Lixo
Original:Lixo
Ano:2016•País:Brasil Direção:Antônio Augusto Farias Roteiro:Antônio Augusto Farias Produção:Abismal Filmes Elenco:Vanessa Costa, Diogo Navarro, José Mario Pitombo |
Ambientado em – quase – um único ambiente, Lixo, primeiro curta-metragem produzido pela Abismal Filmes, escrito e dirigido pelo baiano Antônio Augusto Farias, aposta na fotografia em preto-e-branco, na chuva que cai o tempo todo do lado de fora e no misterioso monólogo de Sandra (Vanessa Costa) para contar sua história. O roteiro nos mostra a protagonista num cômodo onde sentam à mesa, além dela, um homem que não diz uma única palavra e que segura constantemente um cigarro na mão, além de uma boneca em outra cadeira. Sandra passa então a relatar sua experiência com seu lixo e o mistério que o cerca, conversando com o homem, e por consequência, com o espectador.
Apoiado basicamente na interpretação de Costa e em seu verdadeiro monólogo, Lixo oscila com irregularidade entre um discurso que parece sugerir um filme-denúncia que nunca se concretiza (quando são mencionadas por Sandra estatísticas sobre o descarte de resíduos e gases emanados na atmosfera) e algo de concretamente sinistro que se esconde no lixo físico propriamente dito. Nesse sentido, o texto soa muitas vezes didático e pouco natural. Por exemplo, ao mesmo tempo em que o roteiro tenta naturalizar a fala da personagem ao incluir palavrões e gírias, o recurso entra em contraste quando na mesma frase são expressos termos ditos como todos os “erres” e “esses” no final das palavras, gerando um forte sentimento de artificialidade.
No entanto, o curta até engata a partir dos quatro minutos de metragem, quando enfim decide qual rumo seguir, criando um mistério que nunca se preocupa em revelar, algo que considero positivo. Ou seja, a julgar pelo apuro estético demonstrado, é possível inferir que o resultado do curta-metragem seria muito mais conciso – e eficiente – caso fosse descartado o didatismo dos minutos iniciais.