Locke & Key – 1ª Temporada (2020)

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Locke & Key
Original:Locke & Key
Ano:2020•País:Canadá, EUA
Direção:Michael Morris, Vincenzo Natali, Tim Southam, Mark Tonderai, Dawn Wilkinson
Roteiro:Meredith Averill, Carlton Cuse, Joe Hill, Aron Eli Coleite, Gabriel Rodriguez, Elizabeth Ann Phang, Mackenzie Dohr, Andres Fischer-Centeno, Michael D. Fuller, Vanessa Rojas, Brett Treacy, Dan Woodward
Produção:Ra'uf Glasgow, Kevin Lafferty
Elenco:Darby Stanchfield, Connor Jessup, Emilia Jones, Jackson Robert Scott, Petrice Jones, Sherri Saum, Genevieve Kang, Laysla De Oliveira, Hallea Jones, Griffin Gluck, Coby Bird, Bill Heck, Thomas Mitchell Barnet, Aaron Ashmore

Abrir a porta com a chave da imaginação“, no texto de abertura da série Além da Imaginação, de Rod Serling, adquiriu um sentido praticamente literal com Locke & Key, de Joe Hill e Gabriel Rodríguez, quando lançaram em fevereiro de 2008 a primeira HQ “Welcome to Lovecraft“. Com seis publicações de sucesso, nos anos seguintes viriam as demais temporadas com “Head Games“, “Crown of Shadows“, “Keys to the Kingdom“, “Clockworks” e “Alpha & Omega“, concluída em dezembro de 2013, totalizando 37 números iniciais, depois compêndios em capa dura e relançamentos. A boa receptividade dos quadrinhos despertou o interesse da DreamWorks Television, que desenvolveu um piloto em 2011, comandado por Mark Romanek, a partir de um roteiro escrito por Josh Friedman, Alex Kurtzman e Roberto Orci, e estrelado por Sarah Bolger, Jesse McCartney, Miranda Otto e Mark Pellegrino. Houve uma conversa sobre a produção de uma trilogia, mas não foi além desse primeiro filme. E então veio a ideia de lançar uma série de TV.

Em 2016, a IDW Entertainment pensou a respeito, a Hulu pediu um novo piloto em 2017… mas foi a Netflix que assumiu as principais negociações no ano seguinte. Como é de costume da plataforma, a negociação veio em torno da realização de uma temporada, o que é bem mais interessante do que a produção de um episódio inicial. Assim, dos apenas três produtores executivos iniciais – Aron Eli Coleite, Meredith Averill e Rick Jacobs – a produção passou a dezessete, com a cadeira de diretor sendo distribuída entre cinco nomes, cada um com dois episódios, sendo o mais conhecido o de Vincenzo Natali (Cubo, Splice e Campo do Medo). Enfim, a Netflix disponibilizou a primeira temporada inteira, com dez episódios, no dia 7 de fevereiro, conquistando boas críticas e interesse, tanto que já adquiriu os direitos para uma continuidade.

Se há qualidade no material original, por que houve toda essa demora para encontrar seu caminho ideal? Pode-se dizer que o texto se constrói a partir de uma fantasia cheia de possibilidades, mas que precisava de um cuidado especial para a realização de uma adaptação. Para entender a dificuldade, basta lembrar da versão cinematográfica de A Torre Negra, resultando num produto indigno em relação à série de livros, o que comprova que textos ricos precisam de muito esmero, dedicação e respeito. A série Locke & Key é bem feitinha e traduz de maneira aceitável a primeira temporada das HQs, desde que você entenda que verá uma adaptação imaginativa, mais teen e repleta de referências para agradar a todos os públicos.

No prólogo do episódio inicial, “Welcome to Matheson“, de Michael Morris, um estranho, após receber uma estranha ligação, enfia uma chave em seu peito, incendiando a si mesmo e a própria casa. Depois, são apresentados os membros da família Locke – a mãe Nina (Darby Stanchfield) e os filhos Tyler (Connor Jessup), Kinsey (Emilia Jones) e Bode (Jackson Robert Scott) -, em pleno processo de mudança de Seattle para Matheson (optaram por trocar a referência a Lovecraft para a de Richard Matheson) para a mansão Keyhouse, como herança após a morte do pai, Rendell (Bill Heck), pelas mãos do estudante Sam Lesser (Thomas Mitchell Barnet). No local, reencontram o tio Duncan (Aaron Ashmore) e são apresentados à imensa morada, repleta de cômodos e portas.

