Fear the Walking Dead (2016) – 2×01: Monster
Fear the Walking Dead: Monster
Original:Fear the Walking Dead: Monster
Ano:2016•País:EUA Direção:Adam Davidson Roteiro:Carla Ching, Dave Erickson, Kate Erickson, Robert Kirkman Produção:Pablo Cruz, Avram 'Butch' Kaplan, Alan Page, Arturo Sampson Elenco:Kim Dickens, Cliff Curtis, Frank Dillane, Alycia Debnam-Carey, Colman Domingo, Mercedes Mason, Lorenzo James Henrie, Rubén Blades, Arturo del Puerto, Elizabeth Rodriguez |
Em um dos momentos mais fantásticos de Zombie, de Lucio Fulci, durante uma viagem de barco, Susan Barrett (Auretta Gay) resolve tomar um banho de mar. Coloca o equipamento de mergulho e salta sobre as águas frias, exibindo a exuberância de seu corpo. Entre os animais marítimos e as algas, surge um zumbi decomposto que agarra sua perna, puxando-a para baixo. O episódio antológico ainda promove uma luta incrível entre um tubarão e o morto-vivo, gravando cada frame na retina do espectador, diante de um dos momentos mais clássicos do cinema de horror italiano. Se tivesse visto esse filme, Chris (Lorenzo James Henrie), ainda abalado pela perda trágica da mãe no episódio final da primeira temporada, não teria resolvido entrar no mar.
Depois de uma temporada morna, com alguns poucos momentos que honram a série original, Fear the Walking Dead veio com a proposta ousada e claustrofóbica de explorar uma outra realidade do apocalipse zumbi. Ora, todo mundo imagina que a melhor rota de fuga para situações similares é o mar, nunca pensando nos perigos que também possam existir na vastidão anil. Em Madrugada dos Mortos (Dawn of the Dead, 2004), por exemplo, a sequência final mostra que não há lugar seguro quando os mortos resolvem sair do Inferno.
Assim, o primeiro episódio, Monster, começa a mil por hora, sem explicações para o adiantamento das ações, fazendo com que o espectador se pergunte se perdeu alguma coisa ou se estaria vendo uma parte 2. No final da temporada anterior, depois que a zona militar imposta se mostra frágil e Nick (Frank Dillane) é resgatado do hospital com o “colega de quarto” Strand (Colman Domingo), os sobreviventes vão até a morada do estranho, um casarão localizado à beira-mar. Enquanto se organizam no local e Travis (Cliff Curtis) se vê obrigado a dar um fim na ex-esposa Liza (Elizabeth Rodriguez), antes que ela se transforme em zumbi, o grupo já planeja o próximo passo: buscar abrigo em Abigail, o iate de Strand.
Monster tem início na fuga do grupo para o iate, com a chegada de horda de zumbis e um bombardeio aéreo – provavelmente por conta das ações do projeto Cobalt, mencionado na temporada anterior. Os mortos aparecem rapidamente, com Nick tendo que resgatar a família com uma lancha e arrastar o arrasado Chris, completamente afetado pela perda da mãe. Na manhã seguinte, com o céu límpido, eles logo encontram um grupo de sobreviventes no mar aberto, pedindo ajuda. Embora Madison (Kim Dickens) acredite que o correto seria o resgate, Strand e até mesmo Travis chegam a um consenso de que uma ação assim pode ser perigosa, devido à possibilidade de pessoas contaminadas entrarem na embarcação ou até de tentarem roubar o veículo.
Nesse cenário melancólico, com a choradeira irritante de Chris, destaca-se o “chat” por rádio de Alicia (Alycia Debnam-Carey) “quando um estranho chama“. Ao tentar se comunicar com o mundo sólido, a garota contacta um rapaz que passa a ser seu confidente, ao passo que relata problemas em seu barco e a necessidade de ajuda. Sem a permissão de Strand, a amizade se encerra quando ele diz que sabe onde ela está e que a encontrará em breve, no mesmo momento em que Chris decide nadar próximo a um naufrágio.
“São eles que fizeram isso.“, aponta Strand, já indicando as ações de piratas. Zumbis boiando à espreita e pessoas ruins são as apostas da segunda temporada de Fear the Walking Dead. Não foi tão empolgante quanto se imaginava. A necessidade de acelerar as ações para prender o espectador no assento pode não ser uma boa escolha do enredo de Kate Erickson, Dave Erickson e Carla Ching, sob o olhar atento de Robert Kirkman, até mesmo porque sabemos que não será sempre assim. Momentos sonolentos irão conflitar com as cenas ágeis, um erro já comum na série original com a desculpa de desenvolver personagens.
A direção de Adam Davidson (que também comandou o episódio piloto) não chega a comprometer, mas também mostra algumas escolhas equivocadas como as que envolvem o mergulho de Nick para salvar Chris. Sem saber para onde apontar a câmera, a sequência, que deveria ser tensa e surpreendente, é fria como as águas cristalinas. E ele também segura de mais a cena submersa, como se quisesse mostrar ao público a capacidade do rapaz de mexer as pernas embaixo d´água.
É provável que a série evolua no decorrer da temporada, mas será preciso muito mais do que claustrofobia, zumbis e piratas para manter o público aceso como as bombas que levaram a cidade às ruínas.