A Marca do Medo
Original:The Quiet Ones
Ano:2014•País:EUA, UK Direção:John Pogue Roteiro:Craig Rosenberg, Oren Moverman, John Pogue, Tom de Ville Produção:Tobin Armbrust, James Gay-Rees, Ben Holden, Simon Oakes, Steven Chester Prince Elenco:Jared Harris, Sam Claflin, Olivia Cooke, Erin Richards, Rory Fleck-Byrne, Laurie Calvert, Aldo Maland, Max Pirkis, Richard Cunningham, Eileen Nicholas |
O Sobrenatural existe? Desde os primórdios da raça humana, tudo aquilo que não possui explicação é considerado sobrenatural. Pode ser um vulto não indentificado num velório, uma luz estranha cruzando o céu, sons mistériosos, fantasmas nas fotos, criaturas desconhecidas…e até mesmo os milagres. Esse embate entre crença e ciência é extremamente antigo, sendo alvo de inúmeras pesquisas e livros como O Cérebro e a Crença, de Michael Shermer, e dos filmes do gênero fantástico. O que seria da imaginação, dos desafios da mente humana, sem a existência do sobrenatural? Em 1963, o Dr. John Markway formou uma equipe de especialistas, incluindo um cético e uma vidente, com o propósito de investigar os mistérios de uma casa cujo passado envolvia assassinatos violentos e insanidade, no filme Desafio ao Além, de Robert Wise, refilmado em 1999 como A Casa Amaldiçoada por Jan de Bont.
Na década de 70, foi a vez do Professor Joseph Coupland reunir três estudantes para provar que o sobrenatural não existe no longa A Marca do Medo, que estreou nos cinemas brasileiros no dia 10 de julho, com distribuição pela Imagem Filmes. Em uma aula na universidade, ele resolveu discutir o tema e exibir um vídeo de um garoto supostamente possuído durante um processo de recuperação do que ele considerava apenas uma patologia psicológica. O professor convidou o estudante Brian McNeil (Sam Claflin) para se unir a seus dois assistentes, o casal Krissi (Erin Richards) e Harry (Rory Fleck-Byrne), com o objetivo de estudar o comportamento de Jane Harper (Olivia Cooke), uma jovem abandonada e que tem desenvolvido estranhos fenômenos. O objetivo é que Brian registre em vídeo a evolução dos estudos e todo o processo de recuperação para mostrar ao mundo que alguns casos de possessão demoníaca e assombrações podem ser tratados como remédios, sem intervenção religiosa. Depois que a universidade resolveu não apoiar mais as pesquisas, Coupland foi obrigado a buscar um lugar ermo para continuar a experiência.
Jane é mantida trancafiada num quarto ao som de rock em volume elevado para evitar que durma e assim provocar as reações “estranhas“. Ela concentra suas energias negativas numa boneca da infância chamada Evey, do mesmo modo como o garoto do vídeo também tinha o seu “amigo imaginário“. Segundo o professor, se ela acreditar que a boneca está sob a influência da tal entidade maléfica, a simples destruição do objeto já servirá como cura para a garota. Mas, para provocar a aparição dessa outra identidade da jovem, o professor realiza métodos pouco convencionais, incomodando o novato Brian, que passa a se sentir atraído por Jane. Enquanto fatos estranhos começam a se manifestar no local, Brian vai se convencendo de que tudo parece ter uma razão ainda mais complexa do que simplesmente a realização de um estudo científico.
Com produção da Hammer – que desde seu retorno já alimentou o gênero com Deixe-me Entrar (2010), A Inquilina (2011) e A Mulher de Preto (2012) -, e direção de John Pogue (de Quarentena 2) a partir de um roteiro escrito por Craig Rosenberg (O Mistério das Duas Irmãs, 2009), Oren Moverman (O Mensageiro, 2009) e Tom de Ville, A Marca do Medo é bem interessante ao instigar o espectador sobre os mistérios envolvendo a garota possuída. Sem aqueles exageros do gênero, com o “susto do gato“, o filme trabalha o medo atmosférico e claustrofóbico, permitindo que o público perceba gradualmente que algo ruim está prestes a se manifestar. E a sequência “filmagem em primeira pessoa” que acontece no sótão, no blecaute, intensifica o medo e pode causar arrepios até nos espectadores menos sensíveis.
Muito se deve ao elenco bem escolhido e a ambientação na década de 70 num casarão sem os vícios dos lugares assombrados. Também fortalece a atenção do espectador o fato dos acontecimentos envolverem um caso real ocorrido no Canadá – leia mais no texto abaixo – e a trilha discreta de Lucas Vidal, que trabalhou em O Corvo (2012). Embora o título A Marca do Medo tenha uma relação com o sinal presente em Jane, ele foi muito mal escolhido soando exclusivamente comercial. O ideal seria algo como Os Adormecidos, estabelecendo uma referência ao que o Professor quer evocar com seus experimentos.
Longe de ser o filme do ano, A Marca do Medo é uma prova de que o sobrenatural pode até não existir, mas ainda assim permite experiências curiosas e gratificantes.
O Experimento Philip
Na década de 70, um grupo de parapsicólogos iniciou um experimento para criar um fantasma, provando em suas teorias que a mente humana pode produzir espíritos através das expectativas, da imaginação e da visualização. Ocorreu em Toronto no ano de 1972 sob a direção de um expert em poltergeist, o Dr. A. R. G. Owen. Os membros presentes deviam fazer uso de uma extrema e prolongada concentração para criar um fantasma através de uma unidade mental. A intenção era criar um fantasma e fazê-lo se tornar o mais “real” possível, sendo necessária uma história de vida, um passado com o qual o fantasma poderia se relacionar.
Eles nomearam o fantasma de Philip Aylesford, e criaram uma história trágica, explicando-a em detalhes completos envolvendo sua vida e trágica morte. Depois, iniciaram os contatos com Philip, em setembro de 1972: diminuíram as luzes, sentaram-se numa mesa com fotos de um castelo onde deviam acreditar que a entidade teria vivido, assim como objetos que pertenceram ao período.
Algumas semanas depois, Philip fez contato. Embora não tenha se manifestado de forma espiritual como uma aparição ou fantasma, ele fez contato através de batidas na mesa. Ele respondeu questões que tinham relação com o seu passado fictício, mas foi incapaz de dar informações além do que o grupo havia concebido. No entanto, Philip concedeu uma outra informação historicamente precisa sobre eventos reais e pessoas. O grupo teorizou mais tarde que essas informações vieram do subconsciente coletivo.
Com o tempo, as sessões foram ainda mais intensas, produzindo uma série de fenômenos que não poderiam ser explicados cientificamente. Seu espírito foi capaz de mover a mesa, deslizando-a de um lado para outro, mesmo com todos os participantes estando com as mãos evidentes.
A conclusão do experimento foi que não há como provar como e porque Philip se manifestou. Seria um resultado do subconsciente coletivo ou o grupo teria invocado um espírito verdadeiro que quis aproveitar a história criada? Alguns cientistas usaram o teste como prova concreta de que fantasmas não existem, e que se trata de uma manifestação do próprio inconsciente. Outro ponto de vista foi que, embora Philip tenha sido completamente criado pelo grupo, eles realmente contactaram o mundo dos espíritos. Um “brincalhão” (um demônio, talvez) teria usado a oportunidade para atuar como Philip e produzir os fenômenos extraordinários gravados. O que causou a manifestação parece ter se adaptado às expectativas do público, interpretando o papel do espíritos que eles pretendiam contactar.