Arquivo 81
Original:Archive 81
Ano:2022•País:EUA Direção:Rebecca Thomas, Haifaa Al-Mansour, Justin Benson, Aaron Moorhead Roteiro:Helen Leigh, Daniel Powell, Marc Sollinger, Rebecca Sonnenshine, Evan Bleiweiss, Michael Narducci, Paul Harris Boardman, Bobak Esfarjani Produção:Amanda Kay Price Elenco:Mamoudou Athie, Dina Shihabi, Evan Jonigkeit, Julia Chan, Ariana Neal, Matt McGorry, Kate Eastman, Charlie Hudson III, Kristin Griffith, Eden Marryshow, Jacqueline Antaramian, Jaxon Rose Moore, Martin Donovan, Trayce Malachi Trayce Malachi, Sol Miranda |
A primeira boa surpresa de 2022 na Netlix é, sem dúvida, a série de horror e elementos de ficção científica Arquivo 81, desenvolvida por Rebecca Sonnenshine e produzida pelo reconhecido James Wan (de Maligno e Invocação do Mal). Trata-se de uma produção bem realizada, inspirada em um podcast de ficção e teorias, que passeia por diversos elementos que trazem curiosos olhares ao gênero como conspiração, rituais de adoração a uma entidade, travessia por portais interdimensionais, obsessão e mistério. Com direção de Rebecca Thomas, Justin Benson & Aaron Moorhead e Haifaa Al Mansour, chegou à plataforma em 14 de janeiro, sendo bem recebida pelo público e critica e já garantindo a confecção de uma segunda temporada.
Na trama, o restaurador Dan Turner (Mamoudou Athie, de Caixa Preta e Ameaça Profunda) é contratado pelo dono da poderosa L.M.G., Virgil Davenport (o veterano Martin Donovan, de Homem-Formiga), para recuperar fitas de vídeo que trazem registros dos últimos dias do edifício Visser, destruído em um incêndio em 1994. O material – que poderia render um aterrorizante found footage – é guiado pela estudante e curiosa Melody Pendras (Dina Shihabi, de Altered Carbon) em vias de produzir um documentário e dissertação de mestrado sobre o prédio, devido aos acontecimentos trágicos de seu passado e pela curiosidade em descobrir o que aconteceu com sua mãe. Dan, então, é levado a uma casa remota, envolta por uma densa floresta, onde será vigiado 24 horas enquanto realiza a tarefa, com a perspectiva de um bom ganho financeiro, além de respostas.
A cada fita restaurada ele descobre que seu envolvimento no processo está longe de ser por decorrência de seu talento profissional. Contando com o apoio do amigo podcaster Mark (Matt McGorry), Dan guarda nas lembranças uma tragédia da época em que era um garoto, e a explicação para o que aconteceu está diretamente ligada às investigações de Melody. Enquanto entrevista moradores, como a que conhece todo mundo, Jess (Ariana Neal), e se aproxima dos esquisitos Samuel (Evan Jonigkeit) e Cassandra (Kristin Griffith, de O Diabo de Cada Dia), Melody se aprofunda em uma conspiração sinistra, envolvendo uma música perturbadora, no culto Baldung a uma entidade com feições alienígenas intitulada Kaelego, com conexão à passagem de um cometa.
Como se nota, sem a necessidade de trazer detalhes que possam estragar a surpresa do espectador, Arquivo 81 traz inúmeras referências ao gênero. A mais notada talvez seja a trilogia dos apartamentos de Roman Polanski – Repulsa ao Sexo (1965), O Bebê de Rosemary (1968) e O Inquilino (1976) -, pelo conceito de conspiração satanista e moradores com seus segredos obscuros. Mas há muito mais como o recente thriller sul-coreano A Ligação (2020) – no aparente contato entre pessoas de épocas distintas -, na clássica Arquivo X e produções oitentistas na relação com uma gosma preta que traz vício e influência, e acaba atingindo a amiga de Melody, Anabelle (Julia Chan, de A Casa Silenciosa), uma pintora que, obcecada, começa a retratar em seus quadros o rosto de uma mulher do passado na preparação de um sacrifício. Se por um lado esse universo de referências diverte, por outro pode incomodar pela necessidade da obra de se espelhar em (muitos) produtos já conhecidos.
Por ser uma produção que já prepara o terreno para uma continuidade, nem todas as perguntas serão respondidas, o que para muitos também é um ponto negativo. Muitas dessas pontas soltas dão um aspecto de furo ao roteiro, quando se pensa que dadas situações poderiam ser resolvidas de outra forma: o papel de Dan nisso tudo, por exemplo, já permite uns questionamentos iniciados com “e se“. Contudo, deve-se enaltecer a boa produção, a tensão que envolve cada descoberta, e a perspectiva de que a enxerida protagonista consiga encontrar uma fuga de seu fatídico destino – não por uma razão romântica, espera-se, ao estilo A Casa do Lago (2006).
Com um interessante título – o 81, que visto de lado lembra uma fita cassete -, boa produção e episódios movimentados, sempre contando com elementos intrigantes, a série é daquelas que você acaba maratonando sem perceber, apenas pela vontade de investigar o prédio e tentar invadir salas escondidas na casa em busca de arquivos que tragam respostas. Espera-se que a próxima temporada mantenha o ritmo, mas também traga as informações que precisamos para compreender essa rede de mistérios e surpresas, seja com Dan ou Melody.
Já parei o cursor nessa série diversas e ainda não tive coragem de assistir. Vou encarar, então.