O Retorno
Original:The Return
Ano:2006•País:EUA Direção:Asif Kapadia Roteiro:Adam Sussman Produção:Aaron Ryder, Jeffrey Silver Elenco:Sarah Michelle Gellar, Sam Shepard, Peter O'Brien, Adam Scott, Kate Beahan, J.C. MacKenzie, Erinn Allison, Darrian McClanahan, Frank Ertl, Brad Leland |
Quando um roteirista escreve, um produtor dá seu dinheiro, um diretor comanda e toda uma equipe se propõe a fazer um filme de terror, em suas mentes deturpadas a intenção deve ser acima de tudo manter o público entretido. Pode ser através de um bom clima de tensão, cenas repulsivas e sangrentas, uma fotografia soturna, uma história diferente, enfim, qualquer coisa que faça valer a pena gastar 90 minutos de sua vida e o seu dinheiro. Os envolvidos no filme O Retorno deveriam ter refletido muito mais nesse conceito antes de gastar 15 milhões de dólares para fazer uma porcaria tão estúpida como essa.
Isto porque ver uma parede recém pintada secar ou um documentário de 3 horas sobre a vida de quatis asiáticos no Discovery Channell é mais atraente do que O Retorno, e quando se chega a conclusão que o trailer de um filme é mais assustador do que todo o filme em si é sinal de que algo está absurdamente errado…
Esta é a estreia do diretor britânico com descendência indiana Asif Kapadia em solo americano e de cara pega um thriller estrelado por Sarah Michelle Gellar, amada e admirada por muitos fãs por aí a fora por sua presença em filmes como O Grito, Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado para não falar do seriado Buffy. Filmado em março de 2005, O Retorno teve a estreia muitas vezes adiada até seu lançamento nos Estados Unidos em 10 de novembro de 2006. Fracassou nas bilheterias – fez desapontadores 7,7 milhões de dólares em solo yankee, 15 milhões mundialmente – e não deixou saudade…o motivo não é muito difícil de ser encontrado quando se assiste pela primeira vez…
O roteiro difícil de acompanhar conta a história de Joanna Mills (Gellar), que, quando criança, sofreu um acidente de carro que a deixou com uma horrível cicatriz na perna feita em computador, e cultivou o péssimo hábito emo de se cortar sem nenhum motivo aparente.
Seu pai Ed Mills (Sam Shepard, indicado ao Oscar de ator coadjuvante por Os Eleitos) atento ao que acontecia deve tê-la trancafiado em alguma instituição mental – isso não é revelado de verdade, mas justificaria a maneira apática com que Gellar interpreta aqui – até que quinze anos depois ela trabalha como representante de vendas de uma transportadora. É uma boa funcionária no que faz embora não dê pra sacar muito o que realmente ela produz na empresa. De modo que ela viaja muito e precisa ir a uma cidade no Texas (sempre o Texas!) para concretizar uma venda para um poderoso magnata mal humorado do ramo petrolífero. Porém a garota começa a ter visões e eventos estranhos acontecem relacionados com uma outra mulher (Erinn Allison), que nunca havia visto na vida. Conforme as visões se intensificam, à medida que fica na cidade, ela não tem outra escolha a não ser procurar saber quem é esta mulher e qual a mensagem que quer passar.
Em sua estada neste local que deve ter no máximo uns 20 habitantes, Joanna é perseguida por seu ex-namorado e concorrente de negócios Kurt (Adam Scott de Hellraiser – A Herança Maldita), um cretino que tenta estuprar a garota no decrépito hotel da cidade. Esse personagem serve tão somente para ser espancado sumariamente em seguida pelo misterioso Terry Stahl (Peter O’Brien), cuja mulher falecida é protagonista de um mistério muito misteriosamente misterioso. Uuuuuuuuuhhhh, que medo!!
Chega a ser ofensivo à inteligência do leitor dizer que depois disso Terry e Joanna vão se atracar amorosamente, que a garota questionará sua sanidade enquanto sua melhor amiga Michelle (Kate Beahan de Plano de Voo) não acredita em nada daquilo e que as visões se encaixarão porcamente aos poucos, revelando que a verdade no final é um grande clichê, já que o aspecto “sobrenatural” é simplesmente jogado pela janela do roteirista estreante Adam Sussman.
A grande falha do filme não é o roteiro batido de seriado de TV, ou a maneira pretensiosa que a história é conduzida, mas todos os fatores que juntos convergem para um filme que não é interessante em momento algum. E o pior de tudo isso é que o diretor, Asif Kapadia, sequer TENTA criar algum suspense, apelando umas duas vezes para o susto fácil e nada mais.
Se não há sangue na tela ou violência explícita, me pergunto o que um nome respeitável como o de Gregory Nicotero (O Massacre da Serra Elétrica 2003, O Albergue 2) faz nos efeitos especiais. Fechando o engodo, a fotografia é apenas aceitável, a trilha sonora parece oriunda de uma fictícia “linha de montagem de músicas para thrillers” soando sempre igual e repetitiva como o disco riscado do filme que irrita ao cantar sempre “Sweeeeeet dreams on you…” (música da fantástica vocalista Patsy Cline).
Sarah Michelle Gellar poderia ser uma scream queen admirável para a nova geração, só que ao se envolver com coisas assim faz com que ela perca qualquer chance de chegar a esse trono, pois seu trabalho nesta película beira o risível. Nesta produção ela se limita a fazer sempre as mesmas três expressões: desconfiada, cansada e assustada. Todas elas aparentando um deslocamento que só é justificável para colocar seu nome no cartaz e atrair alguns fãs desavisados para o cinema (ou ao download). Os demais são tão obscuros e prejudicados pelo desenvolvimento nonsense de personagens que mesmo se tivessem talento não conseguiriam um resultado satisfatório.
A edição é uma das coisas mais caóticas que eu vi em tempos. É o tipo de coisa que o espectador fica perdido entre um corte e outro, pensando: É uma alucinação, um flashback, um devaneio do diretor… O que diabos está acontecendo agora?! Tudo repetido novamente, de novo e novamente, ad-nauseum, ou seja, redundância é a palavra de ordem do filme. Se alguém no fim das contas merece um premio pelo bom trabalho é a equipe responsável pelos trailers e comerciais da produção que nos venderam que O Retorno seria uma continuação perversa de O Grito 2 e aqueles que acreditaram caíram como patinhos.
Não é um filme de terror (no máximo um drama bem fuleiro) e não justificaria uma ida ao cinema – e minhas congratulações a Paris Filmes, que lançou direto em DVD no Brasil – sequer recomendaria uma locação, a não ser que você seja um fã doente de Gellar. Esse é um filme para assistir direto na TV, isso se o espectador não tiver nada o que fazer por aí. Caso ainda seja de interesse, o DVD nacional contém um final alternativo muito parecido com o original, que se usado não faria o menor sentido para a cronologia do filme, e dez minutos de mais encheção de linguiça também conhecido como cenas deletadas. Para mim só não é o pior filme de 2007 porque O Retorno dos Malditos conseguiu me deixar com raiva. Este aqui apenas com uma pesada e incontrolável sonolência…