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Matador Implacável
Original:L'Assassino è Costretto ad Uccidere Ancora
Ano:1975•País:Itália, França
Direção:Luigi Cozzi
Roteiro:Luigi Cozzi, Adriano Bolzoni, Daniele Del Giudice, Patrick Jamain
Produção:Umberto Lenzi, Sergio Gobbi, Giuseppe Tortorella
Elenco:George Hilton, Antoine Saint-John, Cristina Galbó, Alessio Orano, Eduardo Fajardo, Femi Benussi, Tere Velázquez.

O realizador italiano Luigi Cozzi sempre será lembrado por suas incursões bagaceiras no cinema fantástico, como em Star Crash (1978), uma das mais divertidas cópias de “Star Wars”; no absurdo e gore Alien Contamination (1980), subproduto do clássico de Ridley Scott, Alien – O Oitavo Passageiro; e no involuntariamente cômico Hercules 87 (1987), com Lou “Hulk” Ferrigno, pagando um mico mitológico. Cozzi também é lembrado por ser o amigo de Dario Argento, cuja loja em Roma, “Profondo Rosso”, Luigi ajuda a administrar. Sem contar que Cozzi roteirizou o giallo Quatro Moscas sobre Veludo Cinza (1971), que encerraria a ”Trilogia dos Bichos” de Argento. Curiosamente o seu melhor e mais sólido trabalho é um de seus filmes menos visto e lembrado, o thriller hitchcockiano Matador Implacável.

Ao contrário do que muito rotulam, Matador Implacável, título genérico para o original italiano “L’Assassino è Costretto ad Uccidere Ancora” ou “O Assassino é Forçado a Matar Novamente” (o título em inglês mais conhecido é “The Killer Must Kill Again”), não é um giallo convencional, antes é um suspense nos moldes eternizados por Alfred Hitchcock.

Aqui temos Giorgio (o galã uruguaio George Hilton), um cafajeste adúltero que precisa se livrar da esposa Norma (a bela mexicana Tere Velázquez).

Numa noite, saindo de uma cabine telefônica à beira-mar, Giorgio vê um homem misterioso jogar um carro com o cadáver de uma moça nas águas do cais. É a oportunidade para o folgado playboy se livrar de sua esposa, convencendo, através de chantagem, o taciturno assassino (interpretação marcante do francês Antoine Saint-John, aqui creditado como Michel Antoine). O plano é que o assassino, cujo nome não é revelado, dê cabo de norma e suma com o corpo, parecendo assim um sequestro.

Como em Disque M para Matar (1954) de Hitchcock, o assassino vai até a casa do casal para matar a esposa, mas ao contrário do clássico, aqui o criminoso consegue seu intento. Após matar a mulher e guardar seu cadáver no porta malas do carro, o homicida retorna ao interior da casa pra apagar as digitais, é quando acontece realmente a grande virada na trama. Ao voltar pra rua, o homem descobre que roubaram seu carro.

Um casal de jovens inconsequentes, o arrogante Luca (Alessio Orano) e sua namorada, a virginal Laura (a espanhola Cristina Galbó de Não se deve Profanar o Sono dos Mortos (1974) e Internato Derradeiro (1969)), roubaram o carro pra irem até a praia, obviamente sem saberem do conteúdo macabro no porta-malas. O assassino rouba então um outro carro para começar um caçada aos jovens.

Entrementes, Giorgio tenta seguir o script do marido preocupado com o desaparecimento da esposa, enquanto tenta enrolar o inspetor de polícia (o veterano vilão de spaghetti westerns Eduardo Fajardo).

Como se pode notar, Matador Implacável não é um giallo típico por desprezar o elemento de misterioso, o famoso whodunitquem fez isso?”, ao apresentar seu criminoso logo no começo do filme. Segundo o póprio Cozzi já admitiu, aqui ele segui a cartilha hitchcockiana, apresentando todas suas cartas ao espectador, manipulando assim a expectativa do público quanto ao destino dos personagens. Em suma, a quinta essência do suspense.

O roteiro tem alguns furos: como se Norma foi supostamente sequestrada e um carro foi roubado na mesma rua, não é possível a polícia somar os fatos e procurar o carro roubado? E Giorgio, que embora já devesse ter combinado o local do pagamento do suposto sequestro, ele tinha combinado de receber telefonemas do assassino, e fica claro que não recebeu nenhum telefonema. Não seria o suficiente para ligar o sinal vermelho e desconfiar que algo saiu errado e agir com cautela? Apesar destas crateras, o roteiro se redime por ser enxuto e direto, sem perder tempo com firulas.

Com a produção de Umberto Lenzi (aqui creditado como Umberto Linzi), o projeto se chamaria originalmente “Il Ragno” (“A Aranha”), em relação a teia de acontecimentos que envolvem os personagens, mas foi mudado, embora este título curiosamente acabou sendo mantido nos créditos finais. Rodado com baixo orçamento, Cozzi conseguiu criar tensão e atmosfera com parcos recursos. Como no cenário da casa abandonada à beira-mar, onde se dará o encontro do casal com o assassino, um lugar lúgubre, que nos faz lembrar que Cozzi é do métier do cinema de horror. Essas sequências na casa são ajudadas pela trilha de Nando De Luca, que nesse cenário em especial, utiliza o serrote como instrumento musical, o que sempre garante um som fantasmagórico.

Mas o grande mérito do filme é a montagem de Alberto Moro, principalmente em nas cenas onde utiliza a montagem paralela. Na sequência de assassinato da esposa de Giorgio, paralelamente vemos o marido brindando num jantar na casa de amigos, temos os sorrisos e os copos de bebidas alternando com a imagem do assassino estrangulando a sua vítima. A outra sequência é quando Luca resolve trair sua namorada com uma loura que conheceu na beira de estrada (a italiana, veterana do cinema exploitation europeu, Femi Benussi, em papel planejado para a então novata Gloria Guida). Enquanto temos o casal transando no carro, paralelamente a montagem mostra o assassino violentando a virgem Laura, resultando num desconforto.

No elenco George Hilton, então astro de diversos spaghetti westerns e gialli, não tem muito que fazer, fica apenas desfilando em cena com cara de blasé. O filme todo é de dois atores: Antoine Saint-John e Cristina Galbó. Saint-John, magérrimo, com rosto marcante e cadavérico, está sinistro como o homem sem nome, e de passado nebuloso. Quando Giorgio pergunta da moça que ele jogou no mar no começo do filme, o assassino responde com um lacônico “não é da sua conta”, e era isso. Já Cristina Galbó está ótima como a jovem ingênua, que, por influência do namorado, acha que roubar um carro é apenas uma brincadeira.

Matador Implacável deveria ser assistido por aqueles esnobes, que conhecendo apenas as ficções cientificas de Luigi Cozzi, o tratam como um fanfarrão inapto. Aqui temos um eficiente trabalho de manipulação do suspense de Hitchcock, acrescida de alguma violência e tensão sexual, típicas do cinema italiano de baixo orçamento do período. Altamente recomendável.

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