Leaving D.C.
Original:Leaving D.C.
Ano:2012•País:EUA Direção:Josh Criss Roteiro:Josh Criss Produção:Josh Criss Elenco:Josh Criss, Karin Crighton, Jeff Manney, Cynthia E. Jones |
Em meio aos seus altos e baixos, o subgênero de terror found footage trouxe mudanças significativas à realização cinematográfica. Por um lado, o estilo diminuiu a necessidade de grandes equipes e orçamentos robustos. Por outro lado, o registro semidocumental borrou as margens entre realidade e ficção, contando histórias capazes de dialogar com nossos medos mais íntimos de maneira mais direta. Apesar dos evidentes problemas narrativos, o terror found footage Leaving D.C. (2012) entrega algumas das principais características do subgênero de maneira eficiente e angustiante.
Escrito e dirigido por Josh Criss (que também acumula as funções de editor, produtor e protagonista), o filme acompanha Mark Klein, um sujeito que viveu por mais de 20 anos em Washington e finalmente realizou o seu sonho de se mudar para uma região remota, longe das pessoas. Diagnosticado com transtorno obsessivo-compulsivo, Mark precisa se manter em constante contato com seu grupo de apoio. Para isso, ele passa a enviar-lhes vídeos diários, nos quais relata a sua rotina na casa nova. A princípio, a sua nova morada parece perfeita. Mas a tranquilidade dura pouco.
Durante a noite, Mark escuta estranhos barulhos do lado de fora do seu quarto. Sem conseguir explicar a origem daqueles sons, ele coloca um gravador na janela durante a noite para, no dia seguinte, poder analisar a gravação e solucionar o mistério. Mas as respostas só geram mais perguntas. Pouco a pouco, a situação começa a se agravar, com sons mais e mais estranhos sendo capturados pelo equipamento. Também não ajuda o fato de Mark ter encontrado o crânio de um gato pregado numa árvore no meio do mato (imagem esta reproduzida no pôster do longa).
Leaving D.C. trabalha com dois medos primordiais do ser humano: o medo do desconhecido e o medo em relação à sua própria segurança. Mark não consegue racionalizar os sons e as imagens capturadas durante a noite. A falta de uma explicação lógica o leva a temer aquilo que habita a floresta. O desconhecido ganha contornos de ameaça ao se unir à possibilidade da invasão domiciliar. Portanto, não é nenhuma surpresa que Mark compre uma arma com intuito de defender a sua propriedade. Também não é surpresa que a arma cause mais mal do que bem.
Embora seja hábil ao abordar essas questões, Leaving D.C. não é isento de problemas. O mais evidente deles é a presença do próprio Criss. Possivelmente resultado do orçamento enxuto (ou inexistente) da produção, a escolha de se colocar diante da câmera cobra o seu preço. As limitações de Criss como ator, já evidentes desde o início, se amplificam à medida que passamos mais tempo com ele em cena. E passamos o tempo todo com ele. Com exceção de uma amiga de Mark que o visita brevemente, e de uma voz no telefone, o resto do filme é todo focado na presença solitária do protagonista.
Igualmente problemática é a justificativa do roteiro para uma mudança no comportamento de Mark no terceiro ato. Ao associar a decisão derradeira do protagonista a um acesso de ciúmes, o longa diminui o impacto do desenvolvimento daquele personagem e da sua lenta descida pela espiral de loucura. Ainda assim, é preciso destacar a decisão acertada – e talvez financeira também – de sugerir muito e mostrar pouco. São raros os momentos nos quais Mark tem uma interação direta com a ameaça, e quando estas interações acontecem, elas não são mostradas.
Com isso, a obra propositalmente deixa lacunas em aberto, convidando o espectador a preenchê-las. Mesmo diante das suas limitações, Leaving D.C. é eficiente na maneira como dialoga com nossos medos mais íntimos. Além disso, o filme é um ótimo exemplo do esforço hercúleo de cineastas independentes que encontraram no found footage uma plataforma para contarem as suas histórias da maneira como era possível.