4.1
(12)

Raízes Macabras
Original:The Old Ways
Ano:2020•País:EUA
Direção:Christopher Alender
Roteiro:Marcos Gabriel
Produção:Christa Boarini, T. Justin Ross, David Grove Churchill Viste
Elenco:Brigitte Kali Canales, Andrea cortes, Julia Vera, Sal Lopez

Raízes Macabras é uma daquelas produções “menores” que encontramos no catálogo da Netflix, com grande potencial para se perder entre as centenas de opções de títulos, mas que nos garantem um bom divertimento se pararmos para prestar atenção. O que temos aqui é um típico “filme bom”, que é criativo e bem acabado, e que tenta, sem maiores pretensões, lançar um olhar mais “maduro” sobre o tema possessão demoníaca, sempre se sustentando nos paradigmas clássicos do  gênero terror.

Sob a direção do estadunidense Christopher Alender, Raízes Macabras narra a história de Cristina Lopez (Brigitte Kali Canales), uma jornalista mexicana que retorna à terra de seus ancestrais, em meio às florestas de Veracruz, no México, com o objetivo de produzir um documentário sobre o lugar e as lendas locais. O filme abre com a protagonista sendo, aparentemente, vítima de um sequestro orquestrado por uma antiga curandeira local, que resiste aplicando as “velhas maneiras” (como deveria ser o título brasileiro do filme) na prática de sua arte curativa. Ao que parece, Cristina tem um demônio no corpo que precisa ser exorcizado, mas ela não faz a menor ideia disso.

Aos poucos vamos entendendo a dinâmica entre Cristina e as pessoas que a capturaram. A curandeira Luz (Julia Vera) é uma autoridade local, e trabalha acompanhada de seu filho Javi (Sal Lopes). Temos ainda Miranda (Andrea Cortes), amiga de infância saudosa de Cristina e preocupada com sua integridade espiritual. Cristina é mantida como prisioneira enquanto dura todo o ritual de exorcismo, que passa por diversas etapas.

O grande trunfo de The Old Ways é trazer uma narrativa preocupada com Cristina acima de tudo (e não na destruição do seu corpo pelo demônio que ela parece abrigar). Ao longo das cenas, somos levados a conhecer sua história e sua relação com aquele lugar e aquelas pessoas, com o que a fez partir dali. Adulta e “contaminada” pela “coisa” da cidade grande, Cristina retorna ao lar completamente diferente do que um dia foi, e despreza as crenças e práticas de seus ancestrais. Mas aos poucos, estranhas manifestações começam a estimular sua percepção e sua consciência, e toda sua falta de crença (ou de orientação) é posta em cheque.

Dentro dessa perspectiva, o filme se apresenta de forma bastante organizada, e até sutil (até certo ponto) ao apresentar suas motivações, começando por nos plantar de forma genuína aquela dúvida básica sobre a possibilidade de a possessão demoníaca ser real ou não. Essa tática de “plantar dúvida” é um dos macetes desse subgênero que é bem explorado em alguns filmes. O recente Menendez Part 1: The Day of the Lord, que também é uma produção mexicana da Netflix, é um exemplar onde isso é feito com maestria.

Raízes Macabras é humilde ao não tentar reinventar a roda, e ainda assim, consegue ser um trabalho que não segue a proposta básica dos filmes sobre possessões demoníacas. Tem um roteiro mais polido, e lança um olhar mais tradicionalista, sem grandes arroubos gráficos (ainda que isso se perca por alguns minutos no último ato), e uma dose maior de autorreflexão por parte da protagonista. A curandeira não se chama “Luz” à toa.

A trilha sonora, composta essencialmente por música latina, contribui para o astral diferenciado da narrativa, jogando uma luz especial sobre a dinâmica que se estabelece entre os personagens a partir da segunda metade do filme.

Da mesma forma, roteiro e direção conduzem a dicotomia básica “bem x mal”, tão característica deste subgênero do terror, de forma mais interessante e de fácil assimilação que outras produções semelhantes, principalmente por não diluir a perspectiva em torrentes de mutilações, tortura e monstruosidades em geral. Essa dualidade “bem x mal”, que na nossa realidade imediata se manifesta através do indivíduo na batalha espiritual/moral entre “virtude x vício”, é bem explícita na trama. O filme traz um olhar que pode ser considerado moralista ou conservador (o que é verdade, de certa maneira) sobre as coisas mundanas, mas que também consegue ser poético ao se orientar para o bem e para a liberdade verdadeira, aquela que só experimentamos quando “retornamos para casa” –  ou seja, quando nos (re)encontramos e assumimos quem somos.

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3 Comentários

  1. Eu tento de todas as formas encontrar o nome sa música que toca na primeira parte segunda metade do filme quando Cristina aceita sua “condição”

  2. Pode assistir de noite? kkkkk Ótima dica, já vou adicionar!

  3. Quando assisti o trailer desse filme não coloquei muita fé. Mas agora que li essa critica vou dar uma conferida hj mesmo no filme

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