A Noite dos Coelhos (1972)

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A Noite dos Coelhos (1972)

A Noite dos Coelhos
Original:Night of the Lepus
Ano:1972•País:EUA
Direção:William F. Claxton
Roteiro:Don Holliday, Gene R. Kearney, Russell Braddon
Produção:A.C. Lyles
Elenco:Stuart Whitman, Janet Leigh, Rory Calhoun, DeForest Kelley, Paul Fix, Melanie Fullerton, Chris Morrell, Chuck Hayward, Henry Wills, Francesca Jarvis, William Elliott

A invasão dos monstros gigantes no cinema teve início em 1925 com o clássico mudo The Lost World, dirigido por Harry O. Hoyt. Foi o longa pioneiro a utilizar efeitos em stop-motion graças ao trabalho de Willis O’Brien, que voltaria ao estilo, em 1933, com King Kong. Até então a técnica priorizava aventuras selvagens em terras desconhecidas, com criaturas pré-históricas como os grandes inimigos de um grupo de caçadores ou cientistas. No entanto, na década de 40, com o desenvolvimento de armas nucleares, era inevitável que a imaginação dos cineastas trouxessem criaturas atômicas, alteradas pelos efeitos radioativos, dando início ao ciclo dos monstros gigantes da década de 50: The Beast from 20,000 Fathoms (53) já trazia um dinossauro como resultado das explosões radioativas, mas também tivemos Them! (54), com formigas gigantes; Tarantula (55); The Black Scorpion (57), entre muitos outros, principalmente com a criação japonesa de Godzilla, Mothra e Gamera, uma resposta à iminência de uma guerra nuclear.

Com todas essas criaturas gigantescas invadindo as cidades, ninguém poderia imaginar uma produção envolvendo coelhos assassinos em grandes dimensões. Ora, um bichinho fofinho, doméstico e tão inocente jamais poderia servir para causar medo! Pois, em 1964, o autor australiano Russell Braddon escreveu a obra que serviria de inspiração para o filme mais bizarro que alguém poderia imaginar: The Year of the Angry Rabbit, inspiração para o longa Night of the Lepus, lançado em 1972, com direção de William F. Claxton e roteiro de Gene R. Kearney e Don Holliday.

Através da narração estilo falso documentário, o público fica sabendo que está havendo uma assustadora praga de coelhos em países como Austrália e Nova Zelândia. A América também teria o seu colapso natural, depois que um fazendeiro que criava os animais teve sua morada incendiada, deixando escapar centenas deles pela região. Em poucos meses, o número excessivo de coelhos já trazia prejuízos para os agricultores locais, obrigando as autoridades a tomar medidas que pudessem conter essa ameaça.

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Usar venenos poderia ser perigoso por acabaria com a vida e plantio durante anos; armadilhas também estariam fora de cogitação pois seriam necessárias milhares delas. Até mesmo a ação dos caçadores não era suficiente para evitar esse descontrole, já que o número de espécimes parecia aumentar a cada dia. Assim, o fazendeiro Cole Hillman (Rory Calhoun) pediu ajuda ao reitor Elgin Clark (DeForest Kelley), principalmente com o desaparecimento dos seus predadores, os coiotes. Elgin tem a ideia de contactar dois pesquisadores, o casal Roy (Stuart Whitman) e Gerry Bennett (Janet Leigh, aquela que tomou o banho famoso do cinema)

Roy tem a ideia de injetar hormônio nos coelhos, fazendo-os alterar de sexo e assim evitar a procriação. A experiência é realizada com um único animal, no laboratório, mas a filha dos pesquisadores, Amanda (Melanie Fullerton), apaixonada pelo coelho utilizado, faz um troca no local e leva aquele que recebeu o novo soro. Logo, ela perde o animal no deserto, e acontece o que Roy temia: um animal contaminado é capaz de espalhar sua doença para todos os demais em pouco tempo.

Logo, Roy e Gerry começam a encontrar rastros grandes de um animal desconhecido, enquanto Amanda e seu amiguinho Jackie (Chris Morrell) vão a uma mina de ouro visitar o amigo Billy. A garota entra na mina e testemunha um coelho gigante, com sangue em sua boca e um cadáver mutilado. Novos corpos surgem pela região, envolvendo caminhoneiros e famílias inteiras, fazendo com eles percebam que realmente existam coelhos gigantes se alimentando de humanos (!!!). Eles planejam explodir a mina para evitar que os animais escapem, mas isso não será suficiente para conter outros ataques e destruição.

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Dentre as principais mudanças em relação à obra original está a ambientação: da Austrália para o Arizona, dando um aspecto de produção western e permitindo uma aproximação maior dos americanos. Além disso, no livro, a praga dos coelhos surge como uma ameaça viral e não consequência de um experimento científico para controlar o crescimento da espécie. A princípio o filme se chamaria Rabbits, mas teve a alteração do nome para a versão latina Lepus, tirando, inclusive, os animais do pôster para evitar que o longa fosse visto como uma comédia involuntária, embora isso seja inevitável.

