À Prova de Morte (2007)

2.3
(3)

À Prova de Morte
Original:Death Proof
Ano:2007•País:EUA
Direção:Quentin Tarantino
Roteiro:Quentin Tarantino
Produção:Robert Rodriguez, Erica Steinberg, Quentin Tarantino, Elizabeth Avellan
Elenco:Kurt Russell, Zoe Bell, Rosario Dawson, Vanessa Ferlito, Sydney Tamiia Poitier, Tracie Thoms, Rose McGowan, Jordan Ladd, Mary Elizabeth Winstead, Quentin Tarantino, Marcy Harriell, Eli Roth, Omar Doom, Michael Bacall, Monica Staggs

Quentin Tarantino já declarou, em uma entrevista recente, que considera À Prova de Morte, seu episódio no projeto Grindhouse (que também incluía o divertidíssimo Planeta Terror, de Robert Rodriguez), como seu pior filme. Nenhum problema aí, já que o objetivo de Grindhouse era criar filmes bons de tão ruins. O problema é que, tentando criar um filme bom que deveria parecer ruim, mas por isso mesmo ser bom, Tarantino acabou criando um filme ruim que pensa que é ruim de tão bom, mas é apenas ruim mesmo, o que acaba fazendo-o um ótimo filme… ufa! Vamos tentar desembolar essa bagunça?

Grindhouse foi um projeto de 2007, constituído dos dois filmes acima citados, mais quatro trailers falsos. O conceito era recriar uma sessão dupla dos antigos filmes exploitation dos anos 70 e 80. Para isso, fez uso de gimmicks como rolos perdidos, filme arranhado, roteiros idiotas e por aí vai. O que fez o projeto ser um fracasso foi a dificuldade de Tarantino e Rodriguez em entenderem o que fazia os filmes grindhouse tão legais: eram produções baratas que tentavam se esforçar ao máximo para entreter o espectador. E o que a dupla dinâmica fez foi o inverso: com orçamentos gigantes, tentaram fazer de tudo para parecerem produções vagabundas. Quem sabe se apenas tivessem pegado um orçamento baixo (500 mil pra cada um dava e sobrava), efeitos toscos, atores ruins, e por aí vai, o resultado não fosse mais eficiente?

(E, como um adendo, é incrível o quanto o cinema de Tarantino é assexuado, mesmo quando ele se propõe a ser exploitation. Mas vamos em frente…)

A história de À Prova de Morte apresenta Stuntman Mike (Kurt Russel, ótimo num papel que foi oferecido a Sylvester Stallone, Ving Rhames e Mickey Rourke) um dublê psicótico de Hollywood que tem um prazer diabólico em matar jovens garotas em colisões automobilísticas. Stuntman Mike tem uma coleção de carros à prova de morte, ou seja, veículos especialmente adaptados para que dublês como ele possam escapar ilesos dos piores acidentes.

A primeira metade de À Prova de Morte se foca em um grupo de garotas que cruzam o caminho de Stuntman Mike, e serve para nos apresentar aos métodos do cruel assassino. A segunda metade (infinitamente inferior) trata de outro grupo de garotas mais duronas, que não vão deixar Stuntman Mike ter o que quer tão facilmente.

Para entender À Prova de Morte e seus defeitos, é preciso entender que a carreira de Tarantino tem duas fases. A primeira, que vai de Cães de Aluguel a Jackie Brown, foi a que solidificou seu nome no cinema. Eram filmes que subvertiam os padrões dos filmes de crime e máfia, e acabaram sendo o cartão de visita do queixada. Já a segunda fase, que começou em Kill Bill e vem até hoje, é a fase que eu gosto de chamar fase do “meu filme”. Essa denominação vem de uma entrevista do próprio Tarantino no DVD de Kill Bill V. 1. Foi a fase em que ele decidiu “vou fazer meu filme” de kung fu, (Kill Bill), “meu filme” de carros (À Prova de Morte), “meu filme” de guerra (Bastardos Inglórios), “meu filme” de faroeste (Django Livre), e sabe-se lá o que vem pela frente.

