Noite do Terror 2 (2014)

3.3
(3)

Noite do Terror 2
Original:See no Evil 2
Ano:2014•País:EUA
Direção:Jen Soska, Sylvia Soska
Roteiro:Nathan Brookes, Bobby Lee Darby
Produção:Michael J. Luisi
Elenco:Glenn Jacobs, Danielle Harris, Katharine Isabelle, Chelan Simmons, Kaj-Erik Eriksen, Greyston Holt, Lee Majdoub, Michael Eklund, Reese Alexander, Kelly-Ruth Mercier, Nancy Bell

Durante o período em que JigSaw promovia a dor através de jogos sangrentos e ousados, vieram várias outras produções similares, com a câmera acelerada e personagens envolvidos em armadilhas mortais. See no Evil, lançado por aqui com o péssimo título Noite do Terror, fez parte dessa safra, com distribuição da Lionsgate, numa tentativa oportunista de desenvolver um novo ícone do horror. Um grupo de delinquentes, encarcerados por penas menores, foi designado para limpar um hotel abandonado, a partir de um projeto social desenvolvido pelo ex-policial Williams (Steven Vidler), que perdeu o braço durante um confronto com o serial killer Jacob Goodnight (o lutador Glenn Jacobs). O local é habitado pelo gigantesco psicopata, num plano de sua mãe (Nancy Bell) para vingar o filho e encontrar mais pecadores. Com direção de Gregory Dark, o primeiro filme se destacou pela violência excessiva, pelo clima de insegurança e claustrofobia e principalmente pelo modus operandi de Jacob, que tinha como marca registrada arrancar os dois olhos de suas vítimas em efeitos sangrentos e bem realizados. E a boa avaliação também se deve ao surpreendente assassinato do policial no meio do filme, sem transformá-lo em um eterno sobrevivente, como se costuma fazer no gênero.

Apesar das críticas positivas, uma continuação demorou para ser produzida. Somente oito anos depois veio à luz Noite do Terror 2 (arghhh), com a proposta de trazer novamente o assassino para mais cenas de tensão e violência. O primeiro problema já aparece aí: no final do filme de 2006, Jacob teve um dos olhos vazados com um cano e despencou de um ponto alto do hotel até o chão, sendo improvável a sobrevivência. Tudo se justifica com o gênero da produção, com base na imortalidade de Jason Voorhees e Michael Myers, bastando apenas criar uma situação nova para colocá-lo novamente em ação. Se não há explicação lógica, o roteiro de Nathan Brookes e Bobby Lee Darby já demonstra sua condição frágil para permitir outras “licenças do gênero“.

Na mesma noite em que cometeu o massacre no hotel, noticiado na TV, Jacob é conduzido a um necrotério juntamente com as nove vítimas encontradas no local, para reconhecimento da causa da morte. Lá trabalham três funcionários: Amy (a scream queen Danielle Harris), o apaixonado Seth (Kaj-Erik Eriksen) e o chefe cadeirante Holden (o veterano Michael Eklund). É aniversário de Amy e ela planeja se encontrar com um grupo de amigos para festejar a data, mas com a chegada dos corpos ela acaba ficando no local para ajudar a equipe. Assim, seus amigos decidem, então, ir até lá para comemorar, aumentando o número de presas para o psicopata. A insana Tamara (Katharine Isabelle, em seu pior papel da carreira), seu namorado Carter (Lee Majdoub), o irmão protetor de Amy, Will (o limitado Greyston Holt), e Kayla (Chelan Simmons, que morre no bronzeamento artificial em Premonição 3) entram facilmente no gigantesco necrotério para não mais encontrar a saída. Enquanto se preocupam apenas em transar e se divertir, Tamara, que pesquisou sobre o assassino na internet, tem a ideia de ver o corpo e ainda provocá-lo, ao fazer sexo ao lado dele.

Dado como morto, Jacob se levanta e dá início ao banho de sangue, construindo suas armas como o tradicional gancho, a partir dos itens encontrados no local. Em pouco mais de vinte minutos, todos terão seu destino selado com o psicopata, com exceção de dois. Esses passarão o restante do filme correndo de um lado para o outro, em busca de uma saída daquele inferno, temendo um encontro final com o monstro. Sem nada mais para contar, Noite do Terror 2 é só isso mesmo: correria, tentativa de se esconder nos mais variados ambientes, problemas com as centenas de chaves para abrir as portas e nada mais. Para justificar a falta de comunicação externa, o chefe Holden tem o costume de recolher os celulares e trancá-los num cofre (!!), e Jacob decide destruir o sistema elétrico para deixar o necrotério sem luz e telefone.

Até aí, com a claustrofobia instaurada, você até pensa que irá curtir um slasher violento e divertido! Infelizmente, não é o que acontece. Mesmo com alguns flashbacks do filme original para quem se esqueceu do que acontecia, o próprio Jacob opta por mudar sem motivo o modo de assassinar os pecadores. Ele não arranca mais os olhos, e utiliza suas ferramentas para cortar gargantas e furar intestinos, algo bastante diferente do que o tornou conhecido. E quando precisa realmente matar determinado personagem – o que encerraria o filme bem antes – decide atirá-lo de um lado para outro do cenário ao invés de quebrá-lo ao meio ou desmembrá-lo, repetindo algumas ações de Jason na década de 80. A descaracterização de Jacob é ainda maior quando o tornam um assassino falante, que até chega ao ponto de interrogar Kayla para saber se ela merece ser salva, dando a impressão que os roteiristas nem sequer assistiram ao primeiro filme.

Com esse elenco de rostos conhecidos, era de se esperar um filme melhor. Há muitos furos por todo o enredo – ambientes ora iluminados, ora sem energia -, e cenas esticadas em exagero para alongar a duração do filme. Veja, por exemplo, a sequência final, com a câmera mostrando um personagem saindo do prédio, indo ao carro, para chegar ao portão de saída, destrancá-lo antes de trazer algo mais que valha a pena ser visto. E, diferente do primeiro, fizeram questão de sugerir uma continuação, com a exposição de cada um dos corpos até a fala derradeira.

Assim, com tantos problemas que não justificam a sua realização, só resta a nós arrancarmos os olhos para não precisarmos mais ver filmes assim.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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