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A Espinha do Diabo
Original:El espinazo del diablo
Ano:2001•País:Espanha, México
Direção:Guillermo del Toro
Roteiro:Guillermo del Toro, Antonio Trashorras,
Produção:Agustín Almodóvar, Bertha Navarro
Elenco:Marisa Paredes, Eduardo Noriega, Federico Luppi, Fernando Tielve, Íñigo Garcés, Irene Visedo, José Manuel Lorenzo, Francisco Maestre, Junio Valverde, Berta Ojea, Adrián Lamana, Daniel Esparza, Miguel Ortiz, Juan Carlos Vellido

A Espinha do Diabo costuma aparecer em bebês que não irão nascer: uma alegoria precisa para retratar os filhos da guerra, os pequenos que jamais herdarão uma nação vítima de conflitos por interesses políticos ou religiosos. Guillermo del Toro sabia disso quando resolveu se espelhar na violenta Guerra Civil Espanhola, ocorrida entre 1936 e 1939, que culminou com o regime fascista do General Francisco Franco. A porta de entrada para a Segunda Guerra Mundial sob o ponto de vista das crianças de um orfanato sobrenatural é o mote do excelente longa A Espinha do Diabo, que estreou nos cinemas brasileiros em 12 de outubro de 2001, em pleno Dia das Crianças.

Uma solitária bomba é lançada sobre uma região escura, porém civilizada. Um garoto é morto, aparentemente espancado, trazendo o choro de outra criança. Uma imagem que poderia surgir em qualquer documentário sobre conflitos bélicos é cortada pela chegada do pequeno Carlos (Fernando Tielve), um novo órfão que perdera o pai, vítima de uma bomba. Sem opções, ele é deixado pelo tutor num simples Orfanato, comandado por Republicanos: Carmen (Marisa Paredes), uma senhora bondosa, perneta e dona de dois segredos – uma fortuna em barras de ouro e momentos de prazer com o vigoroso Jacinto (Eduardo Noriega); este é um ex-interno, que sonha com o ouro e com a possibilidade de fugir do local com a bela Conchita (Irene Visedo); o Dr. Cesares (Federico Luppi), administrador da instituição, poeta e apaixonado por Carmen, embora seja impedido pela impotência. Este quadrado amoroso tridimensional esconde mistérios que vão além das possibilidades de imaginar uma relação típica de uma novela mexicana.

Nem sequer se acomoda, Carlos testemunha uma presença macabra com a caracterização de um morto-vivo: uma criança descorada, vertendo sangue pela testa, envolto em bolhas de água. Numa das oportunidades, o pequeno escuta: “Muitos de vocês irão morrer.” O garoto faz algumas amizades no local, sendo ao mesmo tempo admirado e ignorado; e o público já nota um rosto visto anteriormente entre os que nutrem raiva: o menino que chorava pela morte do amigo no início. A indignação se estabelece pelo fato de Carlos estar ocupando a cama do falecido Santi (Junio Valverde) também conhecido como “aquele que suspira“, alguém que incomodará o jovem protagonista por todo o filme, criando os aspectos assustadores da produção.

Sem grades ou correntes, o orfanato não impede a fuga das crianças, mas a maioria morre no deserto que o separa da cidade mais próxima. No pátio, uma belíssima bomba aumenta o grau de pessimismo do ambiente. Ela não explodiu com a queda no início e emite sons que lembram um tique-taque, o que faz alguns acreditarem que um dia ela vingará – em mais uma interessante analogia com a vida daqueles pequenos e a sua falta de esperança, abandonados e inflamáveis. Antes mesmo que o mistério sobre a morte de Santi seja solucionado, eles ainda terão que encarar a aproximação do exército Franco, as tentativas de fuga, e muitas mortes.

Como os mamutes, exemplificados na aula de Carmen, eles precisarão se unir contra um inimigo comum ainda que saibam que a vitória não significará sobrevivência. A guerra é uma destruidora de sonhos; e a Espinha do Diabo que impede as pessoas de ter uma vida tranquila, encostar a cabeça sobre o travesseiro e dormir. Não é preciso armas de fogo para que vidas sejam perdidas, sonhos não se realizem, a esperança não se estabeleça. A bomba já explodiu há muito tempo!

Entre simbolismos e mistérios escondidos em cada cena, A Espinha do Diabo, com produção executiva de Pedro Almodóvar, é um grandioso filme de horror. Del Toro soube dosar inocência e amadurecimento nas mesmas proporções em que trouxe arrepios aos espectador. Uma lição de vida e de morte para ser acompanhada mais de uma vez.

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13 Comentários

  1. Interessante o caráter pseudo-documental de alguns filmes de Del Toro – sua competência em acabamento e produção gráfica contribui para seu sucesso e ousadia – boa pedida este filme!!!!

    1. Avatar photo

      Del Toro sempre usa elementos históricos para construir suas ficções. Uma pena que tantos projetos dele acabem morrendo na praia.

  2. A Espinha e o Labirinto são os melhores filmes do Del Toro. Deveria fazer mais filmes neste estilo ao invés de bobagens como o Círculo de Fogo.

  3. Gostei apesar de considerar fraco como terror/suspense. Mas acho que depois Del toro foi ficando melhor.

  4. Já é um clássico, esse filme maravilhoso, assim como O Labirinto do Fauno, outra obra-prima do diretor com ambientação na Guerra Civil.

  5. Ótimo!! Faz tanto tempo que assisti e, ainda assim, não esqueci o quanto é bom.

  6. Excelente filme,já considero um clássico.

  7. Filme muito bom, na época assisti em VHS, saiu em DVD no Brasil? Um abraço

  8. Altamente recomendado, é o meu preferido do Del Toro, e um dos preferidos de temática de fantasmas, junto com o “Os Outros”, e “Os Inocentes”, prova que pra causar arrepios não é preciso de efeitos grotescos, e sim uma bom enredo.

  9. Esse filme fica na cabeça da gente por muito tempo por causa daquele constante clima perturbador e quieto. Um dos marcos da minha adolescência. Recomendadíssimo!

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