Caixa Preta e Mentira Incondicional (2020)

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Caixa Preta
Original:Black Box
Ano:2020•País:EUA
Direção:Emmanuel Osei-Kuffour
Roteiro:Emmanuel Osei-Kuffour, Stephen Herman
Produção:John H. Brister
Elenco:Mamoudou Athie, Phylicia Rashad, Amanda Christine, Tosin Morohunfola, Charmaine Bingwa, Troy James, Han Soto, Andrea Cohen

Mentira Incondicional
Original:Between Earth and Sky / The Lie
Ano:2020•País:EUA
Direção:Veena Sud
Roteiro:Veena Sud, Marcus Seibert, Sebastian Ko
Produção:Jason Blum, Christopher Tricarico
Elenco:Peter Sarsgaard, Mireille Enos, Joey King, Cas Anvar, Patti Kim, Nicholas Lea, Devery Jacobs, Dani Kind

A Blumhouse Pictures é, sem dúvida, umas das produtoras que mais abastecem o gênero horror nos últimos vinte anos. Iniciada em 2009 por Jason Blum, com o propósito de realizar filmes com orçamentos menores, a empresa lançou no mercado franquias como Atividade Paranormal, Sobrenatural, A Entidade, Uma Noite de Crime, A Morte te dá Parabéns e Halloween, além dos filmes Corra!, Nós, Você deveria ter Partido, A Caçada, Upgrade: Atualização, Hush: A Morte Ouve, Fragmentado, Vidro, As Senhoras de Salem, Verdade ou Desafio, Amizade Desfeita, Creep, Amityville: O Despertar, A Visita, Ma….entre muitos outros. Não satisfeita com a produção acelerada, a Blumhouse ainda fez uma parceria com a Amazon Prime para disponibilizar oito filmes comandados por diretores estreantes, numa atitude que segue os passos da extinta 8 Films to Die For, que ainda exibia os longas em um festival anual.

Assim, chegaram este mês a Amazon Prime os quatro primeiros dessa parceria, intitulada Welcome to the Blumhouse. Caixa Preta (Black Box), Mentira Incondicional (The Lie), Mau-Olhado (Evil Eye) e Noturno (Nocturne) compõem a primeira leva e refletem bem a proposta, que envolve enredos simples e que não possuem potencial para as telas de cinema. Caixa Preta, dirigido e roteirizado por Emmanuel Osei-Kuffour, a partir de um argumento de Stephen Herman, apresenta o fotógrafo Nolan (Mamoudou Athie), que, após sofrer um grave acidente que vitimou a esposa, vive com a filha de personalidade forte, Ava (Amanda Christine), e sem qualquer lembrança de seu passado.

Sem emprego, exatamente pelas novas fotos não apresentarem a mesma qualidade, Nolan enxerga em um tratamento alternativo e experimental a chance de recuperar as lembranças. Desenvolvido pela Dra. Lilian ( Phylicia Rashad), trata-se de uma hipnose associada a realidade virtual que mergulha o paciente em suas memórias do passado, para que elas se tornem mais nítidas pela ativação das ondas cerebrais. Contudo, Nolan é conduzido a lugares que não reconhece, seja no casamento ou num episódio em uma casa distinta, sempre interrompido pela aproximação de um homem-torto, uma criatura que, embora se vista como uma pessoa, caminha em movimentos de distorção óssea.

 

Sem enxergar rostos na experiência, mas incentivado pela doutora para que continue, logo ele irá perceber que a verdade parece envolver uma outra entidade, mais agressiva, e que está disposta a ocupar seu lugar. Além da filha, ele é ajudado também pelo amigo Gary (Tosin Morohunfola), que desconfia da natureza do procedimento. Embora não faça sentido algum científico – sabe-se que o cinema fantástico já proporcionou situações ainda mais absurdas -, desde o download de memórias e o modo como elas são apresentadas, Caixa Preta se mostra um bom passatempo, um thriller de ficção para se conferir em um sábado à noite, para os menos exigentes. Destaque para a pequena e madura Ava, que traz os momentos mais interessantes do filme, com atitudes inteligentes e carismáticas.

O segundo longa dessa série da Blumhouse é o dramático Mentira Incondicional, de Veena Sud, com roteiro dela a partir da história “Wir Monster“, de Marcus Seibert e Sebastian Ko. Realizado em 2018, notado pela aparência de Joey King (Slender Man: Pesadelo Sem Rosto e 7 Desejos), o filme não tem elementos de horror, apenas é um bom suspense, que evidencia a mensagem: “o que pais seriam capazes de fazer para proteger seus filhos?“. Na trama, Jay (Peter Sarsgaard, de A Órfã) é pai da adolescente Kayla (King), que não demonstra muito interesse em participar de um retiro com outros jovens. Durante uma carona para a amiga de Kayla, Britney (Devery Jacobs), entre insinuações com segundas intenções da jovem, eles param numa estrada gélida para a garota urinar.

Eis que Jay ouve os gritos da filha e a encontra sentada na proteção de uma ponte, dizendo que empurrou a amiga. Diante desse episódio trágico, ele e a ex-esposa Rebbeca (Mireille Enos) optam por acobertá-la, uma vez que não querem que a filha tenha que responder pelo crime. No entanto, à medida em que tentam enterrar a história, mais eles vão se encrencando com a aproximação do pai de Britney, Sam (Cas Anvar), proporcionando mais mentiras e acusações, com o olhar atento dos detetives Kenji (Patti Kim) e Barnes (Nicholas Lea). Mesmo com todo esse estresse psicológico, com a perseguição de Sam e não sabendo como esconder a verdade, Kayla vive uma mistura de sentimentos, entre não mostrar importância e o abalo.

É claro que o final não chega a surpreender, mas é interessante pela apresentação envolta em humor negro. Com o aspecto de uma peça teatral, com poucos personagens e atuações profundas, Mentira Incondicional conduz todos os personagens ao seu limite, desmascarando personalidades e ampliando suas atitudes de proteção e defesa. É um enredo simples, com uma condução que pende mais para o drama do que para o suspense, sem deixar de ser interessante. É daquelas produções que você será convidado a ir até o final, querendo saber como tudo aquilo irá se findar, sem prejuízos.

Duas boas pedidas do projeto, ainda sem envolver o terror tradicional da Blumhouse, Caixa Preta e Mentira Incondicional estão disponíveis para assinantes do streaming Amazon Prime.

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Marcelo Milici

Professor e crítico de cinema há vinte anos, fundou o site Boca do Inferno, uma das principais referências do gênero fantástico no Brasil. Foi colunista do site Omelete, articulista da revista Amazing e jurado dos festivais Cinefantasy, Espantomania, SP Terror e do sarau da Casa das Rosas. Possui publicações em diversas antologias como “Terra Morta”, Arquivos do Mal”, “Galáxias Ocultas”, “A Hora Morta” e “Insanidade”, além de composições poéticas no livro “A Sociedade dos Poetas Vivos”. É um dos autores da enciclopédia “Medo de Palhaço”, lançado pela editora Évora.

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