Conversando com um Serial Killer: Ted Bundy
Original:Conversations with a Killer: The Ted Bundy Tapes
Ano:2019•País:EUA Direção:Joe Berlinger Roteiro:Joe Berlinger Produção:Sara Enright Elenco:Hugh Aynesworth, Bob Keppel, Stephen Michaud, Ted Bundy |
Sempre curti documentários. Nos últimos tempos entrei numa onda de produções sobre crimes, pela curiosidade que os casos me despertavam e para ficar ainda mais abismada com o nível de crueldade humana que existe por aí. Uma espécie de masoquismo? Talvez. Mas essas produções trazem aspectos interessantes, pois fazem um mergulho na mente humana, chegando àquela triste conclusão de que a realidade é bem pior do que qualquer filme ficcional.
A série da vez é a produção da Netflix Conversando com um Serial Killer, que narra a história de Ted Bundy através do testemunho de policiais, advogados, promotores, jornalistas e pessoas de sua convivência, além de contar com gravações em áudio do próprio Bundy analisando seus crimes.
Para quem nunca ouvir falar desse cara, vou dar uma resumida: Theodore Robert Cowell (1946-1989) nasceu no estado de Vermont, nos EUA. Era um garoto introvertido e esquisitão – não se encaixava muito com os outros garotos de sua idade. Quando se muda para cursar psicologia em Seattle, passou por uma nova fase, assumindo um papel de galã, cativando as pessoas com seu charme e eloquência. Até que em 1974 começa a ser associado a uma série de desaparecimento de garotas que estava ocorrendo nos arredores da Universidade de Washington. Seu alcance geográfico se estende e Bundy comete crimes em sete estados americanos (Califórnia, Oregon, Washington, Idaho, Utah, Colorado e Flórida). Não se sabe ao certo o número de garotas que foram assassinadas e violentadas por Bundy, mas, de acordo com o próprio assassino, gira em torno de trinta vítimas. Ted Bundy era necrófilo. Então estuprava suas vítimas, as sufocava e em seguida continuava tendo relações com os corpos mortos.
A gente sabe que existem diversos casos de serial killers americanos e muitos ganham grande repercussão na mídia. Mas o caso de Bundy extrapola qualquer limite midiático por uma série de motivos. Primeiro, porque foi um dos primeiros casos documentados de psicopatas. Os crimes de Ted aconteceram num período com aumento de coberturas televisas, então, mesmo com a lentidão nas investigações devido aos poucos recursos disponíveis, o caso ganhou grande repercussão. Além disso, a personalidade de Ted Bundy chamava a atenção da mídia. Era uma dicotomia a ser explorada. Ele não era um assassino com aparência esquisita e trejeitos impulsivos. Suas atitudes e falas eram friamente calculadas, mas com um tom “jovial e alegre”. Ele gostava de atenção e queria explorar essa oportunidade na mídia para afagar ainda mais seu ego.
Por esses motivos, existe uma aura de “psicopata superstar” em torno de sua personalidade. Uma espécie de romantização macabra sobre quem ele foi. A série tenta quebrar um pouco isso ao mostrar como foram as investigações, o destaque que a mídia dava a ele e também como a sociedade se relacionava com seus crimes.
São quatro episódios de aproximadamente uma hora que tem como cerne as mais de cem horas de gravações feitas pelos jornalistas Stephen Michaud e Hugh Aynesworth. Nessas fitas os jornalistas conversam com Bundy no corredor da morte e pedem para que ele conte sua história e analise os assassinatos em terceira pessoa.
O primeiro episódio demora um pouco para engrenar, já que foca na infância e adolescência de Ted, momentos que não existem muitos registros imagéticos ou pessoas para relatar como era sua personalidade nesse período. Acaba se tornando um capítulo arrastado, mas necessário para entender a dinâmica do que acontecera em seguida.
Os outros três episódios são completos e exploram bastante a personalidade do assassino. Parece que com o decorrer dos capítulos, qualquer empatia que as testemunhas tinham assim que conheceram Bundy vai se esvaindo quando o contato com ele se estende e sua verdadeira face é revelada. A série adquire um clima ainda mais pesado e os testemunhos tem um ar cansado, como se não aguentassem mais conviver com Ted Bundy.
A direção e roteiro fica por conta de Joe Berlinger, que já é um veterano em documentários do gênero (O Paraíso Perdido: Assassinatos de Crianças em Robin Hood Hill (1996)) e também assina a direção do filme “ficcional” Extremely Wicked, Shockingly Evil, and Vile (2019) baseado na história de Bundy, com Zac Efron na pele do assassino.
Conversando com um Serial Killer: Ted Bundy é um excelente documentário que se constrói através da narrativa do próprio psicopata. Tem um ritmo lento no começo e não mostra tantos detalhes sobre a infância e adolescência do assassino, mas justifica suas escolhas através das gravações em áudio de Bundy e deixa uma sensação amarga no final.