Mate-me por favor
Original:
Ano:2015•País:Brasil, Argentina Direção:Anita Rocha da Silveira Roteiro:Anita Rocha da Silveira Produção:Vania Catani Elenco:Valentina Herszage, Dora Freind, Julia Roliz, Mari Oliveira, Bernardo Marinho, Vitor Mayer, Laryssa Ayres, Lorena Compareto, Vicente Conde, Gabriel Lara, Matheus Malafaia, Antara Morri. |
Não fossem contemporâneos, seria possível dizer que Corrente do Mal, cult de David Robert Mitchell, ou influenciou, ou foi influenciado por este Mate-me Por Favor, primeiro longa-metragem da carioca Anita Rocha da Silveira, tamanha a semelhança temática e estética entre os dois longas, seja em Detroit ou no Rio de Janeiro. Comparações à parte, é magnífico o surgimento de obras que investem no gênero horror como alegorias para temas ambiciosos ou complexos – ainda mais no cenário nacional – no caso em tela, filmes de passagem à vida adulta travestidos de filmes de mistério.
Com influências claras de David Lynch e do cinema giallo italiano, Mate-me Por Favor tem início assim como tantas obras do gênero: uma bela e jovem mulher sai sozinha de uma festa e caminha sozinha à noite por um terreno baldio na Barra da Tijuca, atitude insalubre seja em filmes ou na vida real. Logo, é claro, a moça será brutalmente atacada por um misterioso assassino. A partir desse momento, o roteiro, também escrito por Anita, foca num grupo de adolescentes colegiais encabeçado por Bia (Valentina Herszage), num mundo aparentemente sem pessoas adultas – mesmo os professores são ouvidos apenas através de dispositivos como alto-falantes – outra escolha acertada da cineasta, e como aquelas jovens encaram a série de assassinatos, enquanto lidam com a mudança de idade, as paixões, disputas, e a apatia do cotidiano.
Construindo um pequeno universo de fascinantes personagens, o elenco é surpreendente e homogeneamente interessante, até mesmo nas pontas, com destaque para a protagonista, a agora global Herszage, então com quinze anos de idade na época das filmagens, que gera empatia mesmo quando se comporta de maneira, digamos, pouco convencional. Ainda contam pontos positivos o fato de que as jovens atrizes e atores se distanciam do padrão convencional de beleza e de corpos encontrados em produtos do gênero, sejam nacionais ou importados, o que causa ainda mais identificação com aquelas pessoas.
Embora existam alguns problemas, notadamente com a mixagem de som (pelo menos a julgar pela versão lançada em DVD) e o ritmo do longa, principalmente nos vários e repetitivos planos que se limitam a mostrar o rosto da protagonista no centro da tela; o filme é um esforço que, mesmo em seu experimentalismo, mais acerta do que erra. A cena final é simbolicamente antológica e mostra que Anita Rocha da Silveira é um nome a ser conferido de perto no nosso cinema, que parece estar mirando em direções cada vez mais plurais.
ÓTIMO
Destaque para excelente Júlia Roliz
O Brasil precisa de mais filmes assim