| Banda:Holocausto Canibal
Ano:2017•País:Portugal Álbum:Catalepsia Necrótica: Gonorreia Visceral Reanimada Estilo:Splatter Death Metal Selo:Black Hole Productions |
Em fevereiro de 1980 o mundo conheceu uma das obras mais perturbadoras, polêmicas e insanas do cinema, o filme Holocausto Canibal (Italia, Ruggero Deodato), que dispensa apresentações. A obra italiana se tornou um clássico para os adeptos da horripilância nos quatro cantos do mundo e influenciou uma legião de artistas, tanto no cinema quanto na música. Como exemplo, na cidade do Porto (Portugal), em 1997, um grupo de headbangers usou o título do filme italiano para dar nome à banda de splatter death metal que teriam criado. E assim como a obra cinematográfica, o Holocausto Canibal do death metal exala podridão, caos e insanidade.
Catalépsia Necrótica: Gonorreia Visceral Reanimada é o quinto full lenght do Holocausto Canibal e leva esse título estranho porque o lado A do vinil é composto pela regravação do Gonorreia Visceral, primeiro álbum da banda, lançado no ano 2000. Portanto, as primeiras sete faixas do LP são versões “reanimadas” da fase inicial do Holocausto Canibal. Já o lado B do LP traz músicas igualmente reanimadas da primeira fita demo da banda, Opus I, lançada em 1998. Fazendo um breve comparativo entre as versões originais e as regravações de 2017, há um um abismo na diferença de qualidade entre as duas produções, prevalecendo a segunda versão, quebrando o mito de que a original é sempre melhor. Obviamente, saudosismos à parte.
Esse álbum foi lançado em vinil de 12 polegadas pelas gravadoras Chaopshere Recordings (Portugal), Larvae Records (Portugal), Grindscene Records (Reino Unido), No Humano Records (Espanha) e Black Hole Productions (Brasil), com tiragem limitada de 500 cópias. Mesmo com a ascensão a todo vapor das plataformas digitais, a demanda por mídias físicas teve um aumento significativo nos últimos tempos, principalmente no underground. A busca pelo sonzão analógico está cada vez maior e o grupo de colecionadores de material físico só aumenta. E no caso das coleções de death/splatter/gore/grind, Catalépsia Necrótica: Gonorreia Visceral Reanimada é um item essencial.
Há quem diga que a subjetividade deve prevalecer sobre o explícito quando o assunto é terror, mas definitivamente essa linha de pensamento não se aplica no encarte desse disco. A arte do encarte interno é formada por um mosaico de fotos sanguinárias que escancaram a podridão humana em diversas formas. Se fosse possível um impresso exalar odor, esse encarte certamente exalaria um misto de chorume e carne podre. Porém, apesar da boa qualidade gráfica, as letras das músicas não estão nítidas em meio a tantos elementos, dificultando a leitura em alguns trechos.
Nesse LP o Holocausto Canibal traz um death metal técnico, muito bem executado, porém livre de virtuosismos baratos. O som que o quarteto português proferiu em 2017 apresenta violência e brutalidade de sobra, mas bem equilibradas com a precisão na gravação dos instrumentos. Dessa forma, a banda criou uma obra que cai bem tanto para os adeptos da sujeira do splatter/gore/grind quanto para aqueles que preferem escutar um som brutal bem produzido. Só não é recomendado para quem prefere elementos melódicos e sinfônicos. Se você busca esses elementos em um disco de death metal, mantenha distância da discografia do Holocausto Canibal. A pegada dos caras é outra. O que temos aqui é um splatter grotesco, odioso e sanguinário, digno de fazer sangrar ouvidos desavisados. Destaque para a faixa Antropofagia Auto-Infligida, que alterna blasts ultra rápidos com trechos cadenciados que valorizam o pedal duplo, e para Carnificina Psicopata, maior faixa do disco, uma composição criativa que traz elementos clássicos do bom e velho metal da morte.
A discografia do Holocausto Canibal é composta de 16 títulos, entre demos, compactos e discos cheios, em uma trajetória de quase 25 anos. Esses caras não brincam em serviço. Para os interessados em conhecer um pouco mais do som do Holocausto Canibal além do Catalépsia Necrótica, o disco Sublime Massacre Corpóreo (2002) e o split Morbosa Carnosidade Putrefacta (2005 – com Mixomatosis) são boas opções.