4.8
(4)

A Mão que Balança o Berço
Original:The Hand That Rocks the Cradle
Ano:1992•País:EUA
Direção:Curtis Hanson
Roteiro:Amanda Silver
Produção:David Madden
Elenco:Annabella Sciorra, Rebecca De Mornay, Matt McCoy, Ernie Hudson, Julianne Moore, Madeline Zima, John de Lancie, Mitchell Laurance, Kevin Skousen

“A mão que balança o berço é a mão que comanda o mundo” (Marlene Craven)

Na galeria das grandes vilãs do cinema, entre nomes como Annie Wilkes (Kathy Bates, de Louca Obsessão, 1990), Alex Forrest (Glenn Close, de Atração Fatal, 1987) e Catherine Tramell (Sharon Stone, de Instinto Fatal, 1992), só para citar as do mesmo período, há um espaço de destaque para Peyton Flanders, num dos grandes momentos da carreira de Rebecca De Mornay. A vingativa babá de A Mão que Balança o Berço foi responsável pelos principais arrepios da década de 90, com uma sedução maligna e inteligente, fria e incômoda. E, mesmo depois de mais de vinte anos de suas ações contra a família Bartel, ela continua provocando sensações perturbadoras no espectador, numa nova leitura desse clássico thriller de Curtis Hanson (Sob a Sombra do Mal, 1990).

Lançado em uma época bastante questionada pelos fãs de horror pela repetição de argumentos e continuações, o filme foi bem recebido principalmente por grande parte dos críticos. Inácio Araújo, da Folha de S.Paulo, escolheu bem as palavras quando definiu o trabalho de Hanson como “um filme de clima: tudo é sacrificado à perfídia da babá, de maneira a criar um ambiente de pânico capaz de contaminar o espectador.” Realmente foi assim mesmo. Na época de seu lançamento nos cinemas brasileiros, era constante presenciar reações curiosas do público, como o aplauso motivado pelo soco de Claire (Annabella Sciorra) no último ato. A plateia esperava uma atitude mais intensa da passiva e ingênua mãe, e a ação resultou num reflexo animado dos espectadores.

No entanto, antes de proferir o golpe que resultaria na tensa sequência final, Claire passou por maus bocados. Assim que descobriu que estava grávida de seu segundo filho, ela foi molestada sexualmente pelo obstetra Dr. Victor Mott (John de Lancie), resolvendo denunciá-lo às mídias para evitar que outras mães sofressem nas mãos maliciosas do médico. Com a acusação, sem emprego e com a carreira condenada, ele optou pelo suicídio, levando a esposa grávida do safado (De Mornay) a perder o filho. Assim, foi a origem da vilã, construída através de duas perdas, disposta a se vingar daquela que acabou com a sua família e tirou tudo o que ela tinha de valor. Durante esse episódio devastador, a família Bartel aceita a contratação do deficiente mental Solomon (Ernie Hudson), inicialmente enviado para construir a cerca, numa alusão a sua futura intenção de protegê-los de qualquer mal.

Seis meses depois, Claire, com o pequeno Joey em casa e precisando voltar a trabalhar, recebe num aparente acaso a babá Peyton. Para conquistar a confiança e o emprego, a babá coloca o brinco que constantemente cai da orelha de Claire no berço e o retira atentamente, como se tivesse evitado que o bebê o engolisse. Assim que é aceita na função, já inicia seu plano de vingança, ora amamentando o bebê, ora causando desconforto na família ao evidenciar uma Claire completamente desequilibrada, que perde documentos do marido e nunca está por perto para proteger o pequeno. Peyton atrai a simpatia da pequena Emma (a estreia de Madeline Zima), ajudando-a a enfrentar um valentão na escolinha e permitindo que assista a um filme de terror na TV, no caso Zumbi, A Legião dos Mortos (1932).

Além de desestabilizar a mãe, Peyton seduz o marido, Michael (Matt McCoy) e o amigo Marty (Kevin Skousen), mas não engana Marlene (Julianne Moore), a melhor amiga de Claire. Criando diversos conflitos, como o de levar à desconfiança de que Solomon possa estar molestando Emma, e a traição de Michael, a babá parece estar sempre à frente de todos, contando com a sorte e algumas coincidências. Em um dos momentos mais dramáticos, ela assassina aquela que poderia estragar seus planos e ainda esvazia as bombinhas de asma de Claire, num duplo golpe que só uma vilã realmente inteligente conseguiria obter êxito.

O roteiro de Amanda Silver (A Relíquia, 1997) não teria o mesmo resultado se não houvesse uma atriz tão talentosa quanto De Mornay. Mesclando frieza e simpatia, com a transformação de seu rosto entre as cenas, ela consegue expressar toda a ira e simpatia de sua personagem de maneira eficaz, como no episódio em que destrói um banheiro ou agride Solomon, ou quando coloca Emma contra a mãe. Não é à toa que sua atuação a tenha levado a diversas indicações, como a de Melhor Atriz no Saturn Award, conquistando os prêmios no MTV Movie Awards e no Cognac Festival du Film Policier.

