O Juízo (2019)

3.3
(3)

O Juízo
Original:
Ano:2019•País:Brasil
Direção:Andrucha Waddington
Roteiro:Fernanda Torres
Produção:Eliana Soárez, Andrucha Waddington
Elenco:Fernanda Montenegro, Lima Duarte, Carol Castro, Felipe Camargo, Fernando Eiras, Criolo, Joaquim Torres Waddington, Kênia Bárbara, Alexandre Varella

Em 1963, o clássico A Mansão da Meia-Noite (House of the Long Shadows), de Pete Walker, colocou numa mesma trama nomes como Vincent Price, Christopher Lee, Peter Cushing e John Carradine, astros de horror da segunda geração, para contar uma história gótica, com elementos de mistério e sobrenatural. Apesar da união grandiosa, há aqueles que sempre questionam se o efeito seria o mesmo se o elenco fosse composto por rostos desconhecidos. Claro que não. Faces de renome são capazes de elevar a avaliação de qualquer produção, ainda que o enredo seja simples ou embebido de situações já vistas anteriormente. No caso de O Juízo, terror nacional que estreou discretamente por aqui no dia 5 de dezembro, o interesse se torna nítido quando você observa na ficha técnica atores brasileiros de excelência como Fernanda Montenegro e Lima Duarte, contracenando com Felipe Camargo e Carol Castro. Embora não sejam astros especializados no gênero, vê-los numa história de fantasmas é sempre gratificante.

Tanto que o enredo parece até não importar. E ainda que haja um esforço de se criar algo interessante, nota-se que a trama, desenvolvida pela sempre bem conceituada Fernanda Torres, não tem uma história que dignifique os envolvidos. É como admirar um quadro pela paleta de cores, mesmo que, no todo, seja apenas uma tela como qualquer outra – e ainda assim, você não consegue desviar o olhar.

Após um prólogo no período da escravidão, o enredo traz a chegada de Augusto (Camargo), sua esposa Tereza e o filho Marinho (Joaquim Torres Waddington) a uma fazenda há tempos desocupada. Herança do patriarca, os intentos envolvem a estadia no local por apenas um ano, pensando nas possibilidades de explorar o cultivo, embora fique evidente que nem todos estão ali pelos mesmos propósitos. Depois que Marinho desaparece ao seguir a moça morta no início, ele é encontrado desacordado, tendo em sua mão um diamante. Ao buscar orientação sobre os valores com o velho conhecido Costa Breves (Duarte), que convive com a médium Marta (Montenegro), Augusto torna-se ainda mas obcecado pelo tesouro escondido, perdendo aos poucos a noção sobre o que realmente importa, disposto até mesmo a fazer um sacrifício por um punhado de pedras.

Uma história de vingança sobrenatural, O Juízo não se preocupa em levar o público a saltar na cadeira, como boa parte das produções atuais, e esse é um dos seus principais méritos. É conduzido como um drama familiar, com arrepios discretos, sem precisar caracterizar as assombrações como criaturas esqueléticas ou de palidez mórbida; são vultos que atravessam o cenário com seus propósitos distintos, dialogando com os personagens para estabelecer ainda mais a sensação de loucura do protagonista. Augusto é caracterizado no lugar-comum do gênero, como um ex-alcoólatra, e que será seduzido ao estilo Jack Torrance a retornar para seu vício.

Carol Castro está bem como a esposa que é a última a saber, marcada pela ingenuidade que pode torná-la vítima de um ciclo fantasmagórico; não vale a pena desperdiçar linhas para enaltecer as atuações de Fernanda Montenegro e Lima Duarte, embora sutis e de suma importância. Mas cabem elogios ao cenário, que funciona bem na junção com o contexto histórico, e à fotografia taciturna de Azul Serra.

Bem dirigido pelo experiente Andrucha Waddington (de Eu Tu Eles e Os Penetras), que sabe dar o tratamento diferenciado e adequado a uma produção da Globo Filmes, O Juízo não será lembrado pela trama sobrenatural que envolve ganância e vingança, mas pelo excelente elenco capaz de transformar uma pedra que poderia ser comum em um diamante. Sem isso, são apenas poeiras no garimpo.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

One thought on “O Juízo (2019)

  • 24/12/2019 em 09:19
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    Gostei desse filme, trabalha bem o suspense e a tensão. Nacionais mandando bem nesse gênero.

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