De acordo com o Turner Classic Movies, foi uma própria decisão do diretor de utilizar características de filme western ao invés de técnicas associadas ao horror como determinados ângulos da câmera, escuridão e música tétrica. Ele já tinha experiência com séries como The Rifleman e Chaparral, além de episódios da clássica Além da Imaginação. Assim, temos um longa mais próximo do estilo O Ataque dos Vermes Malditos (1990), com os personagens montando cavalos, andando pelos desertos em minas e casas de madeira, ainda que o enredo se passe na década de 70.

Talvez o maior defeito de Night of the Lepus seja sua tentativa de ser levado a sério. Ao invés de partir para uma sátira aos filmes de monstros gigantes – o que funcionaria muito bem -, houve uma tentativa de desenvolver uma produção séria, com os atores interpretando como se estrelassem E o Vento Levou…. Com isso, é impossível não rir das cenas repetidas dos coelhos correndo como um estouro de boiada, com tinta vermelha na boca e rosnando como monstros.

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Há uma cena em especial com uma das falas mais engraçadas da produção, capaz de fazer o espectador dar pause no DVD para rir: uma viatura chega a um drivein e um guarda diz com seu megafone: Atenção! Atenção! Há um bando de coelhos assassinos vindo para cá. Peço que vocês saiam do local com muita calma… E o público atende prontamente, indo para a saída calmamente, seguindo as orientações do policial.

Fazendo uso de cidades em miniatura e atores vestidos de coelhos (hein?), os efeitos são sempre toscos e divertidos, seja na sobreposição de imagens ou com o uso de bonecos que saltam e gritam. Quando estão sobre o corpo de alguma vítima, você nota a roupa de coelho de algum ator para fingir que está arranhando a pessoa. Em certo momento, Gerry é cercada por vários animais próximo a seu trailer, e ela tenta se defender com um sinalizador, mas jamais você vê um coelho e a atriz num mesmo enquadramento, nem com a visão do helicóptero.

Então, vem a pergunta: o que uma atriz conceituada como Janet Leigh, de obras-primas como A Marca da Maldade, Psicose e Sob o Domínio do Mal, está fazendo numa produção paupérrima ($900 mil) como essa? Na época, a atriz disse que aceitou o papel porque morava perto das locações, o que permitiria que seus parentes a visitassem. Ela disse ter lido o roteiro e só não havia gostado da ideia de usar crianças, pois acredita que elas não deveriam trabalhar em nenhum filme de terror. Depois de todas as críticas negativas, Leigh acreditava que o longa tinha falhado na escolha do diretor e que seria muito difícil utilizar coelhos como criaturas assassinas.

Também pagam mico os atores Stuart Whitman (Esses Homens Maravilhosos E Suas Máquinas Voadoras), Rory Calhoun (Como Agarrar um Milionário) e DeForest Kelley, o Dr. McCoy dos filmes Jornada nas Estrelas. De todo modo, temos que agradecer a essa equipe pela realização de um quase Plano 9 do Espaço Sideral com coelhos, sendo considerado pelo crítico John Kenneth Muir como um dos filmes mais ridículos já feitos na década de 70, com efeitos risíveis e diálogos banais, uma pérola da sétima arte.

Night of the Lepus teve uma exibição nos cinemas americanos em 26 de julho de 1972, alcançando 3 milhões nos cinemas pelo mundo, mas só teve lançamento em home vídeo 33 anos depois, com um DVD da Warner distribuído em 4 de outubro de 2005. Três anos depois, em 1975, seria lançado o sensacional Monty Python em Busca do Cálice Sagrado, com uma cena satírica sobre coelhos assassinos: Ele está ali! Onde? Lá! Atrás do coelho? É o coelho! veja a cena no vídeo abaixo e pense duas vezes antes de acariciar essas criaturinhas fofinhas:

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

8 thoughts on “A Noite dos Coelhos (1972)

  • 18/02/2018 em 15:43
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    “Seus monstros!” – Julius, pai do Chris

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  • 17/09/2015 em 23:39
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    Por incrível que pareça existe uma referência a esse filme em “Matrix”: na cena em que Neo e Morpheus vão visitar a Oráculo, o filme passando na TV quando Neo entra no apartamento é justamente “A noite dos coelhos”. Confiram!

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    • 29/03/2019 em 00:20
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      Sim, eu achei, o máximo, essa cena. Identiquei, logo que vi. Na verdade, sou apaixonada pela Noite dos coelhos, assisti inúmeras vezes..rs

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  • 21/04/2014 em 13:01
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    coelhos são fofinhos demais para dar medo em alguém,então deve ser por isso que não deve ser muito bom isso,mas até que eu gostaria de assistir esse filme,nem que fosse pra rir.

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  • 20/04/2014 em 03:06
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    Bom, pelo menos o único que ficou com medo de coelhos depois de assistir este filme foi o Julius, pai do Chris 😛

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