El Borbah (2020)

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El Borbah
Original:El Borbah
Ano:2020•País:EUA
Páginas:128• Autor:Charles Burns •Editora: DarkSide Books

Hoje conhecido como um famoso cartunista e consagrado, especialmente, pela premiada graphic novel Black Hole, Charles Burns começou sua carreira desenhando quadrinhos curtos. Almejando ser publicado, teve um lampejo de inspiração ao assistir programas de luta mexicanos e, assim, criar o primeiro personagem que faria ele alcançar esse objetivo. El Borbah – com o nome e alguns traços da personalidade sendo uma homenagem a seu amigo, John Borba – foi o primeiro personagem criado por Burns, sendo logo publicado na revista Raw, de Art Spiegelman (autor de Maus) e também na revista Heavy Metal. A edição da Darkside Books, com tradução de Paulo H. Cecconi, engloba as cinco bizarras aventuras investigativas do peculiar e mal humorado detetive.

Em El Borbah, Burns cria vários contos curtos que homenageiam – sátira também é uma forma de homenagem, afinal – as antigas histórias pulp de detetives, mesclando elementos de ficção científica, fantasia, humor negro e horror. O personagem principal, o qual dá o título à obra, é um detetive egoísta, sarcástico, um tanto arrogante e violento, que trabalha resolvendo casos usando uma máscara de lutador da lucha libre mexicana. El Borbah, que não é dos mais inteligentes ou astutos, está sempre bebendo, fumando ou arranjando confusão antes, durante e depois de ser contratado para resolver algum caso, muitas vezes intimidando os próprios clientes a lhe pagarem adiantado por seus serviços. O motivo das pessoas de fato procurarem por alguém assim para resolverem suas vidas que acaba sendo o real mistério.

As situações em que esse investigador nada comum se coloca são tão excêntricas quanto ele próprio e, é claro, divertidíssimas: começando por Amor Robô, ele se depara com uma escola que age como uma seita onde seus alunos substituem partes de seus corpos por componentes mecânicos. Com um desfecho bem inesperado, é uma primeira impressão e tanto do que vem a seguir. Em Carne Morta, investiga o suicídio de uma mulher que trabalhava na produção de hambúrgueres bovinos e qual a ligação disso com o crescente casos de mortes. Já em A Vida Na Era do Gelo, El Borbah tem que achar o corpo sem vida de um magnata que estava em criogenia, sendo conservado na esperança que um dia a humanidade fosse capaz de realizar ressurreições. Ossos do Ofício lida com o desaparecimento de uma jovem que entrou para uma irmandade esquisita formada por ricaços entediados. Para finalizar, Amor Venenoso mostra Borbah investigando o sumiço de um adolescente rebelde que fugiu de casa. Todas as histórias possuem a mesma coisa em comum: níveis altíssimos de bizarrices aliados a toques de morbidez e humor. Nelas, vamos nos deparar com insanidades que vão desde adultos com suas cabeças ligadas a corpos de bebês a pessoas se achando o novo Messias e querendo repovoar a Terra com um “exército” de filhos concebidos a partir de inseminação artificial.  Como um bom luchador, El Borbah acaba resolvendo (ou saindo) dessas situações pitorescas na base de sua grande força física e sorte.

Tudo aqui é definitivamente divertido: os clichês típicos das histórias de detetives mostrados de forma escrachada e sarcástica, o comportamento machão e violento de El Borbah, que acaba sendo um contraste e às vezes até parte do humor nas esquisitices mostradas, o tom ácido que permeia toda a HQ, desfechos sem noção e coadjuvantes tão absurdos quanto possível.

Tudo é louco e estranho. Pode-se definir a obra, se é que ela se encaixa em qualquer definição, como algo psicodélico e underground, bem típica dos anos 80. Leitores da antiga revista Mad provavelmente vão achar El Borbah uma saudosa diversão por não ter medo de ousar ao inserir elementos nada convencionais ou padronizados, pelo contrário, possui alguns pontos sombrios que acabam se entrelaçando com toda a narrativa ímpar e transformando isso em humor. Por mais esdrúxulo que seja.

A arte também é um ponto que merece ser citado. Com desenhos em preto e branco e traços marcantes, destaca bem as características únicas do detetive e outros personagens.

Os contos, por serem curtos, não possuem grande profundidade e podem parecer um tanto apressados em alguns momentos, mas vale lembrar que era o início de carreira de Burns. Para um trabalho inicial, os objetivos de divertir e entreter foram sem dúvidas cumpridos com maestria. Com certeza El Borbah vai tirar boas risadas, seja pelas situações ridiculamente absurdas ou pela veia cômica presente até mesmo em tramas mais sérias. Não é à toa que, atualmente, Charles Burns é considerado um dos artistas mais importantes da década.

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Louise Minski

Um experimento de Schrödinger entediado.

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