (Kassie Wesley), que se juntou a eles. Uma vez todos reunidos na cabana, o jovem Ed é a próxima vítima dos demônios libertados, sendo possuído por um espírito maligno e sentindo o peso de um machado cortando-lhe a carne. Depois foi a vez de Bobby Joe ser violentamente espancada por árvores fantasmagóricas que estavam sob a influência das forças negras da floresta, tendo em seguida seu namorado Jake completamente trucidado por um demônio que possuiu o corpo de Henrietta, cuja criatura horrenda (interpretada por Theodore Raimi, irmão do diretor) estava enterrada no chão do porão da cabana, conforme informação da fita gravada pelo Prof. Knowby.

Faz apenas algumas horas que traduzi e falei em voz alta a primeira passagem da ressurreição do demônio do Livro dos Mortos. E agora receio que minha esposa tenha se tornado hospedeira de um demônio kandariano. Que Deus me perdoe pelo que eu tenha feito nesta terra… Na noite passada, Henrietta tentou me matar… Hoje é 1 de outubro, 16:30 horas e Henrietta está morta. Eu não consegui mutilar o seu corpo, mas o empurrei para baixo pela escada. E eu o enterrei. Eu a enterrei no porão. Deus, me ajude. Eu a enterrei no chão daquele porão.

Restando apenas o herói Ash e a mocinha Annie, a filha do arqueólogo, coube a eles a árdua missão de um confronto final com os demônios, expulsando o Mal através da citação de algumas palavras mágicas do Livro dos Mortos, conseguindo abrir uma fenda temporal no espaço e criando uma comunicação com uma época medieval onde demônios voadores habitavam o mundo e aterrorizavam os humanos.

O segundo filme da trilogia de Sam Raimi está repleto de cenas engraçadas como a dança do cadáver decapitado e possuído de Linda, a namorada de Ash, numa sequência filmada no tradicional stop motion (técnica desenvolvida com extrema habilidade por Ray Harryhausen em dezenas de filmes há mais de 50 anos atrás). Outro momento de refinado humor negro é quando a mão direita de Ash fica possuída por um demônio obrigando-o a decepá-la. Ele tenta matar a própria mão que faz gestos obscenos e emite ruídos esquisitos. Além da sequência impagável onde uma cabeça de alce pendurada na parede como troféu de caça e vários outros objetos inanimados da cabana começam a dar enormes e irritantes gargalhadas provocativas contra Ash, que estava imerso num verdadeiro universo de loucura. Aliás, o herói estava o tempo todo sendo atormentado por terríveis alucinações e manipulações de sua mente pelos demônios, confundindo constantemente realidade e fantasia.

Como curiosidade, num exercício de profundo bom humor, Raimi mostrou a capa de um livro em forma de antologia de diversos autores, intitulado Adeus às Armas (A Farewell to Arms), numa referência à nova condição da mão possuída de Ash, decapitada de seu braço original pois “arms” também significa “braços“. Outro fato curioso e diferente foi o uso de sangue verde na sequência de mutilação do demônio que havia possuído o corpo de Ed.

São várias também as cenas de destaque, como os violentos golpes de Ash com uma motosserra contra a cabeça decepada de Linda; ou os vários banhos de sangue, em verdadeiras enxurradas de molhar até os espectadores; ou a cena onde Bobby Joe engole um horrendo olho da Henrietta possuída, com os nervos e tudo mais, ou ainda o ataque feroz das árvores possuídas da floresta contra as paredes da cabana, lembrando as fascinantes criaturas ents do universo ficcional de O Senhor dos Anéis, de autoria do escritor J. R. R. Tolkien.

Evil Dead II é um ótimo filme de horror com elementos de humor negro, amparado por um orçamento significativo e efeitos especiais mais desenvolvidos que seu antecessor, The Evil Dead, filmado cinco anos antes. Porém, o filme original, sem a inclusão de humor, é definitivamente insuperável, não sendo necessárias continuações ou a criação de uma franquia sobre o tema como aconteceu. Seria bem melhor se o diretor Sam Raimi tivesse filmado outras produções com a sua desejada linha humorística, utilizando o filme original de 1982 apenas como inspiração para a criação de um universo ficcional similar, com outro nome e personagens. The Evil Dead mostrou uma chocante história de horror sobre mortos malignos possuindo os vivos e terminou de forma fenomenal, longe do tradicional e trivial final feliz. Já Evil Dead II e Army of Darkness, também grandes filmes onde Raimi pode exercitar todo o seu humor, deveriam ser independentes da primeira criação do cineasta.

De qualquer forma, a cultuada trilogia Evil Dead é indispensável para os fãs do gênero, tendo seu lugar garantido entre os grandes destaques na história do cinema de horror.

