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Bom Dia, Verônica
Original:
Ano:2020•País:Brasil
Direção:José Henrique Fonseca
Roteiro:Carol Garcia, Davi Kolb, Gustavo Bragança, Ilana Casoy, Raphael Montes
Produção:Eduardo Pop, José Henrique Fonseca
Elenco:Tainá Müller, Eduardo Moscovis, Camila Morgado, Antonio Grassi, César Mello, Elisa Volpatto, Adriano Garib, Aline Borges, Silvio Guindane, José Rubens Chachá, Marina Provenzzano

Foi em 2016 que a DarkSide Books publicou o livro Bom Dia, Verônica, de Andrea Killmore – que depois se revelou como um pseudônimo de Ilana Casoy (criminóloga e escritora que já publicou os livros Arquivos Serial Killers e Casos de Família pela editora) e Raphael Montes (O Vilarejo, Uma Mulher no Escuro). Quatro anos depois, no dia primeiro de outubro, a Netflix lançou em seu streaming a adaptação do livro para uma série de oito episódios, marcando esta como a primeira obra de ficção policial nacional a virar uma produção original Netflix.

Ambientada na cidade de São Paulo, a série tem como protagonista a escrivã de polícia Verônica Torres (Tainá Müller), uma mulher cujo senso investigativo é muito maior do que o cargo que ocupa. Logo na primeira cena, já somos servidos de um turbilhão: uma confusão na delegacia termina com o suicídio de Marta Campos, que estava ali para denunciar um golpe que havia levado do homem com quem estava saindo. Desesperançada depois de conversar com o delegado Wilson Carvana (Antonio Grassi), Marta se mata com um tiro na cabeça na frente de Verônica. Após o acontecido, traumatizada, a escrivã insiste com Carvana para que o caso seja investigado, mas tanto ele quanto a investigadora Anita Berlinger (Elisa Volpato) preferem apenas divulgar à imprensa que a mulher estava “perturbada emocionalmente“.

Paralelamente a esses eventos, conhecemos outros dois personagens. Janete Cruz (Camila Morgado) é uma dona de casa que vive um relacionamento abusivo com Cláudio Brandão (Eduardo Moscovis). O primeiro episódio já mostra em algumas cenas um ciclo completo que se repete dentro do casamento: as palavras de conforto do que parece ser um companheiro amoroso; um olhar que faz com que Janete mude de ideia sobre ligar para a irmã, com quem não tem contato há anos; a reação completamente descabida durante um acidente no jantar. E, no final do episódio, descobrimos que essa explosão não é nada comparado a um hábito assassino nutrido por Brandão – que, aliás, é tenente coronel da polícia militar.

Os caminhos de Janete e Verônica se cruzam quando a escrivã dá uma entrevista na TV deixando seu telefone de contato para que mulheres vítimas de qualquer tipo de agressão procurem ajuda. Janete faz uma denúncia e, por medo, tenta voltar atrás, mas desde a primeira ligação Verônica já está decidida a ajudá-la. Assim, a escrivã faz o que pode dentro da polícia para investigar e punir tanto Brandão como o homem que levou Marta ao suicídio.

Bom dia, Verônica não é uma série fácil. Conforme os oito episódios foram passando, mais precisei de pausas pra dar uma respirada, e foi esse mesmo comentário o que ouvi de várias outras mulheres. A série mostra graficamente e sem muito pudor as agressões graves de Brandão contra mulheres desconhecidas, mas, mais interessante e mais próximo da nossa realidade é a forma como são mostradas as microagressões que acontecem com Janete no dia-a-dia e que são invisíveis para quem não está na pele dela. Nós, mulheres, assistimos a essas cenas e sabemos que são comuns, então a preocupação aqui é saber se os homens que assistirem conseguirão se enxergar como Brandão. Como você, homem, trata as mulheres à sua volta? Falo de todas, não só das que são da sua família.

A série ainda faz um bom trabalho ao mostrar a dificuldade que as mulheres têm de denunciar algum tipo de agressão, serem ouvidas e se verem de fato seguras em seguida. A confiança de Tânia (Aline Borges), outra das mulheres que sofreu o golpe do cara do aplicativo, só vem quando Verônica oferece seu apoio às vítimas na televisão, porque só outra mulher teria essa empatia, seria capaz de realmente se colocar no lugar da outra e de fato ajudar. Mas, mesmo essa vontade não é suficiente para ultrapassar a burocracia e as falhas na justiça…

Ao mesmo tempo em que acompanhamos a empatia de Verônica, temos também a personagem oposta. A investigadora Anita é insuportável, faz de tudo para impedir que Verônica se envolva nos casos, minimiza as acusações, pouco se importa com o que as vítimas estão passando. Isso entra como mais um ponto positivo em Bom Dia, Verônica, porque sim, mulheres também podem ser vilãs – não vai ter um monte de feministas criticando o fato de haver uma personagem feminina desgostável na série. É justamente por isso que tanto se fala em diversidade: quanto mais mulheres tanto na frente como atrás das câmeras, maior o espaço para a criação de personalidades diversas, gostáveis e detestáveis, seja qual for o gênero.

Bom Dia, Verônica é uma série pesada, que não hesita em levar às telas problemas muito reais e para os quais não se dá a devida importância, às vezes até de uma forma bem didática. Os desesperos de Marta, Tânia, Janete, Verônica, são os mesmos de alguém que você conhece e nem sabe. A série perde um pouco de sua força no final, quando cria um gancho para uma continuação, mas isso não desmerece em nada uma temporada cativante e necessária. A Netflix ainda não confirmou a sequência, mas, com o sucesso da produção, é seguro esperar por um Boa Tarde, Verônica e um Boa Noite, Verônica, assim como nos livros.

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