Don’t Answer the Phone! (1980)

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Dont Answer the Phone! (1980)

Don´t Answer the Phone!
Original:Don´t Answer the Phone!
Ano:1980•País:EUA
Direção:Robert Hammer
Roteiro:Robert Hammer, Michael D. Castle, Michael Curtis
Produção:Michael D. Castle, Robert Hammer
Elenco:James Westmoreland, Ben Frank, Flo Lawrence, Nicholas Worth, Denise Galik, Stan Haze, Gary Allen, Michael D. Castle, Pamela Jean Bryant, Ted Chapman

O cinema dos anos 70 nos Estados Unidos era bem característicos pelos drive-ins, as sessões duplas e por um gênero de filmes chamado exploitation – que talvez você nunca tenha ouvido falar ou consiga definir com os termos técnicos, mas certamente quando você vê o primeiro sabe bem do que se trata. E o cinema dos anos 80 ficou bem caracterizado após o estouro dos slashers com Sexta-Feira 13, de 1981.

Deste período há uma pequena parcela de interseção – especialmente as produções lançadas após Halloween e antes de Sexta-Feira 13 – que caracteriza o “canto do cisne” para o exploitation e o cinema grindhouse com o que podemos chamar de produções mistas, películas que embora tenham todas as características técnicas do exploitation (maneirismos, misoginia, diálogos toscos, personagens over-interpretados, filmagem precária, roteiro inverossímil) já entram num campo evolutivo do que fatalmente iria acabar nos slasher movies. Entre estas produções transitórias poderíamos citar filmes como Maniac, de William Lustig, Nightmares in a Damaged Brain e Don´t Answer the Phone!, lançado em 1980, que é o alvo desta análise.

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Dirigido pelo estreante Robert Hammer, após a primeira audição, é certo dizer que sua intenção (e talvez de todos os diretores destas produções) é chocar por chocar, especialmente ao público feminino, pois especialmente neste filme, além de serem assassinadas por um maníaco sexual, todas as personagens com algum traço de personalidade depressiva são mulheres. Contudo, antes de tirar algumas conclusões apressadas, adianto que Don´t Answer the Phone! é muito mais amarrado apenas nesta propaganda polêmica, porque assistindo ao filme hoje, os excessos nos diálogos e nas situações causam mais risos pela inocência do que raiva pela conotação sexista.

O roteiro conta à história de Kirk Smith (Nicholas Worth, o capanga careca de Darkman, numa atuação cheia de caras e bocas), um demente veterano do Vietnã que adora estrangular garotas seminuas com uma meia-calça. Como de costume, o filme abre com o esperado assassinato de uma vítima em potencial que segue um padrão um pouco destoado do restante da produção: ele chega sorrateiramente, consuma o ato de morte, despe a garota, solta uma estranha risada fanhosa, tem relações sexuais com o cadáver e foge de carro.

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Porém, o que se vê em seguida e em quase todo o restante da projeção é que o modus-operandi do grandalhão consiste basicamente em abordar garotas disfarçado de um inofensivo fotógrafo de modelos e convencê-las a posar em seu estúdio particular, o que as levará à morte certa. Interessante que para ele não há tempo ruim e não importa o horário. Na manhã seguinte ao assassinato da abertura, ele vai atrás de uma nova incauta garota.

Enquanto isso, a psicóloga Lindsay Gale (Flo Gerrish, do interessante The Naked Cage) apresenta um programa de rádio em que ela atende a malucos diversos por telefone; um deles, Kirk (usando o pseudônimo de Ramon e um sotaque latino carregadíssimo), é um ouvinte assíduo e liga sempre para o programa, falando (não explicitamente) que sofre com dores de cabeças e que os assassinatos são uma maneira de curá-lo.

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A polícia entra em cena, mas seria melhor que não houvesse ninguém investigando. Isso porque a força policial – representada pelos detetives Chris McCabe (James Westmoreland, The Undertaker and His Pals) e Hatcher (Ben Frank, de Desejo de Matar 2) – é muito incompetente e os policiais adoram fazer piadinhas de duplo sentido e de gosto duvidoso relacionado às vitimas e mulheres em geral. Para entender o que eu estou falando, basta ver as cenas que se passam dentro da delegacia, em todas elas os policiais se comportam como se estivessem num bar, com os pés sobre as mesas, jogando conversa fora, tomando café ou literalmente coçando o saco…resumindo, não são pessoas em que eu ousaria confiar.

