Nightflyers (2018)

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Nightflyers
Original:Nightflyers
Ano:2018•País:EUA
Direção:Andrew McCarthy, Mark Tonderai, M.J. Bassett, Mike Cahill, Maggie Kiley, Nick Murphy, Stefan Schwartz, Damon Thomas
Roteiro:Jeff Buhler, George R.R. Martin, David Schneiderman, Daniel Cerone, Michael Golamco, Amy Louise Johnson, Terry Matalas, Christopher Monfette
Produção:Eoin Egan, Robert Jaffe, Macdara Kelleher
Elenco:Eoin Macken, David Ajala, Jodie Turner-Smith, Angus Sampson, Sam Strike, Maya Eshet, Brían F. O'Byrne, Gretchen Mol, Bronte Carmichael, Miranda Raison

Cruzar a imensidão do espaço numa gigantesca e claustrofóbica nave moderna, com uma equipe de especialistas, em busca de lugares pouco explorados é sempre um convite à diversão. O Cinema, as séries de TV e a Literatura desde sempre souberam despertar alienígenas hostis, veículos ermos com pedidos de ajuda e conflitos internos por trás de painéis luminosos para desenvolver narrativas curiosas e imaginativas. Se grandes autores de Ficção Científica já foram capazes de nos conduzir à viagens espaciais maravilhosas, o que poderia vir de um dos grandes nomes da fantasia atual, responsável pela popular série Game of Thrones? Nascido em 20 de setembro de 1948, George R.R. Martin tem trabalhado com as palavras desde sempre mas só alcançou a TV e o Cinema a partir da década de 80, com destaque para os episódios que escreveu para a segunda versão de Além da Imaginação. Em 1980, veio a publicação da curta novela Nightflyers, que depois viria a ser expandida no ano seguinte, ganhando uma adaptação modesta e obscura em 1987. A realização de uma nova versão seria inevitável, desde que se fizesse jus ao que uma grande produção exigiria, com bons efeitos especiais, um roteiro bem organizado e elenco.

A nova versão de Nightflyers foi anunciada oficialmente em 2016, mas só ganharia corpo a partir de 2017. Devido ao contrato com a HBO, Martin não pode se envolver com a produção, mas recebeu os créditos como autor e produtor executivo. A série teve uma première em dezembro pelo canal SyFy e chegou a Netflix no dia primeiro de fevereiro de 2019, como uma das boas apostas do sistema de streaming. Após conferir os dez episódios da série e estar envolvido em uma trama que bebe de todas as fontes da ficção científica e algumas do horror, a impressão deixada é rasteira: parece que os dez nomes envolvidos com o texto não souberam para onde direcionar a nave, perdidos em subplots típicos de uma produção que um dia almejou alcançar um destino mais distante.

Após uma introdução spoiler, que já traz o destino de uma das principais personagens da série, o espectador fica sabendo que o Planeta Terra, em 2093, estará à beira da extinção. Os recursos naturais já foram demasiadamente explorados, e a população está sendo dizimada por uma terrível doença incurável. A solução para os problemas talvez esteja no espaço, uma vez que o contato com uma raça alienígena parece promissor, seja pela tecnologia ou até mesmo pela indicação de locais habitáveis, desde que uma equipe esteja disposta a uma aproximação. Assim, o Dr. Karl D’Branin (Eoin Macken, de Floresta Maldita, 2016) promove a viagem, deixando a esposa Joy (Zoë Tapper) ainda com a dura lembrança da perda da única filha do casal, Skye (Bronte Carmichael), e acompanha o Capitão Roy Eris (David Ajala, O Destino de Júpiter, 2015), inicialmente só visto através de hologramas, e os demais membros: o condutor Auggie (Auggie), o especialista Rowan (Angus Sampson, de A Maldição da Casa Winchester, 2018, e da franquia Sobrenatural) e a Dra. Agatha (Gretchen Mol), além da organizada Mel (Jodie Turner-Smith, de Demônio de Neon, 2016) e da expert em tecnologia Lommie (Maya Eshet), e muitos outros tripulantes. Para ajudar no objetivo de estabelecer contato com os alienígenas Volcryns, levam a bordo um poderoso e ameaçador telepata, Thale (Sam Strike, de Leatherface, 2017), com a capacidade de ler as mentes e desenvolver ilusões.

O grupo parte na ousada missão, consciente da possibilidade remota de conquista, mas tendo que enfrentar diversos obstáculos pelo caminho. E é aí que o programa de Jeff Buhler começa a demonstrar sua fragilidade. Já pensando numa vida longa ao produto, a série não parte para seu objetivo principal, desenvolvendo pequenas tramas que poderiam ficar de fora, sem causar prejuízo ao resultado final. Entre esses percalços, eles encontram problemas com o indomável Thale; com a mãe do capitão, Cynthia (Josette Simon), que mesmo morta estaria ainda com o controle da nave, lembrando Hal9000 e até Resident Evil; com uma aranha cibernética; uma doença a bordo; e até o encontro com uma nave “religiosa“. Tais situações – e isso inclui as traições, os relacionamentos perdidos e até o ciúmes da máquina – se separam em episódios, quase isolados, ao estilo “monstro da semana” e não servem para absolutamente nada. Talvez funcionasse para uma série longa como os que acompanharam Star Trek e similares, mas não para a proposta aparente de minissérie.

Se a trama e subtramas não despertam o interesse necessário, o roteiro principal parte para as referências. Além das séries já ambientadas no espaço – Star Trek, Battlestar, Perdidos no Espaço… -, há elementos de horror como as que remetem aO Iluminado e até A Cela, como no segmento em que Lommie passeia pela consciência da nave a fim de lidar com Cinthia. A claustrofobia e a capacidade de explorar a mente humana, tanto no poder de Thale, quanto no de Cinthia e até pela força alienígena chamada Teke levam os personagens a delírios, encontro com fantasmas e atitudes insanas. Possibilita ao espectador lembrar de O Enigma do Horizonte, imaginando que a viagem não terá um fim tão otimista.

Deve-se ressaltar, no entanto, a boa produção. Elenco bem escolhido, bons efeitos especiais e trilha sonora. Há alguns percalços técnicos evidentes como o exagero de tripulantes que somem e aparecem quando interessa, as toscas luzes piscantes em pleno 2093 e a dificuldade em permitir que o público saiba realmente a extensão da nave, uma vez que os ambientes mostrados se resumem aos mesmos. Também vale um elogio à perturbadora surpresa mostrada no episódio final, com a revelação da angústia de um personagem, em um estado de sofrimento permanente. Ousadias interessantes perdidas em um universo de erros e discreta personalidade.

Com o anúncio do cancelamento de Nightflyers pela Netflix, o veículo espacial ficará temporariamente sem as respostas que buscava. Novas perguntas pairaram pela imensidão estelar, sem que o público saiba até mesmo sobre o destino de alguns personagens. Não se sabe ainda se haverá algum filme complementar ou se o produto terminará como foi mostrado, sem chegar a lugar algum. É uma pena que esta adaptação de George R.R. Martin não tenha o mesmo reinado de sua principal realização…

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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