Floresta dos Condenados (2005)

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Floresta dos Condenados
Original:Forest of the Damned
Ano:2005•País:UK
Direção:Johannes Roberts
Roteiro:Johannes Roberts, Joseph London
Produção:Miguel Ruz
Elenco:Tom Savini, Daniel Maclagan, Nicole Petty, Sophie Holland, Richard Cambridge, David Hood, Francesca Kingdon, Steve Hart

Quem acompanha a filmografia atual do diretor Johannes Roberts, com o comando de filmes como Do Outro Lado da Porta (2016), Medo Profundo (2017), Os Estranhos: Caçada Noturna (2018), Medo Profundo: O Segundo Ataque (2019) e o recente Resident Evil: Bem-vindo a Raccoon City, não imagina o nível de suas produções no início da carreira. E não é um início curioso como Within the Woods (1978), de Sam Raimi, ou Trash – Náusea Total (1987), de Peter Jackson, e, sim, aberrações que jamais poderiam figurar na Sétima Arte. Na época em que o Emule era a ferramenta de acesso a pérolas que jamais chegariam a ser lançadas por aqui, lembro de ter visto dois filmes pavorosos e inacreditavelmente ruins.

O primeiro a que tive acesso foi Hellbreeder – O Desconhecido, lançado no mesmo ano de seu outro trabalho, Darkhunters, em 2004. Hellbreeder é sobre um palhaço-demônio-vampiro que assombra Alice (Lyndie Uphill), protagonista de uma produção homônima do diretor, lançada dois anos antes – e que felizmente não tive o desprazer de tê-la visto. Com pesadelos constantes, repetições de cenas, flashbacks, imagens oníricas e mal enquadradas, atuações caseiras, o longa está entre as piores coisas que assisti na vida. Já Darkhunters, apresenta uma batalha de anjos e demônios por almas, mais uma vez mal filmada com efeitos especiais de fundo de quintal e uma irritante trilha sonora eletrônica, usada em momentos inoportunos.

Quando saiu Floresta dos Condenados, já não tive mais interesse de sentir meus olhos sangrarem novamente. Contudo, acabei esbarrando em outros trabalhos de Johannes sem saber que pertenciam a ele. E senti uma certa evolução em seus roteiros e nos aspectos técnicos. Tanto F (2010) como Storage 24 (2012) fazem parte do que podemos chamar de “ruim-comum“. São thrillers com ambientações praticamente únicas, mas que desenvolvem as tramas de maneira menos arrastada e mais próximo do aceitável, permitindo que possamos avaliar o conteúdo até pelo enredo e não pelos aspectos técnicos. Tanto que Storage 24 teve distribuição em DVD e Blu-Ray pela Universal Pictures, além do envolvimento de outras produtoras e distribuidoras. Uma evolução realmente notada. Entre os dois filmes teve um tal de A Fúria de Simuroc (2011), com Stephen Rea no elenco. Mas é assunto para outro momento.

Foi então que resolvi assistir Floresta dos Condenados, curioso por imaginar que este possa ser o primeiro filme da transição aceitável do diretor Johannes Roberts. E ainda mais curioso por saber que o filme traz no elenco Tom Savini, e teve première no Festival de Cannes em 2005 e passagens no cinema no Reino Unido em novembro desse mesmo ano. No mínimo, trata-se de uma produção passível de ser vista, sem bocejos, e que talvez disfarce muito bem suas falhas técnicas. Contudo, apesar dos esforços, muitas delas estão ali bem evidentes.

