Medo Profundo
Original:47 Meters Down / In the Deep
Ano:2017•País:Uk, EUA, República Dominicana Direção:Johannes Roberts Roteiro:Johannes Roberts, Ernest Riera Produção:Mark Lane, Kate Glover Elenco:Mandy Moore, Claire Holt, Matthew Modine, Chris Johnson, Yani Gellman, Santiago Segura |
Dizem alguns estudiosos de cinema que os primeiros filmes de muitos cineastas são muito melhores do que os últimos, como se o diretor fosse se adequando à fórmulas pré-estabelecidas ao longo dos anos e se esquecendo de personalizar seu trabalho. Citam Romero, Carpenter, Hooper, Craven e Argento (mantendo apenas a análise no gênero) como exemplos de diretores irregulares, que até mesmo tiveram longas duvidosos em meio a uma carreira de sucesso. Hoje, venho para falar de um nome que veio em um processo inverso, iniciando a carreira com filmes classe Z, completamente descartáveis, e foi conquistando seu espaço e adquirindo um bom status em seu último trabalho, o claustrofóbico terror experimental 47 Meters Down aka In the Deep, de 2016.
Posso falar de Johannes Roberts com propriedade. Lá nos primórdios do Boca do Inferno, quando o download de filmes era via Emule e demorava dias, tive acesso ao péssimo Hellbreeder (2004), que ganhou uma resenha minha no livro Medo de Palhaço. Com repetições de cenas desnecessárias, momentos oníricos horrorosos, elenco caseiro e efeitos de fundo de quintal, foi com muito sofrimento que cheguei ao final dessa ruindade absurda. E nem imaginava que na mesma época, com diferença de semanas, iria conferir o igualmente medíocre Darkhunters, também de 2004. Repetindo os mesmos defeitos, numa bobagem sofrível sobre o confronto entre anjos e demônios, tendo a volta de alguns atores do anterior em mais sonhos e efeitos lamentáveis. No ano seguinte, ele veio com outra bomba: Floresta dos Condenados, com mais demônios e ainda contando com a participação de um perdido Tom Savini, que nem se envolveu com a maquiagem.
Após quatro anos de silêncio, Roberts afinou o tom com o terror escolar F, que até tem seus méritos técnicos de desenvolvimento, já apresentando uma boa evolução. Mas, os erros voltariam em 2011, com Roadkill, estelado por Stephen Rea. Efeitos ruins novamente, num slasher sobrenatural teen feito para a TV, porém superior aos seus longas iniciais. Com o pé o chão, em 2012, o diretor viria com outra pérola, Storage 24, sem a ousadia no enredo de seus filmes anteriores. Há algum suspense e claustrofobia, numa produção ainda com a assinatura de uma carreira rasa. Mais quatro anos de estudos, até o lançamento de seu trabalho mais conhecido, Do Outro Lado da Porta, de 2016, com Sarah Wayne Callies e Jeremy Sisto. Quando vi o nome do diretor nos créditos e alguns infernautas demonstrando interesse pelo trailer, já anunciei em postagens no site que provavelmente seria mais uma bomba! Não foi tão explosiva como eu imaginava, mas ainda assim um filme que poderia se avaliar de maneira justa com apenas duas caveiras, sem motivo para uma passagem pelas telas grandes.
47 Meters Down vinha com o descrédito de uma carreira de desgraças do diretor, apesar de contar com um diferencial em seu press release: a perspectiva de que esse seria o primeiro filme a ter mais de 95% de suas cenas com a câmera submersa! Assim, o interesse por produções experimentais se amplia quando se imagina um ambiente único, praticamente duas personagens em cena, altas doses de claustrofobia, tensão e a ameaça constante de tubarões. As críticas foram bem positivas em suas avaliações iniciais, tanto que o longa, embora lançado em 2016, estava sendo disputado por grandes distribuidoras como a Dimension Films, que, mesmo após entregar screeners e anunciar o lançamento em VOD, acabou vendendo os direitos para a Entertainment Studios, que o levou aos cinemas americanos no dia 16 de junho do ano passado. Até então intitulado In the Deep, nas novas mãos passou a ser conhecido como 47 Meters Down, sem mudanças no corte.
