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Ne Pas Projeter (2015) (3)

Ne Pas Projeter
Original:Ne Pas Projeter
Ano:2015•País:Brasil
Direção:Cristian Verardi
Roteiro:Cristian Verardi
Produção:Silvia Prado
Elenco:Lisandro Bellotto, Aida Ferrás, Paulo Casa Nova, Aline Dotto e Yasmine Festugato

Em uma crítica recente, do curta metragem Judas, de Joel Caetano, citei as dificuldades do atual cenário do cinema do gênero de horror no Brasil. Eis que mesmo com todas essas dificuldades, vale ressaltar que vivemos um bom momento: são vários os diretores talentosos dessa nova safra que precisam ser descobertos e ter seu trabalho devidamente reconhecido pelo público nacional.

Nesse último mês, alguns filmes do gênero foram selecionados para o Festival de Sitges, na Espanha: Fábulas Negras, que conta com segmentos do José Mojica, Joel Caetano, Petter Baistorf e Rodrigo Aragão; o Diabo Mora Aqui, de Dante Vescio e Rodrigo Gasparini, e o belo curta Ne Pas Projeter, de Cristian Verardi, que faz parte da bacana antologia 13 Histórias Estranhas, que conta com trabalhos de 13 diretores do sul do país. Alguns dos diretores têm divulgado seus curtas à parte do longa acima citado; no caso de Ne Pas Projeter, o curta, além desta importante seleção em Sitges (um dos maiores festivais de cinema fantástico do mundo), também foi exibido no conservador Festival de Gramado, onde o diretor causou polêmica ao apresentar seu trabalho com uma máscara do Baphomet, o que é totalmente justificável em relação ao tema do Curta.

Cristian Verardi e o ator Paulo Casa Nova no Festival de Gramado
Cristian Verardi e o ator Paulo Casa Nova no Festival de Gramado

Cristian já trabalha com cinema do gênero faz tempo. Conhecido por seus trabalhos com Rodrigo Aragão, Cristian já encarnou o Velho do Saco, em A Noite do Chupacabras, e fez recentemente muito sucesso como a travesti Madame Ursula, dona de um bordel, que enfrenta zumbis com uma metralhadora giratória. Crítico, curador do festival A vingança dos Filmes B, pesquisador de cinema, ator, diretor entre tantas outras atribuições, Cristian contribui de várias formas para fazer do gênero uma realidade. Seu curta reflete em todo seu conhecimento do gênero. Recheado de homenagens e referências, o filme consegue ser de certa forma poético dentro de uma pesada atmosfera, agradando desde os fãs do cinema horror ocultista dos anos 60/70 até aquele cinéfilo mais ligados em filmes cults.

Na trama, após a exibição em uma sala de cinema, o projetista responsável por fechar a mesma, encontra no porão do local uma lata de película, com os dizeres em francês Ne Pas Projeter, traduzindo para o português, seria algo como Não Projetar. O que vemos a partir daí é uma viagem ao inferno pelos olhos do projetista. O filme que havia sido exibido antes da descoberta é o polêmico Incubus, de Leslie Steves, famoso por sua áurea amaldiçoada pelas tragédias a respeito. Segundo o diretor, o fato de uma cópia em película do filme ser encontrada na cinemateca francesa há alguns anos foi uma das principais referências para construção do curta. A França tem uma tradição ocultista, onde até mesmo a imagem mais famosa do Baphomet (outra referência do curta) é criação do mago francês Eliphas Levi. Outra forte influência é do cinema de Kenneth Anger, que misturava surrealismo, erotismo e muito ocultismo em seus filmes.

As cores fortes de Mario Bava, o intenso cinema dos italiano Fulci e Argento também serviram de referências para Cristian. Somente uma pessoa com muito conhecimento da história do cinema de terror para conseguir condensar em 10 minutos tanta informação. E não é só do cinema; Cristian também entende de ocultismo em si, ao revelar se inspirar nas missas negras de Anton Lavey (fundador da Igreja de Satã). Vemos em cena até mesmo um quadro do italiano Giovanni Bragolin: quem viveu os anos 80, com certeza vai se lembrar do quadro amaldiçoado do garoto chorando, que incitou várias lendas urbanas.

Ne Pas Projeter (2015) (2)

O roteiro não traz praticamente nenhum diálogo. Como citei recentemente na crítica de Judas, o filme está bem enquadrado na linguagem do curta metragem, focando todos os acontecimentos nas ações e expressões dos personagens, alinhadas à bela trilha sonora, e com a incômoda fotografia, que contracena com a pesada atmosfera envolta ao filme.

Ne Pas Projeter está aí para provar que é possível, sim, fazer filme de horror no Brasil e com qualidade. Precismos agora entender como distribuir e como trazer o público para conhecer estes trabalhos. Enquanto isso, o curta segue em festivais do gênero ou não, sozinho, ou ao lado da bela iniciativa da antologia 13 Histórias Estranhas.

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