As duas fases têm seus erros e seus méritos. E o maior problema da fase “meu filme” não está no “filme”, mas no “meu”. O ego do sujeito foi às alturas, e ele passou a ficar auto-referencial e autoconfiante ao extremo. Isso funciona em alguns momentos, como é o caso de Kill Bill, mas é simplesmente desastroso em coisas como Django Livre e À Prova de Morte.

Aí é que está a questão: À Prova de Morte TINHA que ser um desastre para dar certo!

E é por isso que, na autoconfiança de Tarantino de estar fazendo uma obra prima que fingia ser ruim, ele acabou fazendo um filme horrível, chato, monótono, sem sal e sem carisma – exatamente o que ele procurava emular! E ele criou um legítimo filme grindhouse, assim como aquelas longas e tediosas produções de cineastas incompetentes, mas que nós amávamos por algum motivo.

Não que À Prova de Morte não tenha méritos. Kurt Russel está ótimo, assim como grande parte do elenco feminino. A perseguição no fim do filme é ótima. Se o roteiro tivesse sido dado para um diretor mais preocupado em fazer o filme, e menos preocupado em olhar para a câmera como se fosse um espelho, teríamos um filme de ação competente. O que tivemos foi, sim, um exercício de arrogância, mas que acabou dando certo pelas razões erradas.

Não era isso que nós esperávamos na época, e por isso o filme foi um fracasso retumbante nas bilheterias. E Quentin vem cada vez esquecendo que um bom roteiro tem que ser antes de tudo uma boa história e não um exercício de estrutura (sério que o de Django Livre levou um Oscar?) e dificilmente vai produzir algo dessa espécie no futuro. Não digo que isso é uma pena, só digo que o torna cada vez menos interessante para mim, particularmente.

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Matheus Ferraz

Mineiro, autor publicado e mestre em Biografia pela University of Buckingham

35 thoughts on “À Prova de Morte (2007)

  • 31/08/2013 em 12:32
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    Gostei desse filme. Obviamente, não é o melhor do Tarantino. Mas tem… seu charme, sua graça, sei lá.

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  • 12/07/2013 em 19:54
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    Adoro esse filme.Àquela perseguição final não me canso de rever.

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  • 29/05/2013 em 04:59
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    Eu Discordo da critica,death proof pode não ser nenhuma obra-prima mas é um bom filme sim,melhor que muitos filmes por.

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  • 25/05/2013 em 03:24
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    Quando assisti esse filme, achei ruim demais. Até fiquei meio abalado sem saber se eu que não tinha prestado atenção na obra do tarantino ou o roteiro que era chato mesmo. Pelo menos eu sei que não fui único a não achar muita graça no filme KKKKKKKKK

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  • 23/05/2013 em 23:19
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    um adendo ao meu comentario abaixo.. o que menos gostei do tarantino foi com certeza o bastardos inglorios, que nao é ruim, mas nao é nem muito louco, nem epico.. achei que tem o estilo dele, mas meio sem peso, nao me impactou nem pelo clima, nem pelo estilo , nem pela historia

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  • 23/05/2013 em 23:17
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    pow eu gostei de django – achei menos estilizado, mas bem epico, curti bastante o filme !

    e acho o death proof muito bom kk estilozao, me diverti muito vendo, alias das partes do grindhouse, é a minha preferida com certeza…

    aquele lance da dança no bar – que me lembrou o drink no inferno – muito estilosa – e a perseguição é muito louca – e eu nao gosto de filmes de carros e perseguiçoes geralmente, acho muito chato… esse foi uma grande surpresa kkk

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  • 20/05/2013 em 12:42
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    Não concordo com a crítica. Primeiro, Death Proof, assim como Planeta Terror e Machete, não são produzidos para vermos como obras-primas. A intenção é mais do que clara quando assistimos.