Começa com um casal se beijando na entrada de uma floresta. As mãos do rapaz passeiam pelo corpo da moça de vestido vermelho (Frances Da Costa), até que elas são interrompidas pela presença de uma garota completamente nua. Hipnotizado pela visitante, o jovem deixa a parceira de lado e se envolve em beijos com a estranha até que esta apresente dentes monstruosos e ataque sua jugular. Na cena seguinte, cinco jovens estão prestes a fazer uma viagem para um “lugarzinho no meio do nada” numa kombi recém-adquirida, apelidada de Juliana (particularmente, acabei rindo dessa denominação). Perdidos na estrada, os irmãos Emilio (Richard Cambridge) e Ally (Sophie Holland), além de Judd (Daniel Maclagan), Molly (Nicole Petty) e Andrew (David Hood), param em um posto de gasolina somente para encontrar um doido (Dan van Husen), que já nos adianta que a floresta tem anjos expulsos do Paraíso e que são mulheres-demônio, e pede que “não olhem nos olhos delas” antes da tradicional fala do Crazy Ralph, de Sexta-Feira 13: “Vocês vão todos morrer.

Pouco depois, com o cochilo de Emilio, o carro acidentalmente atropela a tal mulher do vestido vermelho e fica impedido de continuar, com vazamento de óleo. Eles então se dividem na busca por ajuda: Emilio e a irmã ficam para cuidar da acidentada, enquanto os demais se embrenham pela mata à procura de alguma residência. Quando chegam a uma bifurcação, dividem-se novamente, e Andrew, caminhando solitariamente com um pedaço de madeira como proteção, encontra em um riacho três belas moças nuas se banhando. Ele nem perde tempo, tira as próprias roupas e entra na água, sendo beijado pelas três, como o Machete no trailer falso e em seu primeiro filme.

Judd e Molly encontram uma casa e a invadem para procurar algum telefone que funcione. Com aspecto de abandonada, a moradia possui vários desenhos na parede com representação dos demônios comendo pessoas na floresta. Logo chega o dono, Stephen (Tom Savini), que os prende no porão, sem explicar a razão disso. Após algumas tentativas de fuga, o roteiro de Johannes, com o apoio de Joseph London, deixa a entender que o estranho é basicamente um servo das criaturas, ajudando a alimentá-las. Judd e Molly verão o corpo de Andrew – e um flashback desnecessário irá nos lembrar onde ele estava minutos antes, recebendo beijos no lago – e perceberão que a vida deles corre perigo. Já Emilio e a reclamona da Ally também serão visitados pelas peladonas do mal.

Floresta dos Condenados é ruim como era de se imaginar. Nem o fato dos personagens usarem os primeiros nomes do elenco do Clube dos Cinco ou a presença canastrona de Tom Savini será capaz de salvar a produção da mediocridade. Há até alguns bons efeitos, envolvendo desmembramentos, entranhas à mostra, boca rasgada a dentada, mas a caracterização dos demônios é bastante comum e apelativa. A câmera ainda apresenta falhas de enquadramento – nota-se principalmente na cena do carro em movimento -, alguns closes exagerados e há grandes erros de edição. Johannes parece que finalmente aprendeu a dirigir filmes à noite, algo que não havia acontecido em seus trabalhos anteriores, mas ainda se equivoca na iluminação.

Podemos dizer, sim, que este foi o primeiro passo evolutivo do diretor. Com mais experiência e recursos, aos poucos ele passou a não chamar tanto a atenção para seus defeitos técnicos e permitiu que novos roteiros lhe fossem oferecidos. Seu crescimento acompanhou a escolha de projetos, elenco mais bem conceituado, e mostrou o quanto é importante o aprendizado, a experiência e, principalmente, o investimento.

Em tempo, em 2011 foi anunciado um Floresta dos Condenados 2, dirigido por um tal Ernest Mari, com o retorno dos demônios, interpretados pelas mesmas atrizes, e ambientado numa ilha remota. Existem imagens, pôster e até trailer do filme, mas ele nunca foi lançado. O site IMDB ainda o aponta como “pós-produção“, mesmo onze anos após suas filmagens. Talvez a ruindade tenha impedido que ele seja lançado, embora Johannes Roberts não tenha envolvimento nenhum com a produção.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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