Psicose 4 – A Revelação (1990)

4.5
(2)

Psicose 4 (1990)

Psicose 4 - A Revelação
Original:Psycho IV: The Beginning
Ano:1990•País:EUA
Direção:Mick Garris
Roteiro:Joseph Stefano
Produção:Les Mayfield, George Zaloom
Elenco:Anthony Perkins, CCH Pounder, Henry Thomas, Olivia Hussey, Warren Frost, Donna Mitchell, Tom Schuster, Sharen Camille, Bobbi Evors, John Landis, Alice Hirson

Produzir uma sequência para um filme nunca foi tarefa das mais fáceis, pois o desafio é formado por, além de criar uma “segunda parte” convincente, conseguir agradar aos fãs do trabalho original e fazer sucesso de crítica e bilheteria. Claro que, para cada dez trabalhos que ganham um “capítulo dois”, apenas um consegue fazer sucesso razoável entre a imprensa especializada e principalmente, o público. Mas algumas destas sequências são tão ruins, em todos os aspectos, que quando se termina de assistir ao filme, a vontade que fica é que os produtores, diretores e até atores envolvidos na produção fossem presos acusados de destruírem uma obra original. Quer um exemplo disso? Psicose 4 – A Revelação (Psycho IV: The Beginning, 1990).

Lançado recentemente no Brasil no formato DVD, o último (graças a Deus) filme envolvendo o assassino Norman Bates é uma verdadeira aula de como se fazer uma péssima e desnecessária sequência. História? Fraca. Roteiro? Inexistente. Elenco? Decadente. Mas antes de falarmos mais profundamente sobre Psicose 4, é preciso voltar no tempo para o ano de 1960, quando o filme original, dirigido pelo mestre Alfred Hitchcock foi produzido e lançado.

Psicose 4 (1990) (2)

Considerado um clássico do suspense, Psicose (Psycho) narra as desventuras da secretária Marion Crane (Janet Leigh), que após roubar 40 mil dólares da firma onde trabalha, foge da cidade para encontrar o amante. Durante o percurso, a moça decide passar uma noite no Bates Motel, administrado pelo esquisito Norman Bates (Anthony Perkins), que mora no local com a sua misteriosa e violenta mãe. Antes de dormir, Marion acaba sendo assassinada enquanto tomava banho, levando a história para uma tensa investigação sobre os segredos que habitam o local.

Psicose foi adaptado do romance homônimo de Robert Bloch, custando apenas US$ 800 mil e faturando mais de US$ 40 milhões nas bilheterias. O suspense bem construído e um roteiro elaborado de forma a prender a atenção do público criaram o tom exato para agradar a quem assistisse ao filme. A cena do chuveiro entrou para a história como uma das melhores sequências já filmadas, levando uma semana para ser produzida, com duração de 45 segundos, enquanto o restante do filme levou sete semanas para ser gravado.

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Mas bastou Hitchcock morrer, em 1980, para que o impensável acontecesse e uma primeira sequência de Psicose fosse produzida. A surpresa foi que Psicose 2 (Psycho 2, 1983), do diretor Richard Franklin, resultou em um bom filme, com uma história interessante e capaz de prender a atenção sem fugir ou descaracterizar a trama original. Claro que, quando comparado ao trabalho realizado por Hitchcock, Psicose 2 definitivamente não é tão bom quanto, mas como sequência, funciona bem. A dor de ver a obra original manchada por uma continuação indigna havia passado… pelo menos, por enquanto.

O ano era 1986 quando o próprio Anthony Perkins, motivado por fazer sua estreia como diretor, resolveu assumir o comando de um Psicose 3 (Psycho 3) na esperança de que o raio pudesse cair duas vezes no mesmo lugar e o terceiro filme também fosse bom. A nova trama envolvendo o psicopata Norman Bates se limitou a mostrar uma história semelhante as incontáveis produções de suspense dos anos 80, com pouco enredo e muitas mortes, além de coadjuvantes sem roupas e violência gratuita. A tentativa de Perkins em continuar o trabalho iniciado por Hitchcock apenas serviu para dar um ar de trilogia à história e encerrar a série.

Pronto, todos estavam felizes com os três filmes: um clássico, um bom e um regular, respectivamente, porém não demoraria muito para que uma última produção fosse feita para ocupar a vaga de péssimo trabalho dentro da franquia. Psicose 4 poderia concorrer, caso feita uma eleição, para o título de pior sequência das história dos filmes de terror e suspense. Tudo na produção é ruim, a começar pelo roteiro, que, não tendo mais o que explorar, resolveu criar uma história que se passasse antes dos eventos mostrados no primeiro filme. Foi por isso que o subtítulo original do prelúdio foi The Beginning (o começo), enquanto a tradução para o lançamento no Brasil foi A Revelação.

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Para não parecer tão picareta, a história era narrada pelo próprio Anthony Perkins, que relembra a infância e juventude, quando cometeu os primeiros crimes e matou a mãe. Psicose 4 foi produzido para TV, tendo sido, posteriormente, lançado no formato VHS e recentemente, em DVD. Importante lembrar que filmes feitos para TV não significam trabalhos sem qualidade, como é o caso deste prelúdio. A direção ficou a cargo de Mick Garris, um sujeito que até já fez alguns trabalhos razoáveis como Criaturas 2 (Critters 2: The Main Course, 1988), Sonâmbulos (Sleepwalkers, 1992) e a versão para TV de O Iluminado (The Shining, 1997). Já o roteiro ficou a cargo de Joseph Stefano, que foi o roteirista do Psicose original, mas que definitivamente trocou os pés pelas mãos nesta sequência.

