Deus Branco
Original:White God
Ano:2014•País:Hungria Direção:Kornél Mundruczó Roteiro:Viktória Petrányi, Kornél Mundruczó Produção:Viktória Petrányi, Kornél Mundruczó Elenco:Zsófia Psotta, Sándor Zsótér, Lili Horváth, Szabolcs Thuróczy, Lili Monori, Gergely Bánki, Tamás Polgár |
Desde que o cinema deixou de ser um mero registro de atividades cotidianas para contar as primeiras histórias de ficção no final do século XIX que a noção de gênero passou a endereçar filmes para públicos específicos. E não existe nada de errado nisso. No entanto, alguns filmes transcendem as categorias impostas naturalmente pelos gêneros e não conseguem ser categorizados em uma única definição.
Um dos melhores exemplos atuais que simplesmente não pode ser pontuado como um único gênero foi gravado na Hungria em 2014 e recebeu o título em inglês de White God. Traduzido para o português como Deus Branco, trata-se simplesmente de um dos melhores filmes da década e que mescla perfeitamente os dois gêneros aos quais é associado: o horror e o drama. Não necessariamente nesta ordem. White God responde como uma película que não pode ser categorizada de forma simples. Fazer esta tentativa seria como limitar uma obra tão incômoda como bela.
Uma leitura descompromissada na sinopse pode inclusive enganar quem decidir assistir a White God. Vejamos o que geralmente era publicado em sinopses curtas de jornais e até em sites de entretenimento. A garota Lili vai passar alguns meses com o pai e leva o seu cachorro Hagen. Inconformado com o barulho do animal, o pai de Lili abandona o cão no meio da rua e os dois, Lili e Hagen, vão sofrer as conseqüências desta separação. Quem comprou o ingresso mal imagina o que estas consequências significam.
White God é antes de tudo um filme incômodo, violento e indigesto. Não se trata de uma produção para o público geral. O diretor Kornél Mundruczó conduz magistralmente a sua história por caminhos áridos e cruéis da alma humana envolvendo todos os personagens, pessoas e animais. Antes mesmo da separação de Lili e Hagen, já somos apresentados a uma realidade fria dos seus personagens que vagam sem emoção em vidas amargas.
A relação de Lili com o pai é inexistente e a separação da garota do seu único amigo, o cão Hagen, apenas piora as coisas. No momento em que vai viver na rua, Hagen vai passar por uma transformação como poucas vezes conseguimos ver com tamanha força no cinema. No meio de tantas amarguras sofridas, Hagen acaba sendo pego por uma organização que ganha dinheiro com lutas ilegais de cães. De animal dócil de estimação, testemunhamos o surgimento de uma máquina assassina treinada para matar. E Mundruczó não pega leve em nenhum momento desta transformação. Pelo contrário, ele joga tudo em cima do público sem nenhum pudor ou preocupação.
Neste aspecto, White God acaba soando como uma analogia sobre poder e ordem além dos caminhos de uma disciplina que é muitas vezes impostas. E no filme a ideia de disciplina não é aplicada apenas para Hagen. Todos os personagens humanos do filme, com destaque para os adultos, parecem viver dentro de uma lógica disciplinar que os coloca como robôs sem emoção. Os pouquíssimos personagens que parecem demonstrar algum sentimento o fazem de forma velada e por baixo dos panos. Aqui não existe lugar para fracos, sejam estes homens ou animais. A própria Lili está longe de ser a garotinha que a sinopse inicial parece indicar. Destaque para Sándor Zsótér como o pai de Lili. Inicialmente um personagem odiado pelo público, mas que nada mais é do que um exemplo de disciplina em um país que parece sofrer dentro de suas próprias imposições.
Mundruczó conduz seu público de forma segura que, mesmo chocado e incomodado com o que está vendo, não tira os olhos da tela e quer ver até onde tudo aquilo vai e como será a conclusão. Uma das sequências mais comentadas do filme é a inevitável fuga de Hagen do canil acompanhado por centenas de outros cães. A cena ilustra o cartaz do filme e graças a eficiente direção e edição, é um daqueles momentos mágicos e sublimes que apenas uma imersão fílmica completa proporciona. É de tirar o fôlego. Aliás, é impressionante como Mundruczó dirige com maestria os animais. Um total de 280 cães foram usados nesta sequência da fuga.
White God é um filme sobre ações e consequências. E, diferente de uma fábula infantil, parece não haver espaço para redenção ou mesmo arrependimento. Trata-se de um filme sobre naturezas aprisionadas, transformadas, mutiladas. E o público, sádico e ao mesmo tempo implorando por um final feliz, quer ir além e saber como tudo vai acabar. Diante de tanto mal, é possível enxergar um final feliz? Longe de qualquer tentativa de spoiler, Mundruczó nos oferece um final igualmente arrebatador. Sua força é tão grande que após a conclusão, quando os créditos começam a subir, a projeção segue silenciosa, sem trilha sonora acompanhando as letrinhas. É neste momento que o público provavelmente vai perceber o quanto está atordoado com tudo o que viu.
White God é drama e horror. Juntos e misturados dentro de uma alegoria canina que retrata o mundo devastado dos homens. Antes de ser um filme de gênero, talvez seja mais correto endereçá-lo como uma obra para e sobre o gênero humano. Em um mundo tão fragilizado, o apelo de um dos personagens em um dos poucos momentos de respeito entre cães e humanos parece ecoar para o próprio público na esperança de que algo de bom possa durar um pouco mais. “Vamos dar um pouco mais de tempo para eles“. O pedido toca profundamente. A pergunta que fica é: será que ainda é possível ter esse tempo?
Um bom filme, porém, não é dos melhores filmes da década.
Apresenta um bom roteiro e ótimas atuações. Os personagens vão mudando ao longo da trama, tornando-se cada vez mais frios. O ponto forte do filme está na história e nas mudanças que o cachorro sofre.
É um bom filme, não apresenta soluções fáceis, personagens carismáticos e o enredo é cruel e indigesto. O grande problema do filme é que ao longo das suas 2 horas perde o ritmo e fica cansativo, mas, isso não compromete o longa.
É um bom filme e merece ser visto.
Recomendado.
Não achei essas maravilhas aí não. Tampouco ví algum horror. Amores Brutos , esse sim é um filme contundente que também tem cães