    Quanto a Django, não é o melhor dele, mas longe de ser ruim. E Tarantino, para o bem ou para o mal, ele conseguiu criar um estilo próprio. Seria estranho se todos seus filmes fossem só de mafia, como os do começo da carreira.

    Scorserse fez um filme em 3D para o público infantil e ficou sensacional.

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  • 19/05/2013 em 23:07
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    Mais Hein? Eu sei que opinião é opinião, mas falar mal do filme dessa maneira é sacanagem, eu sei que Á prova de morte não é mil maravilhas, mas Django? Fica difícil entender alguém que fala mal do Tarantino e elogia um filme Do Rob Zombie. O que veremos depois? Um Ode a Uwe Boll?

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    • 20/05/2013 em 02:43
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      Pois é, so falta ele elogiar Seed agora,rs

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  • 19/05/2013 em 20:27
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    Não concordo em nada nessa critica, esse Death Proof pode não ser otimo, mas é melhor que muitos filmes holywoodianos por ai, no quesito diversão ele não deixar a desejar sem contar, que a trilha sonora,fotografia e atores estão perfeitos, nada de anormal, afinal Tarantino sempre acerta a mão nesses itens. Agora queria que alguem me explicasse por que Django é ruim? Alias o Matheus fala que Lords of Salem é classico e detona o Tarantino, vai entender.

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      • 20/05/2013 em 08:28
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        tbm concordo,eu adoro a trasheira que é esse filme,e olha que por eu ser mulher era pra eu odia-lo,mas é bem divertido,e o melhor,em nenhum momento se leva a sério.

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    • 15/02/2014 em 02:30
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      Sem comentários dizer que Lords of Salem é bom e descer a lenha em Prova de morte, como já postaram aqui só falta elogiar Seed.

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  • 19/05/2013 em 11:58
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    Adoro Death Proof! Criticas nao sao para serem levadas ao pé da letra, é apenas uma opiniao. O q nao é bom para uns, é bom para outros.

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  • 19/05/2013 em 01:49
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    Só discordo quando fal que Django Livre é uma desgraça. Não sei onde, já que este é um de seus melhores filmes. E alem do mais ele era o principal comocreente de a hora mais escura, isto sim uma verdadeira desgraça.

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  • 19/05/2013 em 01:29
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    eu gosto muito dos filmes do Tarantino e do tim burton justamente por terem sua propria personalidade como o Valder disse

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  • 18/05/2013 em 23:26
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    Quanto ódio por Django Livre, eu achei um ótimo filme. Death Proof é um bom filme, ele só longo é demais, o que o deixa massante, apesar que eu tenho por justificativa que é por que ele juntou 2 filmes em um sendo a 1ª parte um filme, e a 2ª parte a continuação, que como faltaria partes dos dois filmes, teriam colados os dois filmes em um. O filme tem tudo que um filme trash tem, e foi estilizado para ser como um filme grindhouse, já frequentado pelo próprio Tarantino, antes de fazer filmes. O problema do “meu” do Tarantino está se você não tem o mesmo gosto que ele, eu por exemplo vi muito filme de kung fu bem antigão chinês, vi muito elementos desses filmes em Kill Bill, numa historia no minimo interessante, o que me faz gostar de Kill Bill. O que acontece atualmente é que ele está mais “ousado”, veja que Bastardos Inglórios é um filme de guerra que não mostra a guerra. Django Livre é um faroeste que se passa no sul dos EUA. É uma mistura de originalidade com cópias de elementos de filmes mais antigos (lembrando sempre que originalidade nem sempre quer dizer bom). Lembrando que só estou expondo minha opinião. Na verdade é a primeira vez que vejo pessoas falando mal de filmes do Tarantino.