Com orçamento estimado em U$5 milhões e uma conquista nos box offices de 48, 47 Meters Down traz o horror de duas irmãs, Lisa (Mandy Moore) e Kate (Claire Holt), durante a curtição de um feriado no México. Abalada por uma recente separação, Lisa está disposta a viver uma aventura intensa como maneira de abafar o relacionamento tedioso, aceitando a oferta de uns rapazes de experimentar mergulho em uma jaula de proteção contra tubarões. Para não ter problemas com o capitão Taylor (Matthew Modine), elas mentem que possuem experiência com mergulho, e, logo depois de um teste com os rapazes e iscas atiradas ao mar para atrair os animais, elas descem no acessório, sem imaginar que o cabo iria se soltar e largá-las a 47 metros de profundidade.
A comunicação com a embarcação só é possível quando Kate consegue nadar um pouco para cima para avisar que estão vivas. O Capitão anuncia que enviará Javier (Chris J. Johnson) para o resgate, pedindo apenas que elas aguardem com segurança na jaula, sem tentar se aventurar para o alto com o perigo do ataque dos tubarões e com a forte pressão, que poderia resultar em delírios e até a morte. Se esperar fosse o único pesar, com a garantia da proteção das grades metálicas, não seria tão complicado, mas elas estão perdendo rapidamente oxigênio de seus tanques, e o encontro posterior com o cadáver devorado de Javier apenas causa ainda mais desespero e a grande perspectiva trágica de que talvez não consigam sair dali.
Johannes Roberts trabalha freneticamente com a câmera sem desperdiçar o espaço escuro e assustador do fim do oceano. Com a dinâmica das tomadas alternadas e contando com a boa atuação das garotas, o enredo que escreveu em parceria de Ernest Riera não perde tempo com melodramas arrastados, dando importância à luta pela sobrevivência. Kate é mais experiente e parece controlar melhor a situação como representação da razão, enquanto Lisa estampa o medo pela possibilidade de não encontrar uma saída desse túmulo submerso. Até mesmo um episódio onírico é justificável pelas condições apresentadas, trazendo um alívio temporário diante do horror apresentado.
Em meio a tantas produções ruins com o Rei dos Mares, assistir a filmes como Águas Rasas e este, ainda inédito por aqui, nos faz acreditar que ainda existem boas ideias quando o tema é o embate Homem x Natureza. E Johannes Roberts é a prova de que devemos sempre apostar na capacidade de evolução dos diretores, sem boicotar nomes em decorrência de experiências ruins. Agora vamos esperar para ver se o diretor vai continuar conduzindo bem seus projetos com o lançamento de Os Estranhos 2, em 2018. Ele já conhece o caminho, falta provar que não é diretor de apenas um único bom filme!
Excelente indicação a qual descobri através do Boca do Inferno. Percebi que 47 Meters Down tem muita influência de The descent (Abismo do Medo). A protagonista está em uma fase depressiva, e o fundo do mar – assim como a profundidade das cavernas no outro – é uma alegoria com a própria depressão desta; assustadora, vazia e com “monstros” habitando. O final também bebe da mesma fonte e, devo dizer, gostei muito do final apresentado neste filme. Em meio a tantas produções de baixa qualidade sobre tubarões, esta foi uma surpresa bastante positiva. Além disso, enfatizo que Abismo do Medo é o meu filme de terror favorito de todos os tempos.
otimo filme
Apenas bom nada demais.
Puta filme, acabei de conferir
Pra mim esse foi o segundo melhor filme que vi ano passado e talvez o melhor de Tubarão já feito desde o do Spielberg. Nota 10.