Círculo de Fogo (2013)

3.3
(3)

Círculo de Fogo
Original:Pacific Rim
Ano:2013•País:EUA
Direção:Guillermo del Toro
Roteiro:Guillermo del Toro, Travis Beacham
Produção:Jon Jashni, Mary Parent, Thomas Tull
Elenco:Charlie Hunnam, Idris Elba, Rinko Kikuchi, Diego Klattenhoff, Charlie Day, Burn Gorman, Max Martini, Robert Kazinsky, Clifton Collins Jr., Ron Perlman, Brad William Henke, Larry Joe Campbell, Santiago Segura, Joe Pingue

Hoje, nós iremos cancelar o Apocalipse.” – uma frase interessante que poderia servir para filmes-catástrofes, produções de terror envolvendo seitas malignas e até longas com a marca Michael Bay. Mas, fica difícil imaginá-la sendo proferida por um personagem dirigido por Guillermo del Toro. Conhecido por um estilo peculiar que toca em temas fantásticos e grotescos misturados com poesia e ingenuidade, Del Toro é assumidamente fã de monstros, tendo em seu currículo apenas três produções que não combinam com o seu estilo: Blade II (2002) e os dois filmes da franquia Hellboy, embora ele também goste de quadrinhos e do personagem título. Uma conferida breve na sua filmografia já é suficiente para encontrar, entre trabalhos dirigidos e produzidos, obras com uma gene parecida, como Cronos (1993), Mutação (1997), A Espinha do Diabo (2001), O Labirinto do Fauno (2006), O Orfanato (2007), Os Olhos de Julia (2010), Não Tenha Medo do Escuro (2010) e Mama (2013). Num universo mágico, com personagens infantis desempenhando papéis valiosos em suas descobertas por um mundo assustador e violento, onde se encaixaria o explosivo Círculo de Fogo, se não na mesma prateleira de Armageddon (1998), Impacto Profundo (1998), Godzilla (1998), Transformers (2007) entre outros?

A ideia de produzir o hiperbólico Círculo de Fogo surgiu da mente do roteirista Travis Beacham (Fúria de Titãs, 2010). Ele imaginou o filme enquanto caminhava pela costa da Califórnia, em Santa Mônica, numa manhã nublada, e avistou o píer com a forma de uma imensa criatura emergindo das águas encontrando um robô para enfrentá-la. Ele se reuniu com Del Toro para compor o roteiro, também influenciado por animes, mas sem concepções que copiem monstros anteriormente vistos na tela, apesar de não esconder sua inspiração no quadro de Francisco Goya, O Colossus, e em inúmeras produções envolvendo criaturas gigantes como os créditos finais não deixam de homenagear, citando Ray Harryhausen (O Monstro do Mar, 1953) e Ishiro Honda (Godzilla, 1954). O conceito para o longa também surgiu da ideia inicial de utilizar dois pilotos para comandar os robôs, criando um conflito visto em cena: “O que aconteceria se um dos pilotos morresse?” Daí poderiam surgir questões morais envolvendo “o dia seguinte após uma tragédia e o sentimento de culpa do sobrevivente“, conforme relatou Beacham.

Del Toro pretendia dirigir um projeto de Beacham chamado Killing on Carnival Row, mas o insight do roteirista diante da ideia desenvolvida fez com que Círculo de Fogo ocupasse a vaga antes da pré-produção. Ganhou ainda mais força quando a Universal Pictures simplesmente cancelou sua “menina dos olhos“, a adaptação de H.P.Lovecraft At the Mountains of Madness, com Tom Cruise e James Cameron já assumidos como produtores. “Quando aconteceu, algo que nunca havia acontecido comigo, eu chorei o final de semana inteiro. Eu não queria me sentir insignificante, mas eu estava realmente devastado. Eu estava chorando pelo filme.”, conta o diretor, que ainda afirma que o longa foi cancelado numa sexta-feira e já na segunda ele tinha os planos para Círculo de Fogo. Tom Cruise até foi considerado para um papel no filme, mas acabou sendo substituído por Idris Elba (Thor, 2011).