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A incompetência é tamanha que eles resolvem se organizar numa “força tarefa” contra o estrangulador, o que os faz chegar logo ao consultório da psicóloga Lindsay (neste filme, consultório de psicologia = um sobrado num muquifo da periferia), pois a última garota violentada era paciente dela. Todavia, a principio nenhuma ligação é encontrada.

No dia seguinte, Kirk Smith resolve trabalhar de verdade para pagar as contas e comprar drogas, vendendo algumas fotos pornôs para Sam Gluckman (Chuck Mitchell, o Porky do clássico Porky´s), um gordão tarado dono de uma revista do gênero. Gluckman admira o bom gosto de Kirk, mas acontece que uma foto do acervo particular do maníaco (algo relacionado a uma garota e umas velas… Bem, vocês pegaram a ideia) entra no meio deixando-o um pouco mais na trilha da polícia.

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Kirk sai com o dinheiro no bolso e é abordado por uma prostituta que, alheia ao perigo, o convence a uma sessão de “diversão“. Após o sexo, o maníaco convence a garota a ligar para o programa de rádio de Lindsay estrangulando-a enquanto ainda está no ar. A crueldade leva a psicóloga para a delegacia, suspeitando que o que aconteceu está relacionado ao temido estrangulador e ao tal “paciente do telefone” Ramon. Conforme as investigações avançam, a doutora percebe que cada vez mais está a mercê do assassino enquanto as vitimas se acumulam. Conseguirá a polícia prender Kirk antes que o fatídico encontro com Lindsay aconteça?

O roteiro, assinado pelo diretor Robert Hammer e por Michael D. Castle (em seu único trabalho creditado), é uma coisa da qual não se pode acreditar. As linhas de diálogo e situações beiram a picaretagem e exposição barata, como quando um policial solicita a um perito: “Me faça um molde dos seios desta moça… Quero tirar algumas impressões dentais” ou ainda quando Sam Gluckman é questionado pelos oficiais aterrorizado pelo estado de uma das garotas: “Eu quero que você saiba de uma coisa, policial: eu não publicaria nada como isso. Eu quero dizer realmente… velas enfiadas em todas suas partes intimas? Isso é coisa de doente…“. Para dar mais um exemplo de como não se pode levar este roteiro muito a sério, reproduzo abaixo um diálogo entre a psicóloga Lindsay e uma paciente (interpretada por Denise Galik, de Jogos Mortais, mas não este que você está pensando, trata-se de um slasher obscuro de 1982) que tem sérios problemas com drogas:

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Doutora: As drogas são mais importantes que seus pais, Lisa?
Lisa: Hummm…
Doutora: Diga, Lisa! Feche os olhos e diga para sua mãe que as drogas são mais importantes que ela!
Lisa: As drogas são mais importantes que você, mãe!
Doutora: Mais Alto!
Lisa: As drogas são mais importantes que você, mãe!
Doutora: Mais Alto! Grite!
Lisa: AS DROGAS SÃO MAIS IMPORTANTES QUE VOCÊ, MÃE!!!
(Lisa tem um ataque nervoso e começa a soluçar e chorar)
Doutora: Aí está, agora você pode se ajudar. Esta foi uma grande barreira ultrapassada, Lisa.

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Hã??? Com um tratamento desse, não fiquei surpreso quando, em seguida, esta paciente tenha tentando cometer suicídio pulando de um edifício, hahaha!

Completando a podreira, existem várias histórias paralelas sem o menor contexto que, por algumas vezes, nos faz esquecer que há um caso de assassinato, e, ainda, com tantas tiradas sarcásticas e absurdas até parece que estamos vendo uma comédia! Como por exemplo, uma cena impagável e aleatória com um sensitivo (interpretado por Chris Wallace, de Reveillon Maldito) – uma figura a lá Frank Black, do seriado Millenium, mas com um jeitão de Tony Montana, de Scarface – que só aparece na delegacia para ser ridicularizado pelos policiais. Ainda que todas as informações que ele passa aos oficiais sejam verdadeiras, é de chorar de rir e faz qualquer tentativa de levar o filme a sério ir por água abaixo.

