Jakob's Wife
Original:Jakob's Wife
Ano:2021•País:EUA Direção:Travis Stevens Roteiro:Travis Stevens, Kathy Charles, Mark Steensland Produção:Barbara Crampton, Bob Portal, Inderpal Singh, Travis Stevens Elenco:Barbara Crampton, Larry Fessenden, Bonnie Aarons, Nyisha Bell, Sarah Lind, Mark Kelly, Robert Rusler, Jay DeVon Johnson |
Uma das grandes preocupações dos fãs de terror são os lugares-comuns do gênero. Como se imagina que praticamente tudo já fora realizado, você sempre estabelece referências entre obras a partir de características comuns, como se pudesse não existir um novo clássico, uma produção que irá estabelecer imitadores. Nesse ponto, o subgênero vampirismo está bem servido: depois do recente Boys from County Hell, que se conectava a Bram Stoker e vinha com a excelente ideia do sangue que verte das pessoas que estão próximas da criatura, agora chega a vez de Jakob’s Wife, com um conceito bastante curioso, já mostrado no primeiro frame da produção.
Antes de qualquer coisa, é preciso dizer que o trailer pode enganá-lo. A primeira impressão que tive sobre o filme de Travis Stevens (de Garota do Terceiro Andar, 2019) é de que seria uma produção de terror com elementos de humor negro, pelas situações inusitadas apresentadas e que iria pender para um Santa Clarita Diet, porém não é bem a verdade. Trata-se de um filme de vida própria, em uma narrativa fria e séria, e que usa o vampirismo como metáfora para desvios do casamento e religiosidade. E, apesar de não ser um longa de grande orçamento soube ousar em seus efeitos e ainda promove um banho de sangue típico dos clássicos splatters, atualmente não muito visto no gênero.
Anne (a eterna scream queen Barbara Crampton, de Re-Animator, Do Além, Herança Maldita, Você é o Próximo, Ainda Estamos Aqui…) é a infeliz esposa do pastor Jakob (Larry Fessenden, também com uma filmografia recheada de produções de terror como Session 9, a franquia Anoitecer Violento, Os Mortos não Morrem…), que faz o típico marido que dita as regras e que deixou de lado o romantismo e a boa convivência de um casal pelos sermões e obrigações religiosos. E ainda ronca. Sem grandes emoções em sua jornada submissa, ela se empolga pela possibilidade de reencontrar um antigo namorado, Tom Low (Robert Rusler, de Amityville 7: A Nova Geração), em uma fábrica de gim abandonada.
Esse desvio de conduta será maior do que um possível peso na consciência, quando eles tentam investigar o movimento de umas caixas de madeira. Uma figura estranha, e que já havia condenado à longa volta para casa da jovem Amelia (Nyisha Bell), irá mudar drasticamente o comportamento de Anne. A transformação é imediata: de uma mulher incapaz de decidir qualquer coisa, ela passa a ditar regras, gostar mais de si, ainda que precise cuidar de seu novo gosto por sangue. Logo, Jakob irá entender a nova condição de sua esposa, e tentará meios de reverter o processo, talvez com a perspectiva de que matando o Mestre (Bonnie Aarons, que fez A Freira de Invocação do Mal 2) ela possa voltar a ser sua Anne infeliz. Mas será que ela quer?
Além do bom protagonismo de Crampton e Fessenden, o roteiro de Kathy Charles, Mark Steensland e Travis Stevens traz boas ideias. Se a narrativa é por vezes lenta e estranha – não precisaria acompanhar todo o trajeto de Amelia até culminar no ataque -, é interessante a relação que se estabelece com os ratos, não apenas na caracterização das criaturas, mas pela presença constante deles na companhia do Mestre – lembre-se que o mesmo acontece na obra original de Bram Stoker, Drácula. E há a simbologia relacionada às pessoas que estão sempre em igrejas e que justificam a expressão “ratos de igreja“. Mesmo com os recursos limitados e o uso de CGI para os ratos e para muito do sangue usado em cena, esses vampiros-ratos trazem uma aparência interessante, com os olhos vermelhos e os dentes frontais salientes, como já fora feito na concepção de Nosferatu.
Distante de se tornar um clássico, Jakob’s Wife é um bom e divertido filme de terror. Sim, de terror. Há algumas sequências que podem provocar um leve sorriso, como a da garotinha inteligente, mas não são suficientes para tornar o longa uma sátira ao subgênero. Há um conteúdo muito mais eficiente por trás pela representação de um retrato machista e que ainda permeia a nossa sociedade. Funciona como um filme metafórico e bem realizado, sangrento e curioso, e que merece a recomendação.
Curti,só achei que os 30 minutos finais ficou bem arrastado,mas vale a conferida.