Apesar da complexidade dos magníficos efeitos especiais, a trama do longa é bastante simples. Ambientado em 2020, a Terra se tornou um palco para a invasão de criaturas gigantescas chamadas Kaijus (uma palavra japonesa que significa “uma estranha besta“, comum em produções com monstros gigantes), oriundas de um portal interdimensional localizado no fundo do Oceano Pacífico. Depois de abatê-las com caças e bombas, a humanidade descobriu um meio de “lutar de igual para igual“, desenvolvendo os Jaegers (palavra alemã para “caçador“), robôs colossais comandados simultaneamente por dois pilotos, conectados por uma ligação neural. Del Toro imaginava os problemas envolvendo a mente de pessoas diferentes, com seus segredos escondidos no subconscientes sendo compartilhados – algo que também se relaciona ao título original Pacific Rim (“anel do pacífico” numa tradução livre) e que a tradução não soube fazer uma conexão.

Após um incidente, numa missão no Alasca, que levou à morte seu irmão Yancy (Diego Klattenhoff), Raleigh (Charlie Hunnam, de Filhos da Esperança) desistiu de comandar Gipsy Danger, considerado ultrapassado e cheio da falhas, e partiu para um trabalho na construção civil, ajudando na produção de um muro gigantesco de proteção contra os Kaijus, embora alguns testes já tenham comprovado sua fraqueza. No entanto, em 2025, a aparição dos monstros tornou-se mais frequente e constante, obrigando o comandante do treinamento dos Jaegers, Stacker Pentecost (Elba, de Prometheus), a convencer Raleigh a retornar com o objetivo de apoiar outro robô e destruir o portal com armas nucleares. Como o piloto precisa de um companheiro, alguns treinamentos são realizados, mas Raleigh só consegue enxergar em Mako Mori (Kikuchi), filha adotiva de Stacker, a pessoa ideal para ocupar a vaga.

Enquanto ocorre essa batalha nos bastidores, o cientista Newton Geiszler (Day), o alívio cômico da produção, tenta utilizar sua máquina de conexão neural para se conectar a um Kaiju para tentar compreender seus próximos passos. A busca por um cérebro conservado para novas conexões o leva até o traficante de órgãos de monstros, Hannibal Chau (Ron Pearlman, mais uma vez em parceria com Del Toro), mas as criaturas também conseguiram traduzir as ações dos terráqueos e partem para um ataque violento, muito mais efetivo contra os novos Jaegers. Talvez a solução para o problema esteja no passado, na origem dos confrontos, algo que trará sacrifícios e muita coragem.

Se há algo que merece ser enaltecido em Círculo de Fogo, pode-se dizer que são os efeitos especiais a cargo da experiente Industrial Light & Magic, com a participação da Legacy Effects. Del Toro não queria que seu filme fosse trivial, como um “filme de monstros” de um típico blockbuster, mas uma história romântica e bela. Acertou na qualidade dos efeitos visuais, porém falhou no romantismo e na beleza. As batalhas são grandiosas e intensas – principalmente a que homenageia a obra The Great Wave off Kanagawa, de Hokusai, no oceano entre ondas gigantes – na mesma proporção que são barulhentas e exageradas. Fica impossível imaginar a quantidade de vidas perdidas em cada confronto, levantando uma questão: num futuro quase apocalíptico como esse, por que ainda existem prédios, se a intensidade dos ataques é cada vez maior?

Além da explosões e do som elevado, o que chama a atenção no filme é um roteiro repleto de clichês, estereotipando o “vilão“, no papel de um rival de Raleigh, e enchendo de sequências previsíveis: ora, é claro que o irmão morreu e ele terá uma chance de vingá-lo; a bela oriental irá ocupar a vaga pretendida; e etc. É claro que se trata de uma produção de ficção e absurdos devem ser relevados, mas já que a imaginação permite trazer alienígenas por um portal interdimensional, por que não trabalharem com a mesma criatividade nos diálogos, nos atos do roteiro, na ousadia de seus personagens?

Por outro lado, Círculo de Fogo é entretenimento de primeira. Visualizar essas criaturas magníficas em confrontos pela cidade com robôs diversificados pelas nacionalidades , usando caminhões e barcos como acessórios, é simplesmente demais! O uso do 3D não faz muita diferença, mas uma sala XD pode permitir uma experiência ainda mais envolvente. Também como ponto positivo deve se considerar a atuação do elenco, principalmente de Ron Pearlman, que facilmente chama para si a responsabilidade em cada cena em que aparece. Depois de Cronos, é a primeira vez que o ator aparece como um personagem humano num filme de Del Toro.