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    • 02/07/2013 em 10:17
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      Ahhh, as “tarantinetes” estão descontroladas… kkkkk
      Não entendo porque tem tanta gente babando ovo em cima desse diretor. Ele é bom, mas tá longe de ser um gênio do cinema. Ele basicamente criou um estilo, realmente, mas se tornou prisioneiro deste “estilo” e não consegue criar coisas realmente novas no cinema. Pra mim, ele tá no mesmo nível de Z. Snyder, C. Nolan… é um ótimo diretor, nada mais!

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  • 18/05/2013 em 19:46
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    Talvez provenha da saturação de filmes sem personalidade a satisfação de assistir a um filme assim, julgo então este, excelente, do começo ao fim… Espero que Tarentino se atenha cada vez mais a seu estilo próprio que, na minha opinião, é praticamente indefinível…

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  • 18/05/2013 em 14:10
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    Gosto do filme e do estilo do Tarantino, de “refilmaker” (acabei de inventar a palavra) assumido. Afinal, no meu entendimento, não existe (na verdade nunca existiu) nada original. Tudo o que é feito (filmado, cantado, pintado…) está impregnado por influências anteriores e, consciente ou não, tudo se resume a refilmagens, paródias, continuações, releituras, adaptações para mídias diferentes….
    Na obra de Tarantino, esta característica é mais latente, pois há uma espécie de hiperbolismo em que tudo é exagerado, nos forçando a reviver as obras anteriores.

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  • 18/05/2013 em 13:48
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    Estranho! O filme é tão elogiado em muitos meios de comunicação que li!!!

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  • 18/05/2013 em 13:33
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    Eu amo o Planeta Terror e fui assistir esse com as mesmas expectativas. Resultado: decepção e tédio. Filme horrível, lento e sempre querendo ser “cool”. Não gosto de como o povo trata os filmes desse diretor, dos poucos que vi não gostei de nenhum. Só as atrizes que são legais e também a cena do acidente, que é foda! Davam pra ter feito as partes boas como um curta, aí sim ficaria muito legal, mas transformar num filme com cada diálogo pior que o outro (que o povo insiste em dizer que é genial) é ridículo.

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  • 18/05/2013 em 11:46
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    Acho o Tarantino superestimado. Assisti Kill Bill e Death Proof somente pela questão do Girl Power que eu sabia que ambos os filmes “vendiam”, e por ter conhecimento da violência gráfica exagerada presente nas produções dele. Tanto é que não assisti nem pretendo Bastardos Inglórios e Django LIvre. Pra mim, Tarantino e Tim Burton possuem uma identidade muito própria, o que torna todos os filmes que cada um lança muito chatos e parecidos.

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    • 18/05/2013 em 12:32
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      Curto muito Tarantino e suas obras,acho que ele tem personalidade e sua própria identidade,tanto ele como Tim Burton.Cada filme seu tem um gênero totalmente diferente e ele coloca sua identidade que basta você ver em relance já diz “esse filme é do Tarantino!”.Nossa gosto muito disso.
      E estou aguardando suas novas produções!!!

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    • 19/05/2013 em 20:14
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      Tbm acho isso. Tanto é que o único filme que eu gosto do Tarantino é Pulp Fiction, os outros são muitos chatos. E esse a prova da morte é péssimo

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    • 20/05/2013 em 22:45
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      Respeito sua opinião,mesmo sendo um amante dos filmes do Tarantino,mas por favor,não coloque o nome dele junto com o do Tim Burton que atualmente,convenhamos,não faz nada que preste 100%

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    • 02/07/2013 em 10:19
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      Grande Robson!! Fico feliz que vc pensa assim… achei que o universo todo venerasse esse diretor como um deus!!!

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    • 28/06/2014 em 17:33
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      Bastardos Inglórios é o melhor filme do Tarantino – e o menos Tarantino de todos – e também acho Django e Death Proof os mais fracos dele.

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