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Isto para não falar de toda uma sequência envolvendo uma batida de McCabe e Hatcher num puteiro da cidade que rende toda sorte de piadas involuntárias que não vou descrever aqui para não tirar o interesse de quem queira assistir. Só para ter um aperitivo, entre as prostituta há uma cheirando cocaína na careca de um negão (!!!). Diria que se Hammer permanecesse fixo na história principal, o filme dificilmente teria mais de uma hora de duração, contudo seria muito menos divertido.

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Como diretor, chega a ser curioso a forma como Robert Hammer torna o assassino super exposto, pois ele passa a metade do tempo falando sozinho, se exercitando ou choramingando. Como podem perceber, não há tentativa de se criar momentos assustadores, apenas de chocar em momentos randômicos – tentativas estas que ficam abafadas ante os evidentes excessos. Hammer, como num bom exploitation, usa muito a câmera em primeira pessoa e exige o “máximo” de canastrice de seu elenco.

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Os atores, portanto, correspondem aos desejos do diretor e podem ser facilmente divididos. Enquanto as mulheres se esforçam para desempenhar um bom papel, os homens parecem sair de uma fábrica de cafajestes: basta assistir a uma cena em que a dupla de bocós…Opa…investigadores invade a casa errada e tenta prender um tiozinho vendedor de brinquedos… Ben Frank e James Westmoreland intimidam tão fortemente o inocente (e ainda saem numa boa) que são a caricata personificação do “Soldado legal e Soldado bravo“. Não perca o final que contém o ápice do exagero por parte do vilão personificado por Nicholas Worth.

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E para registro, a trilha (ou tralha) sonora composta por Byron Allred é uma coisa para esquecer; é uma barulhada feita em sintetizador que não apenas deprecia o suspense como possui um alto teor irritante. O consolo é que a aplicação da música não é tão recorrente assim.

Nos Estados Unidos, Don´t Answer the Phone! saiu numa interessante coleção da distribuidora BCI Eclipse nomeada “Welcome to Grindhouse“. Os discos desta série possuem dois filmes cada (neste caso Don´t Answer the Phone! faz par com o tosquíssimo e blasfêmico Prime Evil) e o mais legal é que você pode assistir aos filmes em separado ou na “modalidadeGrindhouse Experience, onde ambos os filmes são exibidos na seqüência com trailers e comerciais no início e intercalados como numa autêntica grindhouse. Será que há alguma chance disso sair no Brasil?

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Don´t Answer the Phone! é uma história boba, beirando a ingenuidade e muito esquisita como boa parte dos exploitations dos anos 70. Não é perigoso e nem te fará pensar duas vezes antes de atender o telefone (repararam que pela descrição o filme nem tem muito a ver com o bendito aparelho?), porém é uma experiência engraçadíssima e excelente para fãs fervorosos destas pequenas produções sujas que representaram toda uma geração. Apenas lamento que o diretor, produtor e roteirista Robert Hammer nunca mais tenha trabalhado novamente em quaisquer longas, pois eu gostaria muito de ver e me divertir com suas futuras produções.

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Gabriel Paixão

Colaborador e fã de bagaceiras de gosto duvidoso. Um Floydiano de carteirinha que tem em casa estantes repletas de vinis riscados e VHS's embolorados. Co-autor do livro Medo de Palhaço, produz as Horreviews e Fevericídios no Canal do Inferno!

3 thoughts on “Don’t Answer the Phone! (1980)

  • 28/02/2024 em 12:56
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    “Depois desta crítica tão profundo estou muito ansioso para NÃO assistir a esta porcaria”
    Eu depois de ler apenas as duas primeiras palavras escritas com a bunda pelo Gabriel Paixão

    Resposta
  • 12/04/2015 em 11:47
    Permalink

    só pela tua descrição eu já achei o filme bem engraçado e fiquei com vontade de ver!!

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