Enquanto Tyler e Kinsey vão à escola, Bode começa a explorar o ambiente, seguindo os sussurros de uma voz feminina que o leva até um poço, clamando por sua ajuda. O pequeno, então, ouve o chamado de duas chaves, a Anywhere Key (que permite que você vá para qualquer lugar que tenha uma porta) e a Mirror Key (que permite a entrada pelo espelho numa outra dimensão), e entende após um incidente que o ambiente é mágico e permite a realização de coisas extraordinárias. Quando abre o acesso ao espelho, a mãe fica presa num ambiente repleto de reflexos de si, e o Eco, do poço, pede que o menino lhe dê a chave para salvá-la. A moça, interpretada por Laysla De Oliveira (descendente brasileira), escapa do poço, e os filhos são obrigados a uma ação desesperada para tirar Nina daquela dimensão.

Sem que a mãe se lembre do que aconteceu, em Trapper / Keeper, os demais tentam se adaptar à rotina escolar com novos amigos. Tyler começa a se interessar pela nerd Jackie (Genevieve Kang), ao passo que Kinsey, mais introvertida, conhece Scot (Petrice Jones) e seus amigos do Esquadrão Savini (referência ao mestre dos efeitos especiais Tom Savini e que fez uma pontinha nesse episódio), que pretendem fazer um filme de terror. Bode encontra uma nova chave, a Head Key, a que permite acesso à memória, lembranças e até a exclusão de medos. Logo, tanto ele quanto os demais ficam sabendo que os planos da mulher do poço, Dodge, é tentar adquirir as chaves, e uma em especial, e que, por serem herdeiros da mansão, também são os Guardiões delas, tendo que encontrar meio de protegê-las.

Kinsey muda de personalidade ao apagar um medo do passado, no assassinato do pai, e passa a utilizar “seus poderes” com a Music Box Key para se vingar de uma garota da escola. Novas chaves serão encontradas como a Ghost Key e a incendiária Matchstick Key, e o confronto com a vilã pode ter uma relação com o passado do pai, quando um grupo de amigos morreu na exploração de uma caverna, um conhecimento que a vizinha Ellie (Sherri Saum) parece saber. A disputa pelas chaves e a capacidade criativa de cada uma são os principais atrativos de Locke & Key, em um conceito bem interessante e que promove momentos divertidos.

Ainda assim, o roteiro, sob a supervisão de Joe Hill (um dos filhos mais produtivos de Stephen King), não consegue se esquivar de suas falhas. E a principal delas acontece em seu clímax, quando os planos de Dodge se mostram dependentes de várias coincidências narrativas. Só para exemplificar, sem apresentar spoilers, seus intentos envolvem o alcance a uma determinada chave, escondida na memória de Rendell, o que a leva a buscar uma outra sobrevivente da caverna para adquirir o conhecimento necessário com a Head Key. No entanto, ao invés de facilitar o processo, uma vez que possui uma importante chave que altera a fisionomia, para tentar desvendar com um falso amigo onde ela poderia estar na casa, ela opta por uma ação completamente insana, precisando forjar uma morte para ter acesso à chave e à porta. Tudo seria mais facilitado se, com a confiança depositada em dada pessoa, ela só esperasse o momento certo de descobrir o paradeiro da chave ou até mesmo o alcance à porta.

Com o desperdício de Nina, a partir do seu desconhecimento, que a leva numa jornada solitária sem saber o que está acontecendo, a série mantém o infernauta preso ao enredo com bons efeitos especiais, como no passeio do fantasma de Bode – será que na temporada seguinte seguirão a ousadia do texto original? – e um ótimo elenco. Resta saber como irão explorar as demais chaves e os conflitos que acontecerão a partir delas, inspirada na criatividade das HQs e nas diversas mudanças que provavelmente virão na próxima temporada, com novas portas sendo abertas nessa mágica viagem da imaginação.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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