Darkhunters (2004)

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Darkhunters
Original:Darkhunters
Ano:2004•País:UK
Direção:Johannes Roberts
Roteiro:Johannes Roberts
Produção:Caroline Hancock, Johannes Roberts
Elenco:Dominique Pinon, Susan Paterno, Dan van Husen, Jeff Fahey, Azucena Duran, Tina Barnes, Harold Gasnier, Iya Solodilova, Julianne Watling

Johannes Roberts filmou Darkhunters ao mesmo tempo em que desenvolvia Hellbreeder – O Desconhecido. Suas duas obras que se igualam pelos defeitos técnicos, pelo enredo enfadonho e por um elenco extremamente amador. A concomitância impediu que se pudesse notar uma possível evolução do cineasta, se é que um dia ela iria ganhar a luz do dia. E não é que veio, uma vez que o diretor é o mesmo do recente Resident Evil: Bem-vindo a Raccoon City, que, mesmo não sendo uma obra-prima do gênero, não ofende tanto quanto seus trabalhos iniciais.

Realizado em 2004, Darkhunters é um conto de horror envolvendo anjos e demônios numa batalha por almas, numa história até interessante e que poderia muito bem servir como piloto de uma série de televisão. Em contrapartida ao conceito, o roteiro é fraquíssimo e chato ao extremo, com seu excesso de diálogos e cenas arrastadas e sonolentas, seguindo o ritmo que o diretor já havia apresentado em seu outro filme. Outro ponto negativo merece ser destacado: com o baixo orçamento da produção – de acordo com o IMDB, realizaram o filme inteiro à luz do dia, pois não tinham equipamento noturno – era esperado um trabalho mais sugestivo e não tão explícito, além da estranheza envolvendo um terror sobre demônios acontecendo sem explorar ambientes sombrios. A maquiagem funciona no primeiro momento, quando aceitamos/entendemos os baixos recursos, mas com a aparição em excesso dos monstros, os defeitos técnicos escancaram a falta de qualidade.

O ponto de partida envolve Carol Miller (Susan Paterno) narrando o seu fardo, enquanto a vemos perseguindo uma outra jovem, Georgina (Tina Barnes, que também esteve em Hellbreeder), no interior de um casarão abandonado. Encurralada, a garota quer saber porque está sendo constantemente perseguida, mas Carol não perde tempo para muitas explicações e a mata com o tiro de uma arma calibre doze. Em sua narração, ela pede ao espectador que não a julgue pelo crime antes de saber a verdade sobre sua atitude. Carol diz que fantasmas existem. Eles são almas que, devido a um erro no sistema, não puderam ir nem para o Paraíso ou ao Inferno, tampouco ao Purgatório, tendo que ficarem vagando pela Terra enquanto aguardam o “conserto” dos “darkhunters” – se forem mortas pelos anjos, vão para o Céu; se forem mortas pelos demônios, vão para o Inferno. Carol é uma “darkhunter” do bem. Ela então decide explicar como foi designada a essa missão divina, trazendo à luz um flashback típico do diretor.

Com a mão suja de sangue, Carol entra numa igreja e decide se confessar para um padre. Então, ela começa a contar sua história sobre anjos e demônios e como conseguiu fazer parte dessa disputa. Com o flashback, retornamos cinco anos, e acompanhamos o despertar de um homem, Charlie Jackson (Dominique Pinon, também habituè nos filmes do diretor). Ele acorda para trabalhar, se troca e, quando abre a porta de casa, estranha a quantidade de gatos que o cerca. Os animais insistem em cruzar seu caminho e invadir seu carro, fazendo com que ele se atrase para o serviço. Ao chegar à escola onde trabalha, ele percebe que as pessoas não o estão vendo, já que constantemente o derrubam e o ignoram. Sua imagem no reflexo do espelho do banheiro não está tão nítida, o que o faz perceber que por algum motivo está desaparecendo.

Ao retornar para casa, ainda incomodado pelos gatos, ele descobre que sua esposa também não o está vendo, num terrível pesadelo típico de uma história da série “Além da Imaginação”. Não entendendo a situação, Charlie vê a chegada de um misterioso homem, Barlow (Jeff Fahey, de Psicose 3, O Passageiro do Futuro) , bem vestido e armado. Ele então foge por um parque, enquanto se esquiva dos gatos que também o perseguem.

Longe dali, num hospital psiquiátrico, Carol Miller atende a uma paciente, Isabella (Azucena Duran, mais uma que participou de Hellbreeder, e ainda com o mesmo nome), encontrada abandonada nas ruas da cidade. A jovem conta sua história – que não tem relação nenhuma com a trama, mas merece ser relatada aqui apenas como curiosidade sobrenatural. A paciente diz que há cinco anos (não sei por que sempre cinco anos) sofreu um terrível acidente de carro com seu marido. Ela ficou sem um arranhão, mas o marido ficou completamente desfigurado e entrou em coma. Enquanto aguardava sua recuperação, com as constantes visitas ao hospital, ela acabou se apaixonando pelo médico que cuidava dele. Sem esperança de melhora do marido, Isabella se divorciou dele e se casou com o tal médico. Cinco anos depois, ela estava em casa e recebeu um telefonema do hospital. O atual marido pedia que ela fosse para lá, às pressas, sem dizer o motivo. Enquanto se arrumava, alguém bateu na porta e ela foi atender. Para sua surpresa, era o ex-marido, ainda desfigurado pelo acidente, que estava diante dela. Isabella contou a verdade para ele, pediu desculpas, e disse o quanto sofreu durante anos até encontrar um novo amor. Ele entendeu o ocorrido, mas pediu um beijo de despedida. Isabella o beijou e depois correu ao hospital para ver seu marido. Ao chegar ao local, percebeu que todos a olhavam com estranheza, inclusive seu marido. Ele então explicou o motivo dos olhares curiosos: ela estava desaparecida há cinco anos. Ele se cansou de procurá-la, então decidiu se casar com outra mulher. Isabella contou a ele sobre seu encontro com o ex-marido – que para a jovem, teria ocorrido há apenas algumas horas – e o médico disse que ele está morto há cinco anos e que nunca conseguiu sair do coma…

