Maria e João: O Conto das Bruxas
Original:Gretel & Hansel
Ano:2020•País:Canadá, Irlanda, EUA, África do Sul Direção:Oz Perkins Roteiro:Rob Hayes Produção:Fred Berger, Brian Kavanaugh-Jones Elenco:Sophia Lillis, Samuel Leakey, Charles Babalola, Alice Krige, Jessica De Gouw, Beatrix Perkins, Ian Kenny, Abdul Alshareef, Manuel Pombo |
Muitas das fábulas e contos infantis tiveram raízes perversas, passando a assumir vestimentas mais fantasiosas para aliviar possíveis traumas nos pequenos. No entanto, o horror muitas vezes as pede de volta para compor enredos sombrios e góticos. É o caso do recém-lançado Maria e João – O Conto das Bruxas, que chegou à tela grande brasileira em 20 de fevereiro, com a proposta de resgatar o outrora tom macabro e permitir algumas doses de arrepios. A primeira boa nova está no comando, a cargo de Oz Perkins, de A Enviada do Mal (2015) e O Último Capítulo (2016), duas produções que foram elogiadas justamente pelo enredo e atmosfera. Desta vez, a clássica história é ilustrada num filme muito bem produzido, com ótimos efeitos técnicos e fotografia.
Foi em meados de 2018 que surgiu a primeira notícia sobre essa adaptação do folclore alemão. Produzido pela Orion Pictures, as notas já informavam que o longa teria como base um roteiro de Rob Hayes para o comando de Oz Perkins. Brian Kavanaugh-Jones (A Entidade) e Fred Berger (A Autópsia) estariam por trás da produção para já início das filmagens em novembro de 2018, com o protagonismo de Sophia Lillis (de It – A Coisa). Com um orçamento estimado em U$5 milhões, o longa já alcançou U$18, além de uma boa parcela de críticas positivas, o que já está inspirando os realizadores a trabalhar novamente nesse universo em outras adaptações.
As opiniões positivas realmente são bem coerentes, uma vez que Maria e João brilha em cada aspecto técnico, num belíssimo trabalho de fotografia, desenho de produção e figurino. Contudo, apesar da concordar nos elogios ao visual de cores alternadas, nem tudo é passível de merecer palmas, uma vez que o enredo não vai além da sua capacidade imaginativa original e tem um final bem simples e pouco desafiador. Deixa uma boa impressão, que mescla otimismo com uma incrível atmosfera onírica, ampliada pelo bom elenco, principalmente através da interpretação da temível bruxa.
Com uma narração em tom de fábula, o longa começa contando a história da Linda bebê do Capuz Rosa, uma menina que serviu de base para um pacto para livrar o local de uma doença, mas acabou sendo premiada com um estranho e mortal poder. Quando cresce e passa a prever a morte dos moradores locais, a garota passa a ser temida depois que mata o próprio o pai e é deixada solitária na mata. A narrativa, então, apresenta a protagonista, Maria (Lillis) e seu irmão mais novo, João (Sam Leakey), que, depois de perderem o pai, tiveram que buscar meios de sustento como a tentativa da garota de conseguir emprego para descobrir que há lobos na cidade grande. A dificuldade no convívio com a mãe, assombrada pela loucura e a fome, faz com que resolvam adentrar a mata grandiosa à caça de melhores condições.
Tentam abrigar numa casinha na mata e são surpreendidos por uma estranha figura, mas salvos por um caçador (Charles Babalola). Sem alternativas, continuam o percurso até chegar a uma morada, atraídos por um delicioso cheiro de bolo. Não é uma feita de doces, contudo o que notam em seu interior é uma mesa farta que poderia saciar a fome dos dois de maneira absoluta. É ali que mora uma aparente simpática senhora (interpretada de maneira impecável por Alice Krige), que se apresenta como uma pessoa simples, solitária e boa na cozinha, até começar a revelar um lado sombrio e maligno, com intenções cruéis e vorazes.
Com uma trilha discreta e sem jumpscares, o longa deixa evidente que trabalha um enredo conhecido, mas tenta estruturá-lo de maneira diferente, fazendo uso de uma paleta de cores fortes, que justificam as sensações da protagonista. Se acerta nos conflitos do triângulo claustrofóbico e nos elementos sinistros como as pessoas da floresta e a própria, envolta em galhos grandiosos e secos, por outro lado erra ao acrescentar elementos exageradamente fantasiosos como certos poderes a determinada personagem, facilitando suas ações.
Maria e João trabalha o horror como uma sensação incômoda da presença constante do mal. É belíssimo em muitas de suas composições técnicas, mas vale ressaltar a atuação soberba de Alice Krige. Com mais de 100 papéis, a atriz sul-africana conseguiu se destacar em muitas produções como Carruagens de Fogo (1981), Sonâmbulos (1992), Thor: O Mundo Sombrio (2013) e como a Rainha Borg de Jornada nas Estrelas: O Primeiro Contato (1996). Também esteve em O Chamado do Anticristo (2000), Stay Alive: Jogo Mortal (2006), Terror em Silent Hill (2006), O Cativeiro (2008) e Solomon Kane – O Caçador de Demônios (2009)…sempre assumindo papéis como rainhas, vilãs imponentes e personalidades fortes. Nada mais justo que ela assumisse uma Holda bem poderosa e sombria!
Ainda que o roteiro não seja um primor, Maria e João vale o ingresso de cinema, desde que você saiba que não verá simplesmente a transposição de uma versão atualizada de uma famosa fábula, mas uma releitura levemente perturbadora e visualmente magnífica.
Um filme bom
Gostei muito da fotografia, a ambientação e diálogos desse filme, mas o roteiro é muito simplista. A conclusão é muito fraca, acabei esperando demais, quando parece que teremos um clímax na história… ela acaba.