Nós somos as coisas que eram e que serão novamente… Espíritos do livro… Nós queremos o que é nosso apenas… Mortos… ao amanhecer. Mortos ao amanhecer.

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13 Comentários

  1. O primeiro filme foi razoável, mas esse é péssimo. Se em 1981 foi feita uma boa introdução dos personagens ao cenário proposto, em 1987 a entrada da sequência (ou paródia?) é feita de forma preguiçosa e mal feita. Isso pode ser visto, levando em conta que os primeiros 30 min não avançam em nada na trama e é puro lenga lenga. Caso fosse cortado da edição final, esse primeiro terço do filme não faria diferença, serve apenas para mostrar a luta entre as entidades e Ash – coisa que o público já viu no primeiro filme.

    Considero como ponto positivo, o fato de Ash estar mais “inteligente” se comparado ao anterior, pois as decisões dele já não são tolas como no outro. Além disso, as cenas de violência e lutas com as entidades são bem feitas e merecem destaque a cena do olho sendo engolido pela Bobby Joe e da mão fazendo o gesto obsceno. De modo geral, é válido observar como Sam Raimi contribuiu no cinema de horror (não confundir com terror) e seus filmes abriram as portas para outros cineastas explorarem o gênero nos anos seguintes. Evil Dead andou para que outros filmes pudessem correr.

  2. É um filme a ser respeitado, admirado. Clássico absoluto do gênero; como diz a frase de início do artigo “obrigatório para os fãs do cinema de horror”. Sobre o filme não há o que se falar, é perfeito! Minha única observação é; o filme é sim uma continuação direta de Evil Dead (1981) por mais que os produtores neguem. Ele praticamente começa do ponto final do primeiro filme.

  3. Eu devo ser umas das poucas pessoas que acha esse filme ridículo e incrivelmente idiota, assim como os outros da trilogia. Por ser antigo os efeitos não botam medo, e isso é normal pra quem vê filmes dessa época, mas a historia é muito sem nexo, mas eu vejo que tem poucas pessoas que concordam comigo, e eu acho extremamente exagerado e mal feito. Principalmente o de 2014, é horrível e eu fui assistir porque um amigo meu disse que era ótimo, dava muito medo, que tinha sido um dos melhores filmes que ele já viu na vida e depois que eu assisti a unica vontade que eu tinha era chegar e dar um tapa na cara dele, eu não levei um único susto e só senti nojo. Mas é apenas minha opinião.

    1. É a sua opinião, beleza. Mas pra quem gosta de cinema, e principalmente de filmes de horror Evil Dead é um filme a ser cultuado. Por toda dificuldade que os produtores tiveram em realizá-lo, pela audácia nas cenas violentas, por criar um protagonista tão carismático como Ash. Olhe com mais olhar técnico essa pérola, assista como se tivesse nos anos 80. Eu assisti pela primeira vez aos 12 anos, na Band em meados de 2005 e achei INCRÍVEL!

    2. Ahahaha você não é a única, também acho ridículo e sem noção, a intenção de colocar humor gerou cenas onde não dá nem pra rir, nem pra se assustar, fica só a sensação de perder tempo. Se o filme se destaca, é o fato de elevar os efeitos toscos dos anos 80.
      Mas parece que se manifestar isso não entende de “arte”, nem é um fã “verdadeiro” de terror.

  4. Nunca ví um lixo maior que esse filme. Pode até ter méritos por ser antigo mas essa sequência foi uma c*!!!!!!!!

  5. Melhor filme de terror que já vi o primeiro é excelente mesmo com pouca grana o Sam acabou com os filmes da atualidade !

  6. Sem duvida, um filme excelente.
    Dizem que é melhor que o primeiro, ou o melhor da Trilogia. Não sei de onde tiraram isso, porque todos são igualmente maravilhosos.
    Assim como aconteceu com o primeiro, assisti esse em VHS, mas, ao contrario daquele, a imagem era clarinha, nítida e bonita, diferente da imagem atual.
    Meu momento favorito foi a possessão de Ed, naquela cena engraçada, onde ele flutua pela casa, falando como se fosse o Livro dos Mortos.
    Claro, que, atualmente é difícil dizer qual o melhor momento, porque são tantos.
    Independente de ser continuação ou remake, “Evil Dead 2” ganha do remake do primeiro em todos os quesitos.
    Recomendável assistir à Trilogia Evil Dead completa.

  7. não gostei, por nao ser uma continuação!… , parece q ASH, nem se lembra do q ocorreu. So curtir pq foi revelado quem caminhava na floresta

    1. Na verdade não é uma continuação, mas sim uma refilmagem com muito mais grana e com isso com condições de trabalharem os efeitos especiais muito melhor do que no filme A Morte do Demônio.

  8. adoro o 1 e esse,só o 3 que não me agradou muito.

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