I got the name from my favorite historical figure and my second-favorite Szechuan restaurant in Brooklyn.(Hannibal Chau explicando o seu nome)

Círculo de Fogo teve um orçamento estimado em 180 milhões, porém nos Estados Unidos só alcançou nas bilheterias metade desse valor, o que para Hollywood pode-se considerar um fracasso! A estreia no Brasil e pelo mundo e os produtos vendidos com a marca irão superar os valores gastos, embora fique difícil imaginar uma continuação nos mesmos moldes. Del Toro chegou a dizer que algo poderia sair daí, talvez não pelo oceano e nem sob seu comando, já que a guerra entre Kaijus e Jaegers poderia tranquilamente ter novos capítulos.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

22 thoughts on “Círculo de Fogo (2013)

  • 27/10/2013 em 15:51
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    não é uma obra-prima e a ideia não é original.
    mas é uma baita diversão!

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  • 02/10/2013 em 08:54
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    e o que você espera em ver em um filme de Robô gigante vs monstro gigante você não ver nesse, você ver mais humano que tudo, na parte que mostra o drama da Mako onde deveria ter mostrado uma luta foda só mostra o zezão saindo do robô entre outros furos, seria perfeito se fizesse em cima da historia do Alien o Resgate colocasse um Kaiju como uma rainha e outros para defende-la e e os robôs descendo a porrada e pronto, mas nesse perde o tesão de ver o filme, prefiro ficar com os transformers nesse caso =P

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  • 24/09/2013 em 20:36
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    Você até foi otimista com essa gente… que “solução transcendental” que nada… são todos cérebros de tatu, querendo cavar pra baixo, repetindo clichês que ouviram da boca de outrem, e nem sabem o que buscam. Já disse que não são os filmes, mas os nerds-comentaristas-“críticos” de cinema do Brasil que são pessimamente resolvidos. Gente mais pernóstica, burra, vai-com-as-outras, impossível. Na época em que não havia VHS, DVDs, guias de vídeo, internet e tanta informação instantânea, as pessoas simplesmente iam ver o filme com seus olhos, e gostavam ou não. Por mais dramaticamente resolvido que fosse um filme, não havia por que superestimar esse aspecto. Era bom, ponto, tchau, vamos ver outra coisa diferente, e não tem como fazer uma novela aprofundada em duas horas ou menos. Não interessava a opinião da arara de plantão nos jornais, com raras exceções. Mas isso já faz parte do passado distante.

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  • 24/09/2013 em 20:35
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    Por que todo crítico tem essa mania de querer que um filme de ação e mega-efeitos especiais tenha sempre algum “fundo dramático” com um “mensagem subliminar” que nos faça ficar pensando interminavelmente numa “solução transcendental” hipotética que apenas alguns mais “indicados” são capazes de entender? Por que um filme assim não pode ser apenas um grande parque de diversões aonde todos nós vamos para exatamente “não pensar”, apenas para satisfazer nossa adrenalina? Por que?
    Deve ser algum complexo de inferioridade adquirido na infância. Por isso dizem tanto para os pais, hoje em dia: – Não menospreze a inteligência do seu filho. Ele pode vir a se tornar um nerd crítico de cinema, com síndrome de intelectual pedante.

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  • 17/08/2013 em 17:39
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    Del Toro mais uma vez surpreendeu. Embora não tenha feito tanto sucesso, o filme consegue homenagear todos os monstros que cercaram nosso mundo imaginário na infância. Quem não se arrepiou ao ver aqueles gigantescos monstros que relembram tantos outros – desde a TV Manchete a Godzilla – de quando éramos crianças? Talvez, o filme não tenha sido um sucesso justamente por essa questão de que, hoje em dia, as pessoas não prezem mais a simplicidade,e sim, o escracho e a falta de sensibilidade. REPAREM: novamente Del Toro levanta a bandeira feminista, assim como em todos seus filmes anteriores.

