Marianne (2019)

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Marianne
Original:Marianne
Ano:2019•País:França
Direção:Samuel Bodin
Roteiro:Samuel Bodin, Quoc Dang Tran
Produção:Pascal Breton, Henri Debeurme, Raphaël Rocher, Kristine De Los Santos, Lionel Uzan
Elenco:Victoire Du Bois, Lucie Boujenah, Tiphaine Daviot, Ralph Amoussou, Bellamine Abdelmalek, Alban Lenoir, Mehdi Meskar, Patrick d'Assumçaom Mireille Herbstmeyerm Corinne Valancogne

É possível que Marianne seja o representante de horror da Netflix de 2019, tal qual A Maldição da Residência Hill fez em 2018 – na comparação, o trabalho de Mike Flanagan afoga facilmente a escritora Emma Larsimon (Victoire Du Bois) nas águas negras do farol de Elden. Ainda assim, há muita qualidade no enredo divertido, co-escrito por Samuel Bodin e Quoc Dang Tran, que não se sentem acanhados de trazer referências ao que o cinema de horror tem feito em sua história. É possível que o infernauta sinta altas doses de arrepios, se conseguir se envolver com os personagens e optar por conferir a trama durante algumas noites solitárias.

Lançada no sistema de streaming no dia 13 de setembro, a série teve uma boa audiência e despertou a curiosidade sobre uma possível segunda temporada – e até há um fio solto que permitiria essa possibilidade, embora se mostre desnecessário. Marianne foi dirigida por Samuel Bodin, que soube construir uma trama sobrenatural bem dinâmica que envolve bruxaria, mistério, maldição e possessão, em um cenário curto, concentrado em poucos personagens. É claro que se trata de um conteúdo já explorado à exaustão no gênero e traz quase nenhuma novidade, além de apresentar algumas soluções fáceis e uma protagonista que, por vezes, incomoda pelas suas ideias bobas, porém garante um bom entretenimento em seus oito episódios, valendo uma conferida.

Emma é uma autora de sucesso, responsável pela criação da personagem Lizzie Larck no combate à poderosa bruxa Marianne. Durante o lançamento de sua última publicação, com a escritora já demonstrando uma personalidade forte e a língua afiada, ela recebe a visita de Caroline (Aurore Broutin), que há pouco flagrou a mãe, Madame Daugeron (Mireille Herbstmeyer), arrancando os dentes na cozinha numa oferta para Emma. A garota diz que sua insana mãe agora se intitula Marianne, depois mostra ferimentos no corpo, para posteriormente se enforcar ao estilo A Profecia – faltou apenas o “it´s for you“.

Abandonada pelo namorado, devido ao seu vício com a bebida, Emma resolve voltar a sua cidade-natal Elden, levando consigo sua amiga e assessora Camille (Lucie Boujenah), sendo muito mal recebida pelo padre local, que a considera responsável pelas desgraças do passado – algo que o público só entenderá posteriormente. O encontro com a Madame assusta as duas garotas, principalmente quando a provável bruxa diz que ela precisa voltar a escrever até terça-feira ou os pais dela sofrerão as consequências. E é o que acontece, iniciando assim o pesadelo de Emma na compreensão desse mistério que irá afetar não apenas ela e Camille, mas seus amigos da turma do barco – seu amor de juventude Seby (Ralph Amoussou), além de Aurore (Tiphaine Daviot), Tonio (Mehdi Meskar) e Arnaud (Bellamine Abdelmalek).

Para ajudá-la a entender o mal para saber como combatê-lo, Emma tem o apoio do inspetor Raunan (Alban Lenoir), um dos melhor personagens da série, mostrando-se perspicaz, involuntariamente engraçado e destemido. Graças a ele, é possível conhecer o passado de Marianne, numa sequência de imagens muito bem ilustradas e narradas, que dão o tom sombrio e lendário que envolve a maldição promovida pela vilã. Aos poucos, a bruxa mostra sua força que vai além da caracterização incômoda da Madame, mas se mostra presente em pesadelos e na ameaça real, condenando alguns a um encontro final com a entidade.

A partir do episódio 3, a série se torna mais interessante ao explorar a relação entre os personagens e o passado. O quinto, que traz Elden quinze anos antes, é um dos melhores e mais assustadores, contando como a pequena Lucie (Romane Libert) desapareceu e qual a relação disso com a jovem Emma (Luna Lou), e que resultou em seu exílio. Também é interessante os dois momentos em que o grupo faz um ritual de convocação da entidade, resultando em situações aterrorizantes como a possessão da protagonista, no contorcionismo clássico, e também de outros personagens, acontecendo ao mesmo tempo – e isso incluem Camille e o pai de Emma – assim, o enredo resgata a brincadeira do “quem está possuído?“, surpreendendo pela resposta e levitação dos culpados.

Após caracterizar a bruxa como uma entidade poderosa, o próprio enredo falha ao dar dicas sobre como liquidá-la, apresentando uma resposta frágil no episódio final, o mais fraco da temporada. Aliás, o roteiro não explica porque a bruxa precisou de todo esse processo para levar Emma até a cidade, se o seu silêncio já seria capaz de levá-la à produção de mais histórias com a inimiga de Lizzie, uma vez que o convencimento não seria assim tão complicado para alguém que está no auge. Também incomoda algumas situações de humor falhas, principalmente propostas pela protagonista, e que diminuem o impacto sobre o espectador, funcionando como alívios cômicos – ausentes no trabalho de Flanagan.

Com referências aO Exorcista III (cena da tesoura), O Chamado (suicídio de animais, importância do farol e a necessidade que sua vida seja contada) e outras produções do gênero e bons efeitos especiais de maquiagem, Marianne esteve bem próximo de se tornar o destaque do gênero de 2019 da Netflix. Ousada e divertida, a série é bem dirigida, com uma montagem bem legal com o virar das páginas e divisão por capítulos, e tem uma boa trilha sonora, faltando apenas alguns acertos em sua solução final para a bruxa entrar de vez na galeria das assombrações que valem a pena revê-las.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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