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Fome
Original:Fome
Ano:2016•País:Brasil
Autor:Márcio Benjamim•Editora: Jovens Escribas

Zumbis sempre ocuparam um lugar especial no imaginário popular. Seres humanos reduzidos apenas a instintos, movidos apenas por uma fome visceral, cegos e irracionais. Mas o quão longe o mundo real está da fantasia neste caso? Há alguns anos jornais e revistas estampavam suas capas com cenas tão, ou mais, grotescas que aquelas criadas por George Romero, com crianças reduzidas a esqueletos vivos devido à fome na África, que nunca acabou, mas parece não vender tantas revistas quanto antigamente.  Mas não precisamos ir muito longe para nos depararmos com cenas tão terríveis.  Os anos oitenta chegaram ao Nordeste trazendo uma das maiores secas já vistas no Brasil, que durou cerca de sete anos e matou mais de 3,5 milhões de pessoas.  A seca no Nordeste é um problema que nunca foi solucionado e parece estar cada vez mais longe de uma solução. E com a seca, vem a fome.

Fome é título do segundo livro escrito pelo autor potiguar, Márcio Benjamim, que já havia nos brindado com a excelente antologia, Maldito Sertão e agora mergulha de cabeça no universo dos zumbis em sua primeira novela. E se o universo dos zumbis parece um pouco desgastado, com autores que deixaram de lado a crítica social presente nos clássicos de Romero por meras histórias de terror de fácil produção, Márcio está aí para provar que os mortos-vivos ainda têm muito a oferecer. Só precisam ser bem escritos.

A novela segue o padrão clássico das histórias de zumbis com um pequeno povoado do interior do Rio Grande do Norte que após mais da metade da população ter abandonado a cidade em busca de melhores perspectivas, cancela a festa da padroeira. A partir daí, casos envolvendo pessoas famintas que parecem mortas começam a acontecer ao redor de todo o pequeno povoado. Mas Márcio se utiliza muito bem dos conceitos presentes nas histórias de zumbis para denunciar o sofrimento do sertanejo com a seca, a falta de oportunidades, a fome e, é claro, a corrupção de políticos “bem-intencionados”.

Fome (2016) (2)

O livro é escrito usando expressões e palavras comuns da região, deixando tudo mais realista. Sem retoques e palavras rebuscadas. Os personagens de Fome falam como pessoas reais do povo. Mas nada que o torne incompreensível, pois para aqueles menos familiarizados com o modo de falar do sertanejo, o livro conta com “traduções” que facilitam a compreensão das palavras mais diferentes. O resultado é uma leitura saborosa, ágil e que vai deixar o leitor querendo mais.

Como em seu livro anterior, Márcio Benjamim, mostra que sabe contar uma boa história e, mais do que isso, cria histórias que poderiam muito bem ser transpostas para outras mídias. É impossível não ler Fome e ficar imaginando uma série de TV passada no sertão brasileiro, com direção de alguém como Rodrigo Aragão ou Shiko, que produziu a belíssima capa do livro, e muito superior à The Walking Dead, mostrando os zumbis como eles devem ser: metáforas usadas para criticar nossa sociedade e o que nos tornamos.

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7 Comentários

  1. Vocês como sempre fazendo a diferença nesse gênero tão sofrido no Brasil, mas ironicamente tão promissor que é o terror! Mais uma vez muito obrigado pelo espaço e vamos rezar a Baphomet que vire uma série, um filme, um curta, quem sabe? Grande abraço!!!

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      Author

      Um curta? Tem que pensar grande! Quero minissérie na Globo depois da novela! 😀

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