Quién Puede Matar a Un Niño (1976)

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¿Quién puede matar a un niño?
Original:¿Quién puede matar a un niño?
Ano:1976•País:Espanha
Direção:Narciso Ibáñez Serrador
Roteiro:Narciso Ibáñez Serrador, Juan José Plans
Produção:Manuel Salvador
Elenco:Lewis Fiander, Prunella Ransome, Antonio Iranzo, Miguel Narros, María Luisa Arias, Marisa Porcel, Juan Cazalilla, Luis Ciges, Antonio Canal

Existem alguns filmes de horror que realmente são perturbadores e conseguem sobreviver com o passar do tempo, sem perder seu impacto. O diretor uruguaio, radicado na Espanha, Narciso Ibañes Serrador, conseguiu criar um desses filmes, que por muito tempo teve problemas com a censura e diversas edições com vários cortes, chegando a ser banido de alguns países. O filme: Quién Puede Matar a Un Niño?, 1976.

Pode ser situado em um bizarro subgênero do Cinema de Horror, o dos “Filmes com Crianças Assassinas”, cujo exemplo mais popular é o da série Colheita Maldita, inspirada na obra de Stephen King.

Quién Puede Matar a Un Niño (1976) (1)

O filme de Ibañez Serrador também é inspirado em uma obra literária: El Juego de Juan José Plans. Sua estrutura é muito especial, misturando duas estéticas cinematográficas muito diferentes de maneira eficaz. O filme inicia com imagens de documentários antigos que mostram cenas fortes de atrocidades cometidas em várias épocas e partes do mundo mostrando sempre o grande número de crianças mortas nesses conflitos. Aparecem imagens de campos de concentração nazistas, de guerras civis na Ásia com uma narração bastante didática onde passam letreiros explicativos para enfatizar o discurso do narrador dos documentários. De repente a câmera enfoca um menino em uma praia e as imagens monocromáticas ganham cores e marcam o início da parte ficcional da trama. Logo vemos o casal de protagonistas: Tom e Evelyn, respectivamente interpretados por Lewis Fiander e Prunella Ransome. Em férias eles planejam fugir de um balneário lotado de turistas para aproveitarem a paz e o sossego de uma ilha isolada. O clima quente, as festas populares e alguns corpos que começam a aparecer na praia servem como introdução do pesadelo que irá se instaurar no filme. Imitando Alfred Hitchcock, Serrador aparece em uma ponta não creditada próximo de um ônibus.

A chegada do casal, de barco, na ilha inicia a construção da intensa atmosfera que começa lentamente a ser trabalhada na instauração do suspense. Para quem quiser entender realmente o que significa o adjetivo “atmosférico” no cinema, esse é o filme ideal para entender do que se trata. O olhar de um grupo de meninos que os recebem no cais é aterrador. Não sei exatamente o que o diretor fez para conseguir interpretações tão assustadoras, os olhares das crianças são de congelar o sangue. O silêncio no filme tem um papel muito importante para a construção da atmosfera. A cidade está deserta e só o casal caminha por suas ruas debaixo de um sol intenso. Um detalhe importante na trama é o fato da mulher estar grávida.

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Em uma cena, pouco depois da chegada, ela está sozinha em um bar abandonado e recebe a macabra visita de uma menina que toca sua barriga e sorri para Evelyn indo embora em seguida. Essa é uma das mais impressionantes cenas do filme, simples porém assustadora. O que ocorre em seguida é a descoberta de que todas as crianças da ilha, sem uma explicação lógica, passaram a matar os adultos. A cena da menina sorridente dando golpes de machado em um velho seguida de uma “Piñata Humana”, onde surgem foices afiadas, explicam a polêmica que o filme causou mundo afora. Mais uma vez citando Hitchcock, o filme lembra Os Pássaros em sua absurda trama de um ataque selvagem de criaturas inofensivas sem nenhuma explicação para esses ataques.

Poucos sobreviventes, um habitante da ilha e uma turista alemã tentam explicar o que está acontecendo, mas nada é revelado ao espectador que se vê em meio a um angustiante pesadelo com desdobramentos macabros, sangrentos e inacreditáveis como na incrível e longa seqüência do casal preso em uma casa encurralado por crianças armadas e no absurdo massacre final.

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O título do filme que pode ser traduzido como “Quem pode matar uma criança?” é a grande arma dos pequenos assassinos. Seus rostos angelicais são um escudo contra qualquer tentativa de reação dos adultos, mesmo diante da carnificina que eles cometeram. Subversivo, maldito e assustador Quién Puede Matar a Un Niño? mergulha nas profundezas do inconsciente humano gerando uma série de interpretações que vão da psicanálise até a antropologia. Seria o filme uma visão do ato inconsciente da morte dos pais pelas mãos dos filhos que Freud sempre enfatizou em seus estudos, ou seria a representação de um novo mundo construído pelas crianças que precisa do extermínio de todos os adultos para existir? Assustador não é mesmo?

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Um clássico absoluto do Cinema Fantástico, Quién Puede Matar a Un Niño? retorna agora das sombras em uma versão completa, com seus 111 minutos de duração originalmente concebidos pelo diretor. Um filme que precisa urgentemente ser redescoberto. Eli Roth chega a citar esse filme em O Albergue na figura das estranhas crianças que habitam a cidade eslovaca onde os protagonistas serão trucidados. Outro exemplo importante na História do Cinema de Horror são as duas versões de A Aldeia dos Amaldiçoados, que tem paralelos com o filme de Serrador onde as crianças parecem se comunicar de maneira telepática. Embora em A Aldeia dos Amaldiçoados a trama seja bem esclarecida, ao contrário do filme de Serrador.

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Marcelo Carrard

Marcelo Carrard é Jornalista, Pesquisador e Crítico de Cinema e Editor do Blog: Nudo e Selvaggio.

8 thoughts on “Quién Puede Matar a Un Niño (1976)

  • 11/01/2016 em 00:01
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    Um filme assustador, brutal e brilhante.

    10,0 / 10,0

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    • 10/12/2020 em 23:35
      Permalink

      Onde o senhor conseguiu assistir, se possível me passa o link

      Resposta
  • 16/10/2013 em 15:10
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    Eu assisti somente ao remake e gostei bastante, quero conferir o original.

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        11/12/2020 em 11:29
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        O remake americano é o Come Out and Play, Natan.

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  • 16/10/2013 em 12:49
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    será,depois eu procuro pra assistir.

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  • 12/10/2013 em 23:06
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    Eu lembro que Colheita Maldita me assustava muito na infância, mas esse daí parece ser pior

    Resposta

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