Somos o que Somos
Original:Somos lo que hay
Ano:2010•País:México Direção:Jorge Michel Grau Roteiro:Jorge Michel Grau Produção:Nicolás Celis Elenco:Francisco Barreiro, Adrián Aguirre, Miriam Balderas, Carmen Beato, Alan Chávez, Juan Carlos Colombo, Paulina Gaitan, Daniel Giménez Cacho |
Já sabemos que o cinema estadunidense, no que se refere ao gênero de terror, lança mais remakes, reboots, continuações do que obras autorais. Geralmente, lidamos com trabalhos inferiores aos originais, mas as vezes podemos ser pegos de surpresa, como foi o caso de Somos o que Somos (2013), remake do mexicano Somos Lo Que Hay, de 2010, dirigido por Jorge Michel Grau, que posteriormente assumiu um seguimento de ABC’s Of Dead, I is for Ingrown).
A direção do remake ficou a cargo do promissor Jim Mickle, que dirigiu os interessantes Infecção em Nova York (2006) e Anoitecer Violento (2010). O filme de Mickle tem mudanças consideráveis do original, ambos conseguem ser impactantes, cada um com sua própria narrativa.
O enredo dos filmes é basicamente o mesmo: uma família que tem que sobreviver após a morte de um membro importante, dando continuidade a um estranho ritual, muitas vezes questionado por parte dos integrantes. Na versão mexicana, a morte em questão é do pai da família, restando a rígida mãe Patricia (Carmen Beato) e seus três filhos adolescentes – o mais velho e mais sensato Alfredo (Francisco Barreiro, visto recentemente em Ahí vá el diablo), o violento e impulsivo Julián (Alan Chavez) e a caçula Sabina (Paulina Gaitan). Na versão americana existe uma inversão de personagens. A morte inicial é da matriarca, deixando o pai Hardware Clerk (Laurent Rejto, que trabalhou com o diretor em Anoitecer Violento), as jovens irmãs Rose (Julia Garner) e Iris (Ambyr Childers), e o pequeno Rory (Jack Gore).
Na versão mexicana, a família entra em desespero após a morte do pai, e fica perdida para dar continuidade na tradição familiar e executar o ritual. Eles precisam do pai para sobreviver, Sabina é quem parece a mais serena entre os irmãos, sendo ela quem aconselha ao irmão mais velho sobre sua função em assumir ao papel do pai. Já na versão americana Rose, a irmã mais velha é quem assume o papel da mãe na família. Mesmo com medo de não conseguir cumprir sua nova função, tem o apoio de sua irmã Iris, e as duas tem o desafio de cuidar do pequeno Rory, que ainda não entende o ritual em questão. O elenco de ambas as versões é impecável: na versão mexicana o destaque fica para Francisco Barreiro, Carmem Beato e a bela Paulina Gaitan. Ja na versão americana, Laurent Rejto está muito bem em seu papel, assim como Julia Garner e Ambyrs Childers.
O filme de Jorge Michel é mais direto! O segredo da família é logo revelado, em meio a um ambiente sujo e um cenário decadente, um submundo de comércios ambulantes, prostitutas, uma polícia corrupta que parece não se importar com evidências que podem trazer a tona o mistério que ronda a família. Já o de Jim Mickle mantém o mistério por mais tempo, que vai se revelando a medida em que os “esqueletos do armário” vão sendo descobertos pela polícia local. O filme é mais cuidadoso em sua estética, com uma fotografia apurada que dá um tom mais dramático ao ambiente devastador. O roteiro da versão americana também é mais estruturado, com um desenvolvimento melhor da trama.
A versão mexicana opta por manter o foco no desespero e conflitos familiares em meio a tentativa de sobrevivência. Entre “caças” mal sucedidas, os membros da família tendem a tomar decisões muitas vezes precipitadas que só complicam a situação dos mesmos. A versão americana já mantem o foco mais no ritual, tendo até mesmo um livro que explica a sua origem, porém os conflitos familiares surgem e abalam a estrutura da família; nessa versão também existe uma explicação para a estranha doença que aflige os familiares, e é o fio condutor para que os segredos sejam revelados. Ambos os filmes têm cenas fortes: a versão mexicana é mais gráfica e mais violenta, a versão americana é mais sugestiva – o que não tira o impacto da repulsiva cena de jantar, além dos finais impactantes.
Somos o que Somos é a prova de que os remakes não são desnecessários, desde que haja um respeito com a obra original e que seja dado uma nova visão a trama. Assim já fizeram John Carpenter, Martin Scorcese, entre outros. Dois filmes ao redor do mesmo enredo podem ser tão diferentes entre si, mantendo uma qualidade narrativa que só tem a acrescentar ao gênero.
Ótimo filme!
Um remake tão bom quanto o original, algo raro atualmente.