Terra Assombrada
Original:The Wind
Ano:2018•País:EUA Direção:Emma Tammi Roteiro:Teresa Sutherland Produção:Christopher Alender, David Grove Churchill Viste Elenco:Caitlin Gerard, Julia Goldani Telles, Ashley Zukerman, Dylan McTee, Miles Anderson, Martin C Patterson |
The Wind é uma produção da IFC Midnight travestida de A24. Pode ser que o espectador, mais acostumado aos jumpscares que acompanham muitas das obras do gênero, estabeleça uma conexão com uma atmosfera à la Robert Eggers já nos seus minutos iniciais e decida se afastar de prováveis bocejos, mas aqueles que derem uma chance ao longa de estreia de Emma Tammi pode se beneficiar de boas reflexões sobre tensão pós-parto e desolação psicológica, tal qual admirar as belíssimas fotografias e a constante sensação de insegurança. Pode-se dizer ainda, em prol de uma válida tentativa, que The Wind deve ter servido de inspiração para o tenso The Dark and the Wicked, de Bryan Bertino, embora se saiba que o material original já rendera uma curta carregado em drama e simbolismo.
Escrito por Teresa Sutherland, o tal curta, The Winter, trouxe o convite para a parceria com Tammi. E o resultado satisfatório de The Wind em sua première no Festival de Toronto conduziu a roteirista a um trabalho auxiliar em Missa da Meia-Noite. Nota-se o esmero com que lida com perturbações femininas, sem soar feminista, em um cuidado de observação histórica e reflexo de seu contexto. The Wind se passa no final do século XIX, antes da colonização das Grandes Planícies pelos europeus com precisão no Novo México. As poucas famílias que habitavam o local sentiam a pressão pela dificuldade no cultivo, o que não incentivava o crescimento demográfico. Neste cenário, Lizzy (Caitlin Gerard) tenta costurar as feridas do passado com o marido Isaac (Ashley Zukerman, de Rua do Medo).
Eis que chega à região um outro jovem casal, composto pela intensa Emma (Julia Goldani Telles) e Gideon (Dylan McTee), estabelecendo uma parceria inicialmente produtiva entre os vizinhos. Contudo, as mulheres parecem atormentadas pelas suas próprias condições, provavelmente pela dúbia sensação que uma criança poderia trazer ao núcleo familiar, seja pela dificuldade que envolve a falta de perspectiva se o parto vingar (seja pela fome, pelos infortúnios do plantio ou pela ameaça dos lobos) ou pelo processo de aceitar uma perda para quem já não tem muito. Depois que recebem um estranho folheto de um reverendo local com a descrição de demônios, a mente das mulheres começa a dar sinais de delírio, ou você também pode associar a uma presença maligna que ronda os desertos, sussurrando com os ventos oriundos das pradarias.
Tammi divide sua narrativa em três partes, sem separá-las em capítulos. Começa com o destino trágico de Emma, saltando para o momento em que os vizinhos chegam à região e para, no fim, mostrar como as mulheres foram influenciados pela crença de uma manifestação sobrenatural. As melhores sequências envolvem a solidão de Lizzy no sumiço do marido, perturbada pela aparição fantasmagórica de Emma, das sombras que acompanham o estranho reverendo e a iluminação na casa distante. Terrores que acompanham uma personagem, na ótima atuação de Caitlin Gerard, tomada pela depressão em um crescente demolir psicológico, ampliado por uma descoberta.
Com poucos diálogos e alternâncias temporais, The Wind simboliza o vento como um vaivém de sensações, sendo grande parte delas bem desagradável aos olhares femininos. É um terror atmosférico de duas possibilidades, passível de reflexões, e envolto em pessimismo.
ô mas meu amor, se vc não é capaz de encontrar algo simples sozinho, não adianta de nada vir descontar sua raivinha na caixa de comentários do site, rs.