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  • 15/08/2013 em 06:47
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    Ah galera do Boca, essa a nota que vocês dão para o filme? Esse filme é fantástico! Merecia muito mais, vamos avaliar melhor 😉

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  • 13/08/2013 em 21:46
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    Divertida sessão pipoca… MUITO MASSA! Curti pra caramba… e que efeitos heim…

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  • 11/08/2013 em 18:41
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    Meus amigos, sou fã de Del Toro desde Cronos! Independente da crítica fui assistir ao filme e realmente me surpreendi com uma aventura de primeira! Uma produção nota dez com bons atores (nenhum astro!). Na mesmice em que se encontram as produções neste ano, Círculo de Fogo, até o momento para mim, foi o melhor filme até agora!

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  • 11/08/2013 em 09:44
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    vou assistir on line mesmo,mas só não entendi uma coisa: se o filme é tão bom assim,porque só duas caveiras e meia?

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    • 27/10/2013 em 15:55
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      aí vanessa vasconcelos, neste tu não vai dizer os ‘japa pira’?

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      • 27/10/2013 em 20:58
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        hummmmmmmmmmm……… não hahaha,dessa vez passa 🙁

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  • 10/08/2013 em 21:09
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    Uma correção…o nome Pacific Rim está diretamente ligado a uma região da terra proxima ao Japão onde tem a maior incidencia de abalos sísmicos na terra, o conhecido “Anel do Pacífico”. Na lingua portuguesa, porém, essa região é tratada como “Círculo de Fogo”, o que justifica o nome do filme. Tenho visto muitas criticas a isso, mas é pura desinformação. Dessa vez, por incrivel que pareça, os tradutores acertaram.

    O filme é muito divertido, a gente até consegue deixar a trama tosca de lado pelo bom espetáculo visual. Eu fui ao cinema consciente disso, esperando que o filme fosse divertido com uma trama tosca, então não me decepcionei, gostei muito. Mas há uma falha pra mim grotesca…enaltace-se no filme os pilotos Russos e Chineses e seus robos, mas os dois são absurdamente mal aproveitados no filme…achei um desperdicio, alias…mas a margem disso, é um filme divertido. Não é grandes coisa em termo de história, de fato, mas é um ótimo filme pra ver sem compromisso rs.

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  • 10/08/2013 em 06:27
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    Cara eu sou suspeito pra falar sobre filmes de robôs, pois cresci assistindo essas séries japonesas tipo Robô Gigante e adoro e os filmes dirigidos ou produzidos pelo Del Toro. Com certeza já estou lá para ver.

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  • 09/08/2013 em 18:57
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    Porra meu, se eu sou a Gainax eu processo todos os envolvidos nesse filme. Não dá cara, dá dá pra engolir uma coisa tão na cara assim! Isso é Evangelion, sendo que uma adaptação foi há muito tempo cotada. Os monstros que saem do mar, os pilotos que controlam os robôs com as mentes… qual o limite entre influência e plágio descarado? Eu ainda tinha uma esperança que eles tivessem na verdade adquirido os direitos da série para adaptar (ai mudar algumas coisas até que fica coerente no mundo dos filmes que conhecemos). Agora dizer que isso é uma ideia nova e original? Tenha dó, não tem como engolir ¬¬

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    • 10/08/2013 em 12:48
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      Mas o próprio Evangelion não foi o primeiro a usar NENHUM dos conceitos que você citou… Ele se insere em um gênero que remonta à primeira metade do século XX. Leia mais, assista mais filmes e seriados japoneses, meu caro.

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  • 09/08/2013 em 17:10
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    Vou ver na semana que vem. Eu também não sou muito fã do Hellboy. Acho que o primeiro filme foi muito bom, com várias referências lovecraftianas, mas o 2º não é tão bom.
    Espero que um dia o del Toro consiga fazer o “Nas Montanhas da Loucura”, o Lovecraft tem que ser eternizado no cinema em um filme que realmente faça jus a sua literatura !

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  • 09/08/2013 em 16:15
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    Não dá pra entender como tanta porcaria faz rios de bilheteria e este filme, que parece divertidíssimo não! Qual a relação ou lógica nisso tudo? Não dá pra imaginar!

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  • 09/08/2013 em 16:15
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    Vou conferi-lo esta semana em 3-D!
    Mas ainda não estou por dentro do que seria um sala XD. Qual é o seu diferencial?

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    • 10/08/2013 em 21:13
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      Não sei, mas o 3d desse filme é muito bom. Fui surpreendido rs…

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