A Triste Revelação…

Talvez o pior problema de Psicose 4 seja a sua trama e a forma como ela foi criada e conduzida. Quem assistiu Psicose 3 se lembra do final, no qual Norman termina preso pelo assassinato de quatro pessoas. Levando em conta o passado do rapaz, seria difícil imaginar que o mesmo tivesse novamente como desfrutar uma vida em liberdade. O mais lógico seria condenar logo o sujeito à cadeira elétrica ou prisão perpétua. Pois bem, quatro anos se passaram desde a ação mostrada em Psicose 3 e Norman Bates está livre (!!), casado (!!!) e sua esposa está grávida (!!!!). A explicação para que o assassino esteja fora das grades é que ele participou de um programa de reabilitação, no qual o preso é logo colocado em convívio com a sociedade, para que recupere a sanidade. Se esse programa chegar ao Brasil, vai ser um problema… Ah, um detalhe importante deve ser dito sobre a esposa de Norman: ela trabalha como psicóloga nesta tal instituição que coloca assassinos em liberdade e foi lá que a moça conheceu e se apaixonou pelo psicopata. O amor é lindo e neste caso, bizarro.

Enquanto isso, um programa de rádio está realizando um debate sobre matricídios, o crime no qual um filho mata a própria mãe. Adivinhem que vai ligar para este programa e contar toda a sua vida? Pois é, o nosso amigo Norman, usando o pseudônimo de Ed, vai relembrar fatos importantes da sua vida, como a primeira garota que matou e por aí vai. Claro que cada história vai ser mostrada através das lembranças de Norman.

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O filme segue sem ritmo, intercalando cenas do passado com um atordoado Norman narrando suas memórias por telefone. Com intenção de criar momentos que pudessem servir de homenagens ao primeiro filme, a trama é repleta de falas e situações idênticas as presentes na obra original, mas nem isso ajuda a um bom andamento de Psicose 4. O filme vai se arrastando sem oferecer nada de interessante para o telespectador, que acaba sendo a única vítima desta produção. Nem a relação do jovem Norman com a mãe, ainda viva, resulta em material aproveitável. O elenco também é o pior de toda a série, começando pelo próprio Anthony Perkins, que poderia ter encerrado a carreira sem essa mancha, uma vez que ele morreria dois anos depois deste filme ter sido gravado. Para interpretar a mãe de Norman, foi escolhida a experiente e bonita atriz Olivia Hussey (It, 1990), que definitivamente não está em seus melhores dias, pois além de mais parecer uma mulher com grave crise de TPM ou em princípio de menopausa, não convence como a tão temida Senhora Bates, que tanto foi imaginada no primeiro filme.

A locutora que passa a noite conversando com Norman foi vivida por CCH Pouder (Robocop 3, 1993), que passa o filme fazendo caras e bocas quando o seu entrevistado diz alguma fala de efeito. Já o improvável papel da esposa de Norman ficou com Donna Mitchell (A Tempestade do Século, 1997), porém a personagem é tão sem graça e não faz nada durante o filme inteiro que nem uma atriz de talento como Michelle Pfeiffer ou Susan Sarandon teria feito de forma diferente. A única exceção com relação a este elenco foi a participação de Henry Thomas (ET, 1982), que está longe de ter tido um brilhante desempenho em Psicose 4, mas pelo menos o coitado se esforçou em interpretar o jovem Norman Bates e durante alguns momentos, até consegue passar um pouco da loucura e medo que fizeram do personagem um dos assassinos mais conhecidos do cinema.

Por todos estes pontos apresentados acima, corra quando encontrar este Psicose 4 na sua locadora ou na loja de DVDs. Mas se a sua curiosidade for maior, o risco é todo seu. Se fosse verdade a expressão de que Alfred Hitchcock se reviraria no túmulo sabendo o que foi feito com a sua brilhante obra prima, ele deveria ter ressuscitado para matar cada um dos responsáveis por esta bomba. Isso sim talvez rendesse um bom filme. Mas um alerta final deve ser dado, pois Psicose 4 teve por muitos anos o título de pior filme da saga Norman Bates, até que, em 1998, Gus Van Saint resolveu dirigir um remake do Psicose original e conseguiu um resultado que pode responder como catastrófico.

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Filipe Falcão

Jornalista formado e Doutor em Comunicação. Fã de filmes de terror, pesquisa academicamente o gênero desde 2006. Autor dos livros Fronteiras do Medo e A Aceleração do Medo e co-autor do livro Medo de Palhaço.

4 thoughts on “Psicose 4 – A Revelação (1990)

  • 13/04/2015 em 02:12
    Permalink

    Chumpinharam descaradamente a história do Coringa com a Arlequina, sem comentários.

    Resposta
    • 15/10/2017 em 18:04
      Permalink

      Só que não! O filme é de 1990, anterior a criação da personagem Arlequina que foi criada só em 1992 para o desenho Batman: The Animated Series, dois anos após o filme. Ou seja, eles não chumpinharam nada dos personagens da DC.

      Resposta

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