A Menina Que Tinha Dons (2016)

4.2
(5)

A Menina que tinha Dons
Original:The Girl with All the Gifts
Ano:2016•País:UK
Direção:Colm McCarthy
Roteiro:Mike Carey
Produção:Camille Gatin, Angus Lamont
Elenco:Gemma Arterton, Glenn Close, Dominique Tipper, Sennia Nanua, Paddy Considine, Anamaria Marinca, Lobna Futers, Fisayo Akinade, Anthony Welsh

A cidade de Londres está devastada. Infectados tomam as ruas e contaminam os vivos. Somente poucos militares e sobreviventes tentam se reerguer e levar a vida sabendo que a qualquer momento o apocalipse lhes tomará de assalto. O cenário pode despertar lembranças: Lá se vão quase 15 anos do lançamento de Extermínio, filme dirigido por Danny Boyle, o filme de zumbis (tecnicamente infectados) que abalou as estruturas do cinema de terror como o conhecemos.

Com estas referências em mente e praticamente o mesmo cenário, o diretor escocês Colm McCarthy – mais conhecido por seus trabalhos na televisão, tendo dirigido The Tudors, Sherlock e Doctor Who, entregou The Girl with All the Gifts, baseado no elogiado livro homônimo de Mike Carey (que também assina o roteiro), vencedor do prêmio Eisner pelo seu trabalho na HQ Lucifer e também reconhecido por sua participação em Hellbrazer. O livro saiu no Brasil com o título A Menina Que Tinha Dons pela editora Rocco.

Em The Girl with All the Gifts o futuro é incerto quando esporos de um fungo altamente contagioso cresce incontrolavelmente nos cérebros de seus hospedeiros com o único objetivo de continuar se reproduzindo nos seres humanos até tomar conta de todo o planeta. Como o fungo é espalhado pelos fluidos corporais, os infectados agem como zumbis, tentando morder quem ainda está limpo.

Em uma instalação militar secreta, crianças são tratadas como prisioneiras para experimentos científicos e logo é revelado que elas possuem o fungo em seu organismo, porém conseguem manter o controle até um certo limite e a racionalidade, mas podem igualmente transmitir os esporos pela saliva, portanto são tratados como animais de segunda classe. A rotina é rigida, desumana, com horários estritos e ameaças com armas o tempo todo, porém ainda assim uma garotinha chamada Melanie (Sennia Nanua, em sua estreia no cinema) consegue se manter polida, controlada, alimentando a esperança de que o futuro poderá trazer melhores frutos.

Responsável pela educação das crianças, a professora Helen Justineau (Gemma Arterton, João e Maria: Caçadores de Bruxas) aparentemente é a única que parece se compadecer com a condição na instalação e passa a nutrir um vínculo especial com Melanie. Porém a menina está progredindo muito a frente das outras e isto chama a atenção da doutora Caroline Caldwell (Glenn Close, Damages), médica pesquisadora que tenta entender o fenômeno que só acontece com estes infantes e, desta forma, encontrar uma vacina para curar os infectados. Mesmo que para isto, o cérebro delas precise ser arrancado do corpo.

Chega a vez de Melanie passar pelo procedimento de remoção do cérebro para a nova tentativa da doutora, é quando as barreiras militares são sobrepujadas pelas hordas de infectados, que invadem o complexo militar. Na confusão, somente Melanie, Justineau, Caroline, Sargento Parks (Paddy Considine, O Ultimato Bourne) e alguns outros conseguem fugir em um veículo blindado, procurando ajuda a muitos quilômetros dali em outro refúgio controlado pelo exército. Será que este lugar ainda está livre dos infectados? De acordo com a médica, Melanie carrega a única possível cura para o fungo, portanto sobreviver não é só uma questão de vida ou morte, mas da continuidade da espécie humana.

A comparação com Extermínio não para no cenário e no fato de que a ameaça não está exatamente nos mortos-vivos ou infectados, pois assim como o filme de Danny Boyle (e, posteriormente, nas partes onde The Walking Dead é bom), The Girl with All the Gifts carrega nas relações entre os personagens seu maior mérito, ficando difícil estabelecer quem realmente é o antagonista do filme. Os protagonistas que aparentemente são “bonzinhos“, se colocam em riscos desnecessários por sua ingenuidade, os “maus” estão tomando atitudes racionais para a continuidade da civilização. Todos têm seus motivos para agir como agem e, em uma análise mais profunda, é difícil condená-los no contexto que o filme passa.

Contado quase inteiramente do ponto de vista de Melanie, uma garotinha que não tem culpa de ter sido infectada no útero da mãe, cuja breve vida foi pontuada por desumanidades e que jamais conheceu outro tipo de mundo, aos olhos atentos não há como não lembrar da situação da Síria, onde conviver com a guerra e com o medo passou a ser parte do cotidiano daquele povo, uma naturalidade que não deveria ser aceita por ninguém. É pela falta de maniqueísmo, de saídas fáceis e pelo excesso de empatia que é possível ao espectador sentir as quedas, o sofrimento e as angústias deste grupo em busca de um porto seguro, ainda quando a esperança vai minguando a níveis impossíveis.

Diferentemente de Extermínio, porém, a produção possui muitas sacadas originais e não usa a violência como canalizador deste sofrimento. Boas ideias, momentos inesperados e um final que, se não é exatamente surpreendente, fecha o ciclo em um tom melancólico satisfatório, fazem The Girl with All the Gifts digno de menção para fãs que estão a procura de uma boa história de horror.

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Gabriel Paixão

Colaborador e fã de bagaceiras de gosto duvidoso. Um Floydiano de carteirinha que tem em casa estantes repletas de vinis riscados e VHS's embolorados. Co-autor do livro Medo de Palhaço, produz as Horreviews e Fevericídios no Canal do Inferno!

5 thoughts on “A Menina Que Tinha Dons (2016)

  • 08/03/2017 em 13:29
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    Filme phoda com PH de pharmacia. Livro altamente fodástico também, escrito pelo gênio Mike Carey também muito phoda como roteirista de quadrinhos.

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  • 09/02/2017 em 03:37
    Permalink

    Apaixonei pelo filme e por Melanie. A pequena atriz é sensacional!

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