Com grandes cenas e personagens, A Mão que Balança o Berço ainda mantém sua força narrativa. Faz uma história simples de vingança resultar em situações de roer as unhas, agarrar o assento e levar o espectador a perder o ar, como Claire, diante de uma inimiga tão violenta e sagaz. Vale a pena rever esse belíssimo suspense da década de 90.

O que aconteceu com os envolvidos com A Mão que Balança o Berço?

Com um orçamento estimado em U$11 milhões de dólares, o filme de Curtis Hanson (1945-2016) conquistou oito vezes mais apenas nos EUA. Foi mais um sucesso de sua carreira, que ainda inclui Porky 3 (1983), Uma Janela Suspeita (1987), Sob a Sombra do Mal (1990), O Rio Selvagem (1994), Los Angeles: Cidade Proibida (1997), Garotos Incríveis (2000), 8 Mile: Rua das Ilusões (2002), Bem-vindo ao Jogo (2007) e Tudo Por Um Sonho (2012), seu último filme. Apesar de tantas produções de destaque, Hanson tem no início da carreira o trash de zumbis Evil Town, assinado como Edward Collins.

Ele conseguiu bons elogios com A Mão que Balança o Berço, mas precisou apostar no roteiro da iniciante Amanda Silver. Depois de escrever os passos da vilã Peyton, ela ainda faria o thriller Olho pro Olho (1996), o terror A Relíquia (1997), Planeta dos Macacos: A Origem (2011), Planeta dos Macacos: O Confronto (2014), Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros (2015), No Coração do Mar (2015) e está por trás da segunda continuação de Avatar, com lançamento previsto para 2021, e do live-action Mulan, de Niki Caro, que virá em 2020.

Além da boa combinação entre direção e roteiro, o elenco do filme faz um trabalho excepcional. Todos ali tiveram uma carreira sólida nos cinemas, tanto antes quanto depois de A Mão que Balança o Berço. Deve-se lembrar que temos ali Julianne Moore (com quase cem créditos, com destaque para O Fugitivo, 1993, Jurassic Park II: O Mundo Perdido, 1997, O Grande Lebowski, Psicose, 1998, Magnólia, 1999, Hannibal, 2001, Os Esquecidos, 2004, Ensaio sobre a Cegueira, 2008, entre tantos outros), Annabella Sciorra (quase 70 créditos em sua filmografia, com produções como O Reverso da Fortuna, 1990, Febre da Selva, 1991, Amor Além da Vida, 1998, as séries Família Soprano e Lei & Ordem…), Ernie Hudson (com quase 240 produções, o ator americano fez Os Caça-Fantasmas 1 e 2, 84 e 89,  Leviathan, 1989, O Corvo, 1994, Congo, 1995, O Observador, 2000, Caça-Fantasmas, 2016, além de séries, dublagens etc) e Matt McCoy (109 atuações, entre filmes e séries como Jack Ryan e filmes para a TV).

É claro que Rebecca De Mornay já tinha uma carreira sólida antes de assumir a terrível babá. Estreou no cinema, em 1981, numa pontinha em O Fundo do Coração, de Francis Ford Coppola. Depois seduziria Tom Cruise em Negócio Arriscado, de 1983; estaria no Expresso Para o Inferno (1985); em Os Assassinos da Rua Morgue (1986); na comédia Deu a Louca nas Federais (1988); e em Cortina de Fogo (1991). Com os prêmios de A Mão que Balança o Berço, De Mornay também faria Os Três Mosqueteiros (1993), Nunca Fale com Estranhos (1995), As Bruxas de Salem (2002), Identidade (2003), Os Reis de Dogtown (2005), Penetras Bons de Bico (2005), Dominados Pelo Ódio (2010), 1303 – Apartamento do Mal (2012) e as séries Lúcifer (2016) e Jessica Jones (2018), entre muitos outros trabalhos de destaque.

Já a pequena Emma foi a estreia de Madeline Zima como atriz. Diferente de outros atores e atrizes que fazem um papel importante, depois desaparecem, Zima, nascida em 1985 nos EUA, já possui 69 trabalhos em sua filmografia. Ganhou ainda mais notoriedade com a série The Nanny (1993-1999), que praticamente acompanhou seu crescimento, mas também fez filmes para a TV, participações em programas e séries, e esteve em O Colecionador de Corpos (2009), em Heróis (2009-2010), Californication (2007-2011), Twin Peaks: O Retorno (2017), e por aí vai.

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1 comentário

  1. Um filme excelente!

    Aliás, uma nota aí: Será que o filme teria o mesmo impacto se fosse escrito por um homem?

    Rebecca de Mornay em sua melhor atuação. Uma vilã que até hoje causa arrepios!

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