Após ouvir esse relato, Carol, que curiosamente usa luvas o tempo todo – algo que será explicado mais à frente -, completa seu horário de serviço e vai para casa de carro. No caminho, o veículo quebra numa estrada deserta e ela resolve pedir ajuda a um estranho homem que corre desesperadamente pelo parque: é o tal Charlie Jackson, que ainda foge dos gatos, de Barlow e também de uma estranha criatura encapuzada, que possui dentes horríveis e tem seu rosto coberto por fogo – não se anime, a maquiagem é terrível!

Aos poucos (ênfase na palavra “poucos”), Carol vai descobrindo os mistérios da trama e seu papel nessa batalha em busca de almas. O roteiro utiliza um recurso péssimo para mostrar à jovem e ao público toda essa bagunça de batalha, gatos e “darkhunters”: depois que Charlie mata um gato e foge, a jovem se senta num restaurante com Barlow e conversa durante uns cinco minutos como se fossem amigos, enquanto discutem a relação Paraíso-Inferno-Purgatório e as criaturas que perseguem as tais almas perdidas. Carol descobre que somente ela vê Charlie e os demais fantasmas e que um acidente que teve na infância tem relação com sua missão na Terra.

Quando tinha 8 anos de idade, Carol fora atropelada violentamente por um veículo em alta velocidade, enquanto passeava com um gato que acabara de libertar de uma gaiola. Detalhe: embora os recursos sejam limitados, esse acidente é perfeito. Acho que a atriz foi realmente atropelada na cena, pois não há cortes na filmagem e o impacto é realmente violento. De acordo com a personagem, o atropelamento fez com que a alma dela e do gato se unissem, dando a ela um estranho dom no estilo A Mão do Diabo e Corpo Fechado. Carol não pode encostar as mãos em ninguém sem luvas, pois o toque faz com que ela veja como a pessoa vai morrer. Sinistro, não?

Esse dom de prever a morte faz com que Carol encontre os fantasmas que deve caçar e matar para salvar a alma. Além disso, basta seguir os gatos – animais sagrados entre os egípcios pela sua capacidade de ver fantasmas e guardar a morte – para facilitar ainda mais a busca.

A ideia é realmente boa, mas o roteiro, ao invés de utilizar todos esses recursos para encher a trama de fantasmas e batalhas, prefere mostrar apenas o desfecho da perseguição ao fantasma Charlie. Além disso, acaba não deixando claro se há outros “darkhunters” do bem e por que há demônios com aparência normal – como a de Barlow – e outros com aspecto monstruoso. Por falar em monstros, a aparência de um anjo (que ilustra a capa do filme), cuja função é conduzir a alma ao Paraíso, é realmente bizarra.

Se não bastassem as deficiências em relação ao roteiro, maquiagem e direção, Darkhunters também possui uma trilha sonora completamente irritante e destoada das cenas, com suas batidas technos em momentos de tensão, além do exagero de utilizar músicas incidentais durante todo o filme, como feito erroneamente em Hellbreeder. A composição original pertence à mesma pessoa que roteirizou e dirigiu o filme: Johannes Roberts, um multifacetado de pouca inspiração.

Após sua batalha épica entre anjos e demônios – vamos fingir que foi assim -, ele voltaria a lidar com demônios em seu filme seguinte, desta vez com a presença de Tom Savini. Veremos se desta vez ele acerta o tom!

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

3 thoughts on “Darkhunters (2004)

  • 24/06/2022 em 20:39
    Permalink

    Resident Evil não ofende tanto? Jizuiz, esse cara é um protótipo de Uwe Boll?😂

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    • Avatar photo
      25/06/2022 em 09:31
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      Não achei esse último tão ruim. Não é espetacular, mas fez um fanservice interessante, com muitas referências aos jogos, até mesmo na atmosfera.

      Escolheu mal alguns atores para interpretar dados personagens, além de alguns efeitos estranhos. Mas assisti sem me estressar como acontecera com a franquia do Paul Anderson.

      Abs

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      • 27/06/2022 em 13:16
        Permalink

        Cara, concordo om você, ein, Marcelo. Assisti a primeira vez assim que saiu e não curti muito (como muuuuuita gente). Depois, não assisti mais e agora, que ele está inundando a programação televisiva da HBO, resolvi dar mais uma chance. E não é que é um bom passatempo? Claro que não é nenhuma obra-prima. E ainda mais para mim, que sou extremamente fã dos jogos. Mas faço um paralelo ao primeiro filme da era Anderson: tenho a impressão de que aquele desconhecido da série de games, que nunca ouviu falar de Resident Evil, ao assistir pela primeira vez, pode considerar ambos filmes bons exemplares do gênero.

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