Homem-Aranha no Aranhaverso (2018)

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Homem-Aranha no Aranhaverso
Original:Spider-Man: Into the Spider-Verse
Ano:2018•País:EUA
Direção:Bob Persichetti, Peter Ramsey
Roteiro:Phil Lord, Rodney Rothman
Produção:Avi Arad, Phil Lord, Christopher Miller, Amy Pascal, Christina Steinberg
Elenco:Shameik Moore, Jake Johnson, Hailee Steinfeld, Mahershala Ali, Brian Tyree Henry, Lily Tomlin, Luna Lauren Velez, Zoë Kravitz, John Mulaney, Kimiko Glenn, Nicolas Cage, Kathryn Hahn, Liev Schreiber, Chris Pine

O universo dos quadrinhos é tão rico em personagens e histórias fantásticas que ele até se divide, se recria e se transforma. Muitos heróis e vilões, e isso inclui personagens secundários, morrem e renascem com roupagens e características diferentes, que podem até confundir os novos leitores. No cinema não é diferente: Homem-Aranha, para ser mais específico, já estava em sua terceira versão neste século, cada uma contando novamente como tudo começou e buscando apenas explorar vilões alternativos. Há que prefira o Cabeça de Teia de Tobey Maguire, da trilogia de Sam Raimi; os que preferem Andrew Garfield, nos dois longas de Marc Webb; e até o jovem Tom Holland já tem sua legião de fãs pelo envolvimento com os Vingadores. Com efeitos impressionantes e a capacidade de exploração de situações cada vez mais ousadas, essas adaptações pareciam dispostas a substituir de vez as animações em computador e até mesmo os desenhos animados…mas havia um mundo ainda a ser visitado, conhecido. E este veio de maneira fenomenal com o lançamento de Homem-Aranha no Aranhaverso!

Desde a CCXP 2017, quando foi apresentado o primeiro teaser do projeto, algumas dúvidas pairavam sobre o público jovem: um novo Homem-Aranha? Outro reboot? Os trinta segundos do vídeo surpreendiam pelos detalhes de cores e movimentos e com a descoberta de que o novo herói seria incorporado por um jovem menino negro. O que acontecerá com Tom Holland? Vão reduzir ainda mais a idade do personagem? Em qual HQ eu encontro essa história? Tantos questionamentos sanados a partir da estreia do filme no dia 10 de janeiro de 2019, impressionando público e crítica: o novo Homem-Aranha é simplesmente a melhor versão do personagem já levada para as telas de cinema! Divertido, metalinguístico, engraçado, com cenas de ação envolventes, personagens incríveis, extremamente criativo!

Desde o logo inicial, que já brinca com os multi-universos, o longa mostra a que veio, ao apresentar um desabafo hilário do Homem-Aranha numa análise de sua própria trajetória. O público então conhece Miles Morales (na voz de Shameik Moore), um garoto que viveu um bom tempo no subúrbio do Brooklyn, mas teve que se mudar, devido ao dinheiro conseguido numa aposta da loteria, o que o afastou dos amigos de sua antiga escola pública. No novo colégio – dos engomadinhos -, ele sofre com os excessos de atividades propostas e a falta de interação com os novos colegas, embora tenha conseguido uma curiosa empatia com a bela estudante Gwanda – como ela se apresenta inicialmente – ou Gwen Stacy (Hailee Steinfeld), um nome já reconhecido pelos íntimos com o herói.

Sem se dar muito bem com o pai, o policial Jefferson Davis (Brian Tyree Henry), Miles só resgata suas origens quando se encontra com o tio Aaron (Mahershala Ali), que o conduz aos subterrâneos da cidade para exercer sua paixão pelo graffiti. É lá que o garoto será picado por uma aranha radioativa e começará a desenvolver seus poderes, conhecendo logo Peter Parker (Jake Johnson), durante um confronto com um monstruoso Duende Verde e ainda com a obrigação de impedir o Rei do Crime (Liev Schreiber) de ativar um aparelho, abastecido de energia quântica, que misturará os universos para trazer uma outra versão de sua amada e falecida Vanessa. Como o trailer já antecipa, Peter Parker será morto no processo, e outros personagens com poderes do Homem-Aranha chegarão para ajudar Miles no combate ao poderoso inimigo.

Além de Miles, que não consegue se adaptar à nova condição, chegam ao local outro Homem-Aranha (Chris Pine), numa versão fora de forma depois de anos de combate ao crime, mas com as melhores piadas do longa; o Homem-Aranha noir (Nicolas Cage) com frases depressivas e em preto e branco; a mangá Peni Parker (Kimiko Glenn), que comanda um robô aranha, que na verdade é seu pai; a versão porquinho, Spider-Ham (John Mulaney); além da própria Gwen Stacy. Todos são conceitos já desenvolvidos em HQs e projetos literários, como a própria ideia do multi-universo e seus personagens. A divertida interação entre eles é que torna tudo ainda mais prazeroso, sem deixar de mencionar a estratégica Tia May (Lily Tomlin) e o grupo de vilões bem caracterizados. Enquanto tentam invadir o laboratório do vilão e roubar dados de seu computador, Miles descobre que possui um poder alternativo, a capacidade de ficar invisível. Uma metáfora bem-vinda, com a mesma força simbólica de outras que despontarão pela produção como aceitar o diferente e até valorizar suas origens.

Assim, esses inúmeros universos se misturam para criar imagens belíssimas, enquanto traz sequências bem realizadas de ação, humor e referências aos quadrinhos. A mais legal acontece quando Miles, após ser picado pela aranha, começa a ler/ouvir seus pensamentos, e a animação traz as falas em balões, como se o espectador estivesse lendo a cena numa revista. E provavelmente essa deve ser a principal intenção dos realizadores, contentar os aficionados pelas páginas da Marvel e os que estão ali por uma produção divertida. Deste modo, tanto os leitores quanto os leigos, mas que curtem as adaptações do personagem, saem do cinema satisfeitos pela produção, numa expectativa de uma futura continuação, devido ao inevitável sucesso.

O que virá a partir de Homem-Aranha no Aranhaverso? Teremos spinoffs com cada um dos personagens vivendo suas próprias aventuras; ou continuações que trarão muito mais do vasto universo dos quadrinhos para as telonas em animações fantásticas e envolventes? Desde que estejamos sempre bem alimentados com produções similares, o meu sentido de aranha acredita que não há como não se divertir com esse resgate maravilhoso, que deve manter, onde quer que esteja, Stan